A profissão de captador de recursos engloba uma série de atividades relacionadas à comunicação, negociação, visão estratégica e a conhecimentos técnicos especializados como régua de relacionamento com doadores, CRM, leis de incentivo, leis de voluntariado, Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC) e investimento social privado. Responsáveis por planejar e implementar estratégias para obtenção de recursos financeiros, os captadores devem ter também competências comportamentais: persistência, criatividade, proatividade e inteligência emocional são apenas algumas delas.
Em fevereiro de 2021, a profissão foi oficialmente reconhecida no Brasil e inserida no Código Brasileiro de Ocupações (CBO) pelo Ministério da Economia. A regulamentação ocorreu graças a uma solicitação formal realizada pela ABCR e representa uma conquista para o setor. Com a regulamentação, as organizações da sociedade civil podem registrar o cargo de captadores na carteira de trabalho sem precisar recorrer a outras profissões, como ocorria anteriormente.
“Esse era um desejo nosso quando criamos a Associação há mais de 20 anos. Foi uma alegria enorme saber que isso aconteceu. Quando pensávamos nisso lá atrás, nossa ideia era mostrar que o captador de recursos é uma profissão. Todo esforço para que houvesse esse reconhecimento contribuiu para que isso acontecesse, este é mais um passo para a legitimação dessa profissão”, aponta Marcelo Estraviz, fundador da ABCR e do Instituto Doar.
De acordo com Marcelo, quando se trata do início de uma carreira na captação, há dois perfis de profissionais: jovens e recém-formados e profissionais em transição de carreira. “Vejo dois públicos que estão começando na captação de recursos. Um é recém-formado, jovem. Nesse caso, a recomendação é visitar organizações, ver alguma com que se identifica, aprender muito, ser uma pessoa curiosa e com vontade de aprender do zero. Há outro público, que são pessoas que já trabalharam na iniciativa privada, têm uma carreira e possuem alguns hábitos e maneiras de fazer as coisas”, diz Estraviz.
“A sugestão que eu dou para quem está fazendo uma migração de carreira é ter um pouco mais de paciência, saber que não será do dia para a noite, pois não é como mudar de emprego, é como mudar de planeta. Provavelmente a pessoa não terá as mesmas condições salariais e será uma enorme novidade. Quando comecei a trabalhar no Terceiro Setor, eu me achava um especialista em captação porque tinha trabalhado alguns anos com captação para cultura, mas aprendi muito, comecei do zero”, acrescenta.
A busca pelo aperfeiçoamento não deve ocorrer apenas nesses casos, mas durante todo o percurso profissional. Como em qualquer área, a aprendizagem contínua mantém as pessoas atualizadas e é indispensável para construir uma carreira sólida. Os captadores sempre devem ir atrás de novos conhecimentos para não ficarem para trás e conseguirem atender as necessidades e desejos das organizações.
“O aperfeiçoamento é importante para qualquer profissão, uma pessoa que fica parada no tempo não vai ser útil para onde ela está e nem na própria vida. É preciso sempre buscar conhecimentos, ler muito, mas uma sugestão que dou também é visitar outras organizações, é uma enorme vantagem do nosso setor. Poucas pessoas fazem isso, no Prêmio Melhores ONGs, as organizações ficam muito felizes em ver informações de outras entidades que nem cogitariam saber ou acessar. Além da curiosidade e da busca por informação e conhecimento, tem que existir um momento que parta das ONGs de visitar as outras instituições porque há muito o que aprender com isso”, diz Estraviz.
Sem informações e familiaridade com novos recursos, tecnologias e tendências é difícil conseguir bons resultados e pensar em inovações dentro do setor, especialmente com a velocidade das transformações digitais na contemporaneidade. Se hoje há organizações que embarcam no metaverso – universo virtual que busca reproduzir a realidade através de dispositivos digitais – e utilizam NFTs – ativos digitais únicos e não reproduzíveis que são verificados pela tecnologia de criptografia blockchain – há alguns anos, isso seria inimaginável. Acompanhar inovações como essas faz parte da educação contínua e evita que o captador se torne obsoleto.
O Festival ABCR é uma ótima oportunidade para o aperfeiçoamento de captadores de recursos, pois é o principal espaço de formação, troca de experiências e contatos do Terceiro Setor. A iniciativa ocorre anualmente e é considerada a maior conferência de captação de recursos da América Latina. Em 2022, o evento contou com mais de 40 palestras e cinco eixos temáticos: Gestão e Captação de Recursos, O Papel do Captador, Inovação e Redes de Captação, Comunicação e Engajamento, Ferramentas e Fontes de Captação de Recursos. Mais de 500 pessoas participaram da última edição do evento.
Estraviz faz três recomendações para conseguir resultados positivos na captação: estipular metas, diversificar as fontes de recursos e arrecadar dinheiro não carimbado, evitando que os recursos sejam condicionados a determinados projetos e programas. A variedade de fontes de captação proporciona mais segurança para as organizações, que não ficam reféns de poucos financiadores para desempenharem suas atividades.
“É insustentável focar somente em um tipo de fonte de captação, como captar apenas com empresas. É bom ter empresas, fazer jantar beneficente, captar com indivíduos, fazer quermesse, marketing relacionado a causas. Existem resultados diferentes que aparentemente você não percebe. Um exemplo concreto: você consegue captar 1 milhão de reais com a IBM, mas 100% disso tá carimbado com coisas que você precisa fazer combinadas com a IBM, como formação de 1000 pessoas em algum lugar. Esse dinheiro será gasto integralmente para esse projeto. Isso é bom? É, mas ajudou a organização? Às vezes você consegue 50 mil reais de outra empresa em um jantar beneficente. Esses 50 mil não são carimbados e é possível comprar equipamentos de informática, contratar alguém, realizar reformas”, observa.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas