Nesta segunda-feira começou a maior conferência de captação de recursos da América Latina – o Festival ABCR. Mais de 770 pessoas de 25 estados e do Distrito Federal circularam pelo espaço, visitaram estandes de expositores e acompanharam palestras e plenárias. A edição já fez história: esse foi o maior número de participantes em um único dia do evento.
Na abertura, o diretor-executivo da ABCR, Fernando Nogueira, destacou a programação diversificada com mais de 70 palestras, quatro plenárias e feira de expositores. “Este não é um trabalho que fazemos sozinhos, muitas pessoas possibilitaram que estivéssemos aqui hoje para falar de captação de recursos e sustentabilidade das organizações. A ABCR vive um momento muito frutífero, tivemos a troca de direção e estamos dando continuidade ao trabalho tentando equilibrar o olhar interno sobre o setor e o olhar externo, para a forma como incidimos na sociedade. Queremos um mundo melhor, transformação social e menos desigualdade”, disse.
Membro do Comitê Científico do Festival ABCR 2023, Rachel Carneiro lembrou que o comitê é formado por associados voluntários que fizeram um trabalho cuidadoso para selecionar as palestras da programação. Márcia Woods, presidente da ABCR, fez observações sobre a importância de refletir sobre o contexto atual e da realização do 2º Festival ABCR pós-pandemia. “A mobilização para captar recursos não acontece só da porta para dentro, temos que entender o contexto em que atuamos, as regras que facilitam ou inibem nossa atuação. Temos um novo governo federal, foi decretado o fim da pandemia. Como sociedade civil organizada, demos respostas, mas nos últimos anos, notamos nossas fragilidades”.
A primeira plenária do festival contou com Vivian Fasca, diretora de marketing e captação de recursos do Greenpeace, Cássio França, secretário-geral do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), e Athayde Motta, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Nela, ocorreu o lançamento da Sociedade Viva, uma nova iniciativa liderada por diversas instituições do Terceiro Setor (entre elas, a ABCR) criada para mostrar a importância e o impacto do trabalho das organizações da sociedade civil para a população.
Vivian observou que 65% dos brasileiros já ouviram falar de ONGs, mas o repertório sobre o campo ainda é baixo, especialmente na população de baixa renda, fora do Sul e Sudeste. “A imagem e percepção positiva das OSCs contribui para o fortalecimento institucional e a comunicação com a população é estratégica para a existência das organizações. A ideia é difundir conhecimento sobre a sociedade civil organizada atuante, participante e que fortalece a democracia brasileira. O objetivo é abraçar a pluralidade da sociedade civil organizada com uma linguagem acessível”, afirmou.
“É muito simbólico que esse lançamento aconteça no congresso da ABCR. Isso mostra a importância política dos captadores para a sociedade. Temos que ter um compromisso com a campanha para que ela continue e faça as organizações serem reconhecidas e valorizadas”, concordou Athayde. Cássio França acrescentou que não existe política pública sem a participação potente da sociedade civil.
Uma das palestras do dia foi Gamificação: dê um play na sua campanha, com Bianca Porto, fundadora da Grifa. Nela, Bianca explicou como utilizar técnicas do universo dos jogos para realizar campanhas de captação de recursos e mobilizar mais doações para as organizações. Segundo Bianca, existem quatro pontos principais para elaborar campanhas com gamificação: estabelecer objetivos, regras, desafios e a premiação. Além de ser atrativa, uma das grandes vantagens da gamificação na captação de recursos é que os desafios não são de caráter competitivo e sempre irão beneficiar o setor de impacto social.
No período da tarde, os participantes conferiram palestras sobre territórios diversificados, comunicação estratégica, bazares sociais, neurociência, sustentabilidade financeira, entre outras. Michel Freller e Roberto Lang, da Criando Consultoria, apresentaram um estudo comparativo de custo e benefício de dez estratégias de captação de recursos. A partir de uma pesquisa feita com 31 organizações sociais, os consultores verificaram que elas captaram, juntas, 120 milhões de reais. Dentre as estratégias usadas, o telemarketing foi o que mais gerou captação de recursos em dinheiro, no entanto, foi a que mais demandou investimento.
Já a estratégia de benefícios fiscais foi a que apresentou maior custo benefício “Nesse modelo, cada 5 reais investido trouxe 100 reais captados para a organização”, disse Roberto Lang. Os consultores pontuaram que a estratégia escolhida deve levar em consideração fatores como o porte da organização, quão conhecida ela é, qual o seu relacionamento com a comunidade, o quanto ela pode investir, quais as suas necessidades e o tempo que pode esperar pelo retorno.
Durante o café da tarde aconteceu o lançamento de “Sustentabilidade econômica das organizações da sociedade civil”, escrito por João Paulo Vergueiro, diretor do Hub América Latina e Caribe do GivingTuesday. A obra apresenta temas como fontes de captação de recursos, técnicas de captação, planejamento estratégico, comunicação e prestação de contas.
A programação do dia foi encerrada com um coquetel oferecido aos participantes. Nesta terça-feira teremos o segundo dia de evento com mais plenárias, palestras e lançamento de livro.