O jornalista e escritor Johann Hari quer provar no seu livro “Na Fissura – Uma História do Fracasso no Combate às Drogas”, que tudo o que pensamos sobre vício está errado. Entre tantos argumentos, nas mais de 500 páginas da publicação, afirma que o contrário da dependência não é a abstinência, mas, sim, as conexões humanas.
Concordando ou não com sua hipótese, ele apresenta um exemplo, entre muitos, que pode ser relacionado com o trabalho daqueles que precisam engajar pessoas para uma causa. O interessantíssimo Rat Parks, experimento canadense criado por Bruce Alexander ainda na década de 1970.
O tal pesquisador se incomodava com as investigações norte-americanas que colocavam um rato em uma gaiola com acesso a drogas e observavam o animal definhar até a morte. Pois a situação levava a um raciocínio único: o consumo leva à morte e a solução do problema era acabar com as drogas.
Alexander usou o mesmo método, mas em vez de deixar o rato morrer sozinho, liberou o animal viciado em um Rat Park, ou parque de ratos, com outros roedores, além de túneis e bolas coloridas. Percebeu que o dependente parava de usar drogas, apesar de sua irrestrita disposição. Creditou o fato observado à vida em comunidade, à inclusão, à conexão. A gaiola boa o salvou.
O simplismo deste exemplo de Hari pode ser contestado, mas não o poder das conexões. São elas que têm o poder de mobilizar pessoas à causa.
Atraímos, convertemos e fidelizamos doadores. Bolamos dezenas de estratégias para controlar a taxa de atrição. Mas qual é a nossa ação para transformar nossas organizações em um movimento, em uma comunidade?
A empresa global de pesquisa Ipsos, com o apoio do Grupo de Pesquisas Social (GPS), divulgou em junho, durante o Festival ABCR 2018, um estudo sobre como as pessoas veem o terceiro setor. Dentre essa massa de 1.200 entrevistas, em 72 municípios, encontraram 206 doadores, que foram questionados “de que forma ficou sabendo da organização e o que motivou a contribuição?”.
O resultado não poderia ser mais próximo à vida em comunidade: a maioria conhece e apoia organizações por causa de seus amigos (respectivamente 50% e 40 % das respostas). Redes sociais, por exemplo, ficam na finíssima margem de 10% – para mais ou para menos, em ambas as prerrogativas.
Aliás, falando em mídias, os doadores preferem receber informações por Facebook e por Whatsapp, plataformas de conexão de fácil compartilhamento, justamente, aos seus amigos e redes.
Para além do look alike e do boca a boca, pensar em estratégias para que sua base seja um ativo de engajamento, numa lógica peer-to-peer, é um caminho possível. Se as conexões humanas são o contrário do vício, são também a antítese do egoísmo, insensibilidade e falta de empatia.