Chegamos ao final da série de entrevistas em comemoração aos 25 anos da ABCR e trazemos uma entrevista com a atual presidente, Flavia Lang. Sua trajetória é marcada por uma profunda conexão com a captação de recursos e por contribuições que ajudaram a profissionalizar o setor no Brasil. A seguir, mostramos sua história, reflexões sobre o papel da ABCR e os planos para os próximos anos.
Flavia começou sua carreira em um campo bastante distante do terceiro setor: o mercado financeiro. Formada em administração com ênfase em finanças, trabalhou em uma corretora de valores e tinha um futuro promissor no setor bancário. Contudo, uma tragédia pessoal a fez repensar sua trajetória. “Minha irmã faleceu em um acidente de carro e isso me fez questionar qual era o meu lugar no mundo. Precisava de tempo para respirar, então fui morar nos Estados Unidos, onde aprendi inglês e comecei a reavaliar minha vida e minha carreira”.
Ao retornar ao Brasil, Flavia decidiu que não queria seguir no mercado financeiro. Foi por acaso que se deparou com uma vaga de gerente financeira em uma organização ambiental, que desconhecia tratar-se do Greenpeace. “Quando entrei naquela entrevista, percebi que era diferente de tudo o que eu já tinha visto. Não sabia muito sobre ONGs, mas, ao sair, já tinha decidido: se me chamassem, eu aceitaria. Era um feeling, e assim começou minha história no terceiro setor”.
No Greenpeace, Flavia ocupou inicialmente a posição de gerente financeira, mas logo começou a assumir novas responsabilidades. “De repente, eu estava cuidando também do administrativo, do RH e até do programa de licenciamento. A área de captação estava sem liderança e perguntei se poderia tentar. Não sabia ao certo o que era, mas parecia algo que eu poderia gostar. Foi assim que migrei para a captação, sem experiência, mas com muito entusiasmo”.
A organização apoiou sua formação, enviando-a para treinamentos e eventos internacionais. Flavia rapidamente se destacou. Sob sua liderança, o programa de captação com pessoas físicas cresceu exponencialmente. Foi ali que ela encontrou sua paixão: engajar pessoas e mobilizar recursos para causas transformadoras. “Captação é muito mais do que arrecadar dinheiro. É contar histórias, engajar pessoas e trazer mudanças tanto para as causas quanto para a vida dos doadores”.
Depois do Greenpeace, Flavia continuou sua trajetória no terceiro setor, ocupando posições estratégicas em outras organizações, onde liderou áreas de captação e comunicação, até decidir abrir sua própria agência especializada em captação com pessoas físicas. “Naquela época, o mercado brasileiro ainda estava se estruturando, e poucas pessoas tinham expertise em captação. Minha agência foi pioneira em implementar programas de captação para organizações internacionais que estavam começando no Brasil”.
A história de Flavia com a ABCR começou na primeira edição do Festival ABCR, quando foi convidada por Marcelo Estraviz, então presidente da associação, a liderar a primeira roda de discussão sobre captação com pessoas físicas. “Foi a minha primeira aproximação com a ABCR. Naquele festival, discutimos como engajar doadores de pessoa física, o que era uma abordagem nova para muitas organizações brasileiras.”
A partir desse momento, Flavia iniciou uma relação contínua com a ABCR. Durante 10 anos, liderou o comitê do Festival ABCR de forma voluntária, contribuindo para transformar o evento em um dos mais importantes para o setor. “Minha paixão é formar pessoas e fortalecer o mercado brasileiro de captação de recursos. Trabalhar no Festival era uma forma de contribuir para isso, reunindo profissionais, promovendo aprendizado e inspirando novas ideias”.
Além do Festival, Flavia ocupou diversas funções dentro da ABCR, participando do Conselho Fiscal e liderando grupos de trabalho em diferentes momentos. “Eu sempre me envolvi de maneira ativa. Para mim, a ABCR é um espaço de troca, crescimento e construção coletiva. Por isso, mesmo quando minha agenda estava cheia, eu sempre arranjava tempo para contribuir”.
A ABCR não foi apenas um espaço de contribuição para Flavia, mas também uma fonte de aprendizado e conexão. A relação de Flavia com a ABCR também está alinhada com sua missão pessoal de formar novos profissionais e fortalecer o terceiro setor. “Sempre enxerguei a ABCR como uma plataforma essencial para criar oportunidades de aprendizado e ampliar a rede de captadores no Brasil. É um espaço onde pessoas que trabalham com captação podem se sentir conectadas, inspiradas e apoiadas”, afirma. “Mesmo sendo especialista, eu sempre aprendi muito na ABCR. Nos primeiros festivais, tínhamos poucos profissionais brasileiros, então trazíamos muita gente de fora. Com o tempo, o mercado amadureceu, e hoje temos profissionais nacionais que dão palestras no Brasil e em eventos internacionais. É um reflexo de como o setor cresceu.”
Em 2023, Flavia foi convidada a concorrer a presidência da ABCR. Inicialmente, ela hesitou devido às muitas responsabilidades que já ocupava, incluindo a liderança de sua própria empresa e o papel de cofundadora da Conexão Captadoras, uma rede de mulheres captadoras de recursos. No entanto, ao refletir sobre a importância da ABCR em sua trajetória, decidiu aceitar o desafio.
Após reunir um conselho formado por especialistas em diversas áreas da captação, Flavia assumiu a presidência com o compromisso de fortalecer ainda mais a ABCR e sua comunidade de profissionais. “Nosso conselho é diversificado e estratégico. Cada membro traz um olhar especializado, o que nos permite cobrir todas as áreas da captação de recursos e pensar no desenvolvimento do setor de maneira ampla”.
Sob sua liderança, a entidade tem como prioridade fortalecer os captadores de recursos e ampliar sua base de atuação. “O nosso objetivo é fornecer ferramentas, conhecimento e apoio para que os captadores e captadoras possam exercer sua profissão de forma plena. Quando temos profissionais fortalecidos, todo o terceiro setor se beneficia”. Entre as metas de sua gestão estão o fortalecimento do Festival ABCR, a ampliação das ações de advocacy e a criação de mais oportunidades de formação para profissionais em diferentes níveis de experiência. Flavia também quer promover um reconhecimento maior da captação de recursos como uma profissão essencial. “Meu sonho é que, no futuro, uma criança diga: ‘Eu quero ser captadora de recursos’, assim como dizem que querem ser médicos ou bombeiros”.
Em celebração ao aniversário da ABCR, Flavia deixa uma mensagem para os captadores de recursos: “Tenham orgulho do que vocês fazem. Nossa profissão vai além de arrecadar dinheiro; ela transforma vidas, legítima causas e fortalece organizações. A ABCR está aqui para apoiar vocês, então nunca se sintam sozinhos. Somos uma rede, e juntos somos mais fortes”.
Veja aqui as outras entrevistas feitas para a série ABCR 25 anos