Em um ambiente de constante evolução na captação de recursos, é fundamental estar à frente das tendências que moldam o cenário das organizações da sociedade civil. Conversamos com especialistas do setor, Gelson Henrique, diretor-executivo da Iniciativa Pipa, Rodrigo Alvarez, cofundador da ABCR e consultor em captação de recursos, Ana Flavia Godoi, fundadora do Conexão Captadoras e consultora em captação de recursos, e Daiane Dultra, consultora em captação de recursos, para destacar suas perspectivas sobre o que acreditam ser as principais tendências da captação de recursos e da filantropia para este ano.
Coletivamente, os especialistas concordam que o ano de 2024 será marcado por inovações significativas na captação de recursos. A convergência da inteligência artificial, a necessidade crescente de personalização nas interações com doadores individuais, e a oportunidade de prosperar por meio do aumento de editais, leis de incentivo e parceria com empresas são tendências amplamente esperadas. As organizações serão desafiadas a adotar abordagens mais estratégicas e criativas para se destacarem em um ambiente cada vez mais dinâmico.
Confira abaixo o que cada um deles indicou como as principais tendências de 2024:
Daiane Dultra apresenta três tendências promissoras. Em primeiro lugar, destaca a integração da inteligência artificial à captação de recursos, utilizando ferramentas e plataformas para produção de conteúdo e gestão de dados. “Todas as ferramentas, todas as plataformas, todos os instrumentos de Inteligência Artificial que ajudem a produzir conteúdo, gerir dados, entender melhor como se movimentar, tudo isso vai fazer muito sentido esse ano”.
A segunda tendência aborda a personalização da captação junto a indivíduos, exigindo a compreensão profunda do público-alvo e a criação de experiências que ultrapassem a simples doação. “A gente vai precisar cada vez mais moldar os produtos da captação junto ao indivíduo, da forma mais personalizada possível. Então, a gente vai precisar cada vez mais entender o nosso público, criar experiências que vão além da doação. Tudo o que conseguir sair da caixinha de campanhas tradicionais, inclusive digitais, vai sobressair nesse ano de 2024”.
Por fim, Dultra ressalta a oportunidade de diversificar as fontes de recursos aproveitando o boom dos editais. “2024 promete ser para organizações brasileiras um ano muito próspero, de muitos editais, de muitas chamadas públicas para os diferentes formatos de organizações. Elas vão precisar cada vez mais entender como tornar as suas propostas mais atraentes, mais criativas, com toques de inovação, para conseguir se destacar em relação a outras propostas que também vão concorrer a esses editais”.
Dentre três tendências, Alvarez começa apontando o aumento da participação das organizações da sociedade civil junto ao Governo Federal. “Com a eleição do governo Lula, foi marcante, no seu primeiro ano de governo, o estreitamento da relação do Governo com a sociedade Civil organizada, retomando ou criando instâncias de participação da sociedade civil na relação com o poder público federal. Com isso, vão se ampliando oportunidades de parcerias e transferências governamentais para as OSCs no Brasil”.
Para o especialista, as leis de incentivo ganharão mais destaque. “As leis de incentivo tiveram um incremento nos valores em 2023, tendência que deve ser continuada em 2024. A retomada o PRONAS/PRONON, o aumento do percentual para Lei do Esporte e a possível criação do mecanismo de doação para projetos de reciclagem – que “flopou” em 2023 – são alguns dos indicadores de que devem aumentar os recursos aportados em projetos incentivados em 2024”.
Por fim, Alvarez aposta na consolidação do Pix como um meio de pagamento preferencial para doações individuais. “A pesquisa Doação Brasil já identificou que o Pix passou a ser, desde 2022, o meio de pagamento mais utilizado por indivíduos para doações a OSCs no Brasil, representando 39% das doações. Com a adoção deste fácil meio de pagamento pela população brasileira, as OSCs que possibilitarem o uso do PIX como meio de pagamento, facilitando a doação, sairão na frente. Nossa percepção é que o meio de pagamento, que já é o queridinho dos brasileiros para qualquer transação, será também muito utilizado pelas pessoas que doam”.
A captação de recursos internacionais não é uma estratégia recente no planejamento das organizações sociais, mas 2024 promete ser um ano promissor no relacionamento com fundações doadoras baseadas fora do Brasil. “Quem está na linha de frente da captação internacional, tem percebido um aumento considerável de fundações, sejam elas americanas ou europeias, interessadas em compreender melhor a dinâmica social do nosso país e realizar aportes financeiros para diferentes causas”.
De acordo com Ana Flávia, o tema da sustentabilidade tem ganhado cada vez mais espaço no planejamento estratégico de empresas de praticamente todos os setores econômicos. “Muitas delas compreendem a importância da relacionamento com as organizações sociais para o cumprimento de metas cada vez mais audaciosas. Sendo assim, investir em projetos ou programas de desenvolvimento comunitário tem sido uma tendência no ultimo ano e só irá se fortalecer em 2024”.
Olhando para o comportamento do consumidor, Gelson Henrique destaca uma abordagem estratégica na filantropia, direcionando o financiamento para organizações lideradas por pessoas negras, especialmente nas periferias. “Nós temos uma posição essencial para o fortalecimento de democracia e a transformação social no Brasil, então acredito que a partir da incidência que estamos fazendo, mais doadores estarão propensos a olhar e pensar sobre esse aspecto e a importância de se doar mais para organizações lideradas por pessoas negras que estão nas periferias”.
Outra tendência apontada por Henrique é a mudança nas composições de conselhos e órgãos de decisão. Ele destaca um debate emergente sobre a falta de representatividade, evidenciada pelo Censo GIFE, com pouca participação de pessoas negras nesses cargos. Destaca a urgência de ecoar essa necessidade de mudança no campo, buscando uma estratégia de financiamento mais inclusiva e plural, visando maior eficácia e impacto nas organizações. Essa mudança institucional vai impactar o olhar do doador e a captação de recursos.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas