“Nunca peça a alguém para fazer algo que você não faria”. A orientação é bastante conhecida e, na área de captação de recursos, pode ser traduzida como: “Não peça aos outros para realizarem doações se você não possui esse hábito”. O engajamento de captadores como doadores não serve apenas de exemplo para a sociedade, mas também contribui com o fortalecimento da profissão e, consequentemente, das organizações da sociedade civil.
Os captadores têm comportamentos beneficentes relacionados à sua identidade profissional? Norteada por esse questionamento, uma pesquisa da Indiana University Lilly Family School of Philanthropy com 1600 captadores norte-americanos analisou informações sobre suas doações e voluntariados e descobriu que eles são mais generosos com seu dinheiro e com seu tempo do que o público em geral.
O estudo fez uma série de perguntas sobre escolhas e trajetórias profissionais e constatou que a ética profissional dos captadores de recursos está comprometida com o interesse público e que eles acreditam na própria responsabilidade de serem filantropicamente generosos.
Foi revelado que, em um ano, 98,5% dos captadores realizaram doações, totalizando uma média de US$ 2.359. De acordo com o Estudo do Painel de Filantropia, no mesmo período, 55,4% da população dos Estados Unidos doou uma média de US$ 1.364. Os resultados mostram que os captadores têm uma propensão 80% maior para doações, sendo que suas contribuições foram 73% maiores na comparação com outros públicos.
Quando as doações não são financeiras e se referem à disponibilidade de tempo, as informações ressaltam que 82,9% dos captadores fizeram trabalhos voluntários, uma porcentagem bem mais alta do que o voluntariado de 33,7% da população, segundo o Painel de Estudo de Dinâmica de Renda. Curiosamente, os captadores com menores faixas salariais são mais dispostos ao voluntariado, ao qual dedicam mais horas em relação àqueles com maiores salários.
Legitimidade à profissão e embasamento para planejamentos
Concluiu-se que o hábito da generosidade está profundamente enraizado nos captadores. Isso traz autenticidade à profissão e facilita a criação de procedimentos para a arrecadação de recursos, já que os profissionais sabem como é estar no lugar dos doadores. “Você não pode defender o argumento sem ter a legitimidade dele, não pode pedir para as pessoas sem exercitar a doação. Aprendemos também como as organizações se comunicam, ferramentas de captação, réguas de captação. Isso não significa só doar para uma ONG mensalmente, mas participar de campanhas, eventos, colocar a doação como parte do dia a dia”, salienta o diretor-executivo da ABCR, João Paulo Vergueiro.
No último Dia de Doar, Vergueiro contribuiu com mais de 20 organizações. O diretor vivencia essa realidade desde a juventude graças ao exemplo de seus parentes. “Minha mãe e minha família sempre ajudaram a igreja. Durante a faculdade, fui líder estudantil e comecei a contribuir com causas e a primeira ONG para a qual doei de forma mais recorrente foi o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)”.
Thalita Salgado, diretora de captação e mobilização de recursos da Anistia Internacional Brasil, concorda com Vergueiro. Ela começou a carreira na Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente em 2013 e, desde o início, tornou-se doadora da ONG. “Apoiei a organização financeiramente e também ajudei em eventos e nas atividades voltadas a doadores. Fui passando por outras organizações sempre com esse olhar. Para que eu consiga ser coerente com meu discurso, preciso investir na doação e olhar aquilo a partir dessa perspectiva”, relata.
Na sua lista de beneficiadas, estão organizações que defendem valores em que acredita, como justiça racial, igualdade de gênero, apadrinhamento de crianças e educação. Para ela, quando há engajamento com o auxílio financeiro, existe a compreensão de que o doador é um consumidor, o que abre horizontes para o momento da arrecadação: “A diferença é que o consumo é de uma causa e a contrapartida são as expectativas atendidas dentro daquela pauta de que a gente começa a falar. Por mais que seja uma doação, temos que estabelecer uma relação de cliente e consumidor. Surgem perguntas como: ‘O que posso fazer para fidelizar os clientes para ele se engajar mais? O que eu gostaria que a Anistia estivesse fazendo? Como gostaria que ela se posicionasse?”, finaliza Thalita.
Reúna-se com captadores de todo o país e fique por dentro de todas as novidades da área. O Festival ABCR 2022 acontece nos dias 27 e 28 de junho, no Centro de Convenções Frei Caneca. Faça a sua inscrição.