A saúde financeira das organizações da sociedade civil está vinculada a uma captação de recursos bem planejada e diversificada. Isso significa que uma das preocupações das OSCs deve ser o aumento das doações irrestritas (também chamadas de recursos livres) que permitam sua manutenção e garantam mais autonomia e robustez.
Na contramão dos recursos restritos, que estabelecem utilizações pré-definidas e limitadas a projetos ou programas específicos, os recursos irrestritos podem ser usados conforme for mais conveniente para as OSCs. As despesas operacionais estão entre as principais formas de uso desses recursos e incluem gastos com folhas de pagamento, aluguel, água, luz, telefone, materiais de escritório, entre outros.
No entanto, as doações irrestritas possuem outras vantagens. É possível empregá-las para sanar outros desejos e necessidades das instituições, especialmente quando se tratam de novas contratações, aumento salarial e a capacitação contínua da equipe. Investir no desenvolvimento da equipe, na profissionalização e em outras melhorias organizacionais agrega valor para as instituições, gera melhores resultados, transmite confiança aos investidores e doadores, além de atrair mais recursos para as organizações e assegurar mais estabilidade aos colaboradores e às pessoas beneficiadas por seu trabalho.
Com isso, há espaço para inovar e definir novas estratégias e metas de planejamento de longo prazo. Manter uma reserva financeira com as doações irrestritas também torna as organizações mais resilientes e preparadas para lidar com crises e interrupções. Tudo isso impacta diretamente na missão da organização, pois, quanto melhores forem suas condições internas, melhores serão os frutos do seu trabalho. Segundo Richard Sippli, diretor de operações e relações institucionais do Movimento Bem Maior, a oferta de doações irrestritas é um tanto escassa no Brasil, mas os debates sobre o tema têm aumentado nos últimos anos. Ele aconselha que as instituições façam um mapeamento dos financiadores desses recursos livres e desenvolvam um relacionamento com eles.
Uma das dificuldades relacionadas aos recursos livres é que seus resultados não são facilmente mensuráveis como em casos de projetos que envolvem beneficiários e que são citados em relatórios anuais e demonstrativos financeiros. A disponibilidade desses recursos também está atrelada à seriedade das organizações, assim como ao seu relacionamento com doadores e investidores.
“Para se assegurar de que os recursos serão bem utilizados, o primeiro passo é conhecer a organização. Se você não confia nela, talvez não deva doar ou investir. Antes de investir, é bom conhecer a organização, ver seu histórico, saber quem são seus parceiros, beneficiários, como é a diretoria e a governança. Investigar se a organização tem um trabalho sério e, uma vez estabelecido esse vínculo, é feito um voto de confiança. Geralmente, os investidores vão aumentando os aportes conforme aumenta a confiança”, pontua Richard.
A transparência e o diálogo são os principais instrumentos para conquistar a confiança de doadores e investidores. As instituições precisam manter seus colaboradores bem informados e estar em dia com a prestação de contas e com os relatórios de atividades. Já o diálogo é uma via de mão dupla e requer que os colaboradores nutram um relacionamento com a organização e estejam atentos às suas particularidades.
“De nada adianta um investidor achar que vai dar dinheiro no dia 1 de janeiro, esquecer completamente a organização, voltar no dia 30 de dezembro e tudo irá parecer perfeito. É necessário estar próximo para a transparência funcionar. Você não consegue mensurar o investimento institucional em um ano com tanta facilidade, é muito importante o filantropo ter disponibilidade para ouvir com atenção e entender a organização”, complementa Richard.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas