Um dos maiores gargalos das organizações da sociedade civil é o setor de captação de recursos. Isso acontece por vários motivos, como desconhecimento na área, equipes enxutas, olhares extremamente apaixonados e pouco realistas e falta de profissionalização. Estruturar um planejamento estratégico de captação significa definir rotas que fazem toda a diferença para a organização exercer sua missão com mais segurança financeira em longo prazo.
Para trilhar caminhos, é necessário ter uma boa percepção de onde a instituição está e onde deseja chegar. De acordo com Daiane Dultra, mobilizadora de recursos e consultora em planejamento de captação, é comum encontrar planejamentos impecáveis, mas incompatíveis com o perfil e o momento da organização. Com um plano distante da realidade, os documentos não têm aplicabilidade e ficam esquecidos nas gavetas ou computadores.
O planejamento deve condizer com a realidade
“O planejamento é fundamental porque consegue organizar tudo em um único documento, o que é preciso fazer para alcançar a meta financeira para o ano seguinte para que não se saia atirando para todos os lados. É importante que o planejamento seja realizável, por mais que a gente queira chegar em um lugar de muita abundância. É preciso entender quais são as condições, tanto de recursos humanos quanto de investimento para colocar as ações no papel. Muitas organizações me procuram dizendo que fizeram planejamentos muito bons, mas acabam fazendo algo que não condiz com a realidade”, avalia.
Ela recomenda que as instituições façam planos anuais com objetivos bienais e monitorem o planejamento a cada três meses. O cuidado da avaliação é frequentemente ignorado, mas é igualmente importante para a equipe saber se está colhendo resultados e se é necessário fazer mudanças estratégicas. Daiane afirma que tanto organizações iniciantes como experientes devem programar a captação de recursos: “Para organizações novas, o planejamento faz ainda mais sentido porque há uma equipe menor. Essas organizações precisam focar energia no que dá retorno e isso só é possível quando elas programam, monitoram resultados e compreendem se os esforços funcionam”.
Acompanhe as dicas da profissional para a elaboração de um bom planejamento:
Faça um diagnóstico
Antes de elaborar uma estratégia de captação, as organizações precisam olhar para si mesmas com honestidade e fazer um diagnóstico que aponte os seguintes elementos: necessidades, forças e fraquezas internas, oportunidades internas e ameaças externas. Com uma percepção crítica, as organizações compreendem quais pontos precisam trabalhar.
Defina objetivos e metas detalhadas
Após o diagnóstico do cenário interno e externo, é o momento de refletir sobre os objetivos da captação. Muitas instituições cometem deslizes nesse ponto, pois colocam objetivos inatingíveis em vez de bem desenhados e alcançáveis. Em seguida, é preciso afunilar os objetivos e definir metas específicas de arrecadação considerando o patamar atual da organização e suas necessidades financeiras.
Daiane recomenda que as organizações pensem em três cenários: operação mínima, estável e ideal. O primeiro se refere essencialmente aos custos da manutenção das OSCs, o segundo possui uma margem de segurança financeira para a estabilidade e o terceiro está atrelado ao cenário financeiro ideal. Com a diversidade de cenários, há uma flexibilidade maior e fica mais fácil adaptar o planejamento se for preciso. A consultora aponta que é difícil ter êxito na captação sem investimentos. Como muitas instituições não podem investir financeiramente, é necessário garantir minimamente um investimento de recursos humanos para o avanço do planejamento.
“Ter um senso de realidade mais aguçado significa pensar em três cenários com um senso de coerência. Uma organização que nunca trabalhou com indivíduos não pode colocar uma super meta, há ONGs que fazem isso há muito tempo e investem muito nisso. Já organizações com acesso a fundações e institutos podem ter uma meta mais ousada. Os três cenários ajudam muito nisso: na avaliação dos custos e do que é ideal. Por exemplo, se você não visualiza um caminho próspero para aprovação de novos projetos e precisa investir em novos esforços, não tem como manter algo elevado. Você vai passar por um aperto de recursos institucionais para conseguir investir e ter fôlego”, pontua.
Faça um cronograma de ações
Com objetivos e metas bem delineadas, as OSCs conseguem produzir um cronograma com várias ações para atingir o sucesso na captação. São atividades atreladas à rotina das OSCs, por isso são ainda mais detalhadas e requerem uma delimitação temporal, com prazos estabelecidos.
Delegue funções
Outro detalhe imprescindível é delegar as responsabilidades dos membros da equipe para evitar dispersão, acompanhar o prosseguimento das atividades e seus resultados. Cada pessoa terá funções específicas, dependendo das suas habilidades e das complexidades exigidas, para otimizar o planejamento. Mesmo que a captação de recursos seja exercida por uma pessoa ou uma equipe reduzida, é um erro não envolver a instituição como um todo.
“Muitas ONGs precisam se dividir para garantir que o esforço de captação aconteça, mas é preciso entender a tarefa de cada pessoa, ter uma boa estrutura de compliance, envolver a equipe como um todo mesmo que exista uma pessoa responsável pela captação de recursos. Isso é importante para alinhar todas as pontas. Quando não se inclui toda organização e a captação é concentrada em uma ou duas pessoas, ela não é priorizada e fica em segundo plano porque não faz parte da cultura institucional”, finaliza Daiane.
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Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas