Thalita Salgado é diretora de captação de recursos da Anistia Internacional Brasil e costuma dizer que não encontrou o Terceiro Setor, mas foi escolhida por ele. O significado disso é perceptível quando se analisa sua trajetória. Formada em Administração pela UNISA, Thalita trabalhava nas áreas comercial, de relacionamento com clientes e trade marketing em empresas. Em 2013, participou de um processo seletivo da Fundação Abrinq e foi selecionada para o cargo de assistente de captação de recursos. Posteriormente, foi promovida para analista de captação de recursos.
Após dois anos, recebeu uma proposta da TETO Brasil, que constrói soluções concretas e emergenciais que proporcionam melhorias nas condições de moradia e habitat desses territórios. A TETO possuía uma frente de captação bem estabelecida, mas faltava estruturar uma área dedicada à captação com indivíduos a fim de garantir a sustentabilidade organizacional. Ali, Thalita teve a oportunidade de planejar e implementar o setor e a atuação com impacto social a conquistou ainda mais.
“Além da questão profissional, a TETO foi uma escola também no âmbito pessoal porque a gente tinha um contato muito próximo das famílias das comunidades. Poder conhecer famílias que perderam tudo, casa, roupas, móveis, duas ou três vezes por ano em uma enchente e as pessoas serem gratas e terem sempre um sorriso no rosto e um café para oferecer realmente me desconstruiu e me reconstruiu como pessoa”, relata.
“Lembro com muito apreço da TETO porque foi uma experiência muito boa para mim e ali tive que implementar a área de captação com pessoa física, sistemas, contratei e treinei pessoas. Foi um projeto muito especial que trago com muito carinho”, continua.
Um ano depois, Thalita assumiu a coordenadoria de aquisição e retenção de doadores na Habitat para a Humanidade Brasil. Seu desafio era estruturar a área de captação e fortalecê-la. Após um ano e meio, o número de doadores da organização foi multiplicado em mais de 10 vezes. Em 2020, migrou para a Fundação Dorina Nowill para Cegos, onde foi Head of Fundraising and Partnerships e reestruturou a área de captação com pessoa física, o programa Nota Fiscal Paulista, implementou o ciclo e a área de relacionamento com doadores, fortaleceu canais de aquisição de novos doadores, entre outras tarefas.
Há quase três anos, aceitou a proposta de ser diretora de captação de recursos da Anistia Internacional Brasil. “Meus desafios estão além de gerir a área de captação com indivíduos e fundações, que são nossos principais canais. Meu desafio tem sido desenvolver uma visão de longo prazo, antes eu trabalhava com planejamento de um ano. Aqui, trabalho com planejamento de cinco anos. Espera-se que eu fale onde estaremos daqui a 10 anos. Isso para mim é um baita desafio, me coloca numa zona de desconforto enorme e, por outro lado, eu gosto disso. Aprecio muito estar nessa zona de desconforto porque acho que é onde a gente cresce de verdade”, destaca.
Não existe uma fórmula pronta para atingir a liderança nas organizações sociais, mas alguns passos podem ajudar muito. Desde o início da carreira, Thalita demonstrou dois traços comportamentais importantes: proatividade e coragem, que a motivaram a sair da zona de conforto. Além de trabalhar para alcançar os objetivos da área, ela também queria se desenvolver, adquirir novas habilidades e funções e, quando se sentia estagnada, planejava novas metas.
Essa postura não contribuiu apenas para que ela demonstrasse seu desejo de crescer dentro das organizações em que trabalhava, como também assumisse novas responsabilidades em outros locais.
Além da proatividade, Thalita aconselha os captadores a desenvolverem a autoliderança:
“Acredito que todos nós somos líderes e que a liderança pode ser desenvolvida por qualquer pessoa. A primeira liderança é de si mesmo: controlar a mente. Você tem que fazer sua autoliderança, todo dia precisa escolher levantar da cama em um certo horário, fazer sua atividade física e começar seu trabalho. Se você não tiver disciplina para fazer as coisas básicas da sua vida, ela vira uma loucura. É esse tipo de atitude que eu cobro da minha equipe porque é como eu sou”.
“Se eu deixar que meus pensamentos dominem a minha vida, não saio da cama. Hoje tenho esse papel de desenvolver as pessoas e tentar extrair o melhor delas. Uma das coisas que trabalho muito fortemente é fazer com que as pessoas desenvolvam sua autoliderança porque acredito que, para que elas consigam alcançar seu próximo nível, seja comigo ou em qualquer outro lugar, precisam assumir a responsabilidade e o protagonismo da própria vida e não terceirizar essa demanda”, completa.
Ter uma visão intraempreendedora, na qual os colaboradores enxergam oportunidades para inovar, trazer novas soluções, melhorar processos ou desenvolver produtos, por exemplo, também é uma postura muito favorável a quem deseja assumir a chefia da área de captação de recursos, pois isso mostra o interesse e a dedicação do profissional à organização e à causa pela qual trabalha.
Para Thalita, outra característica importante é que os profissionais sejam corajosos e resilientes e não deixem de fazer algo por medo. “A liderança é um lugar solitário, gera muito medo, mas acredito que o medo é natural. Nós, seres humanos, temos esse mecanismo de defesa. O que não posso permitir é que o medo me paralise, é um sinal amarelo para olhar melhor as coisas, mas não pode ser um empecilho para que eu faça algo, um limitador e controle minha vida. Isso tem muito a ver com essa gestão dos pensamentos da autoliderança”, pontua.
“Muitas vezes, temos pensamentos sabotadores, a síndrome da impostora, mas temos que controlar nossos pensamentos. Se você quer que determinados pensamentos tomem conta da sua vida, alimente esses pensamentos. Quanto mais leveza a gente conseguir imprimir à vida, é essencial para que a gente consiga viver bem”, diz.
Falar inglês abre muitas portas no mercado de trabalho e fora dele. Por isso, a diretora de captação de recursos da Anistia Internacional recomenda que os profissionais invistam no aprendizado do idioma. Outra dica é o aperfeiçoamento contínuo. Existem diversos cursos que podem aprimorar conhecimentos dos captadores em áreas específicas. Muitos deles estão disponíveis gratuitamente pela internet, mas é possível também investir em uma graduação ou pós-graduação relacionada à área.
Com MBA em Gestão de Negócios pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduação em Gestão para Organizações da Sociedade Civil pela FIA Business School, Thalita defende a relevância dos cursos, que ajudam a compreender aspectos técnicos e mais complexos, além de expandir o pensamento. Porém, ela frisa que “quem faz o curso é o aluno” e que cursos formais não são a única maneira de adquirir novos aprendizados, mas é essencial ter uma atitude focada na busca contínua por conhecimento.
A inteligência emocional é fundamental para qualquer pessoa, principalmente se ela ocupar um cargo de liderança. Esse traço comportamental ajuda a tomar decisões racionais sem se deixar influenciar por emoções, a lidar melhor com a pressão e desenvolver relações saudáveis e respeitosas com os liderados. Há várias maneiras de adquiri-la e desenvolvê-la: realizar terapia, cursos, livros, palestras, workshops estão entre elas.
Um bom líder cria conexões humanizadas com os colaboradores e torna o ambiente de trabalho mais leve e prazeroso. Isso é crucial para motivá-los e para manter a saúde mental de todos. “Acredito que o grande desafio é a gente, além de olhar as pessoas, percebê-las. Somos seres humanos e sociáveis que precisam de conexões. Tem um livro do John Maxwell chamado Todos se comunicam, poucos se conectam, que é justamente sobre isso, o poder de influenciar as pessoas através de conexões profundas. Acredito muito nesse modelo de liderança: além de olhar o outro, perceber o outro, sentir a empatia no seu nível mais profundo”, enfatiza.
“As pessoas nunca vão esquecer como você fez com que elas se sentissem, mas podem esquecer o que você falou. Acho que é muito importante que a gente faça com que se sintam importantes. É essa conexão que busco estabelecer com a equipe quando estamos trabalhando e fazendo algo juntos”.
Outra dica é cercar-se de pessoas confiáveis e que possam oferecer conselhos sobre os âmbitos pessoais e profissionais. Os mentores podem ser desde um familiar até um colega de trabalho, o importante é cultivar essas relações e ter pessoas a quem recorrer e procurar orientações para solucionar problemas e alcançar o caminho que precisa ser percorrido.
Como você percebeu, estabelecer relações humanizadas é uma das características de uma boa liderança e contribui com a saúde mental dos colaboradores. Veja mais sobre o tema aqui.