Adriana Bage, diretora de projetos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), se tornou uma liderança comunitária em Jaboticabal (SP) por acaso. Ela soube sobre o Dia de Doar – mobilização por um país mais solidário, por meio da conexão de pessoas com causas – e ficou encantada com o movimento e a estimulação da generosidade.
Em 2020, iniciou a campanha comunitária #DoaJaboticabal – movimento que promove a doação da comunidade para a própria comunidade e busca o engajamento local das pessoas sem privilegiar uma única instituição – em conjunto com sete entidades de Jaboticabal, por meio das redes sociais para arrecadar itens como produtos de limpeza, alimentos e material escolar para a região. Desde então, não parou mais. No ano seguinte, a campanha comunitária já tinha 17 entidades, como a Associação ao Bem Comum ao Down de Jaboticabal (ABCDown), Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Jaboticabal (APÁS), APAE, Projeto Marmita Solidária, Hospital de Câncer de Ribeirão Preto (SOBBECAN) e o Fundo Social de Solidariedade. Foram arrecadados quase mil quilos de alimentos.
Como a pandemia estava um pouco mais branda, a campanha realizou atividades presenciais, incluindo uma panfletagem que despertou a atenção das pessoas para o Dia de Doar. Outro destaque foi um passeio ciclístico que arrecadou caixas de leite com o apoio da prefeitura local. Neste ano, as expectativas da campanha comunitária são as mesmas de 2021. A história de Adriana ilustra bem como o engajamento em iniciativas da própria comunidade pode contribuir com o desenvolvimento local e aumentar a cultura de doação.
De acordo com Carolina Farias, líder do Dia de Doar, olhar para nosso entorno pode ser muito frutífero para resolver problemas locais e beneficiar amigos e familiares que vivem ali: “Como as instituições conhecem sua própria região e sabem quais são as necessidades mais latentes, têm uma oportunidade maior de conseguir trabalhar para que as causas e problemas sejam solucionados. Isso cria um vínculo muito mais forte com as pessoas que estão naquele local porque elas entendem que essas instituições estão oferecendo um serviço social para que o bairro se desenvolva.
“Quando você entende o trabalho dessas instituições, conhece o que elas fazem e entende como você pode fazer parte desse processo, você compreende como seu dinheiro pode fazer diferença e que cada centavo que apoia essa instituição tem um impacto muito grande no que está sendo desenvolvido. Essa participação ativa da sociedade é a cultura de doação, de as pessoas compreenderem seu papel como protagonistas na resolução dos problemas com que convivem diariamente”, pontua.
Para Carolina, é comum que as pessoas associem organizações da sociedade civil às grandes instituições, que conseguem mais visibilidade e, em um primeiro momento, podem ser mais procuradas por quem busca realizar um trabalho de cunho social. No entanto, a satisfação em participar de um movimento social e gerar bons resultados pode estar mais próxima do que normalmente se imagina.
“Eu me tornei uma referência em Jaboticabal, gosto muito do Terceiro Setor, me identifico muito com isso. Trabalho com pessoas com deficiência, já trabalhei na Pastoral da Criança. Minha maior tarefa é ajudar a criar consensos que beneficiem todos e dar importância à participação de todos. Sair um pouco do eu e tentar aproveitar o que cada um pode dar. Tenho um pouco dificuldade de aceitar esse nome de líder porque vejo que há muitos apoiadores com um espaço muito grande. Buscamos unir todas essas forças, trabalhar em prol do bem comum e incentivar as pessoas a doarem”, aponta Adriana.
O Dia de Doar, iniciativa que é parte do movimento global GivingTuesday, e liderada no Brasil pela ABCR, tem um site com materiais para ajudar as campanhas, dá pra baixar todo o material de comunicação, e vários guias de como implementar ações (acho que tem um modelo de projeto de lei para implantar o Dia de Doar no calendário oficial dos municípios, o que é bem legal)
De acordo com Carolina, conversar com as instituições é o primeiro passo para iniciar uma campanha comunitária no Dia de Doar: “Sozinhas, as pessoas conseguem muito menos do que quando entram em contato com outras pessoas e participam disso ativamente. O primeiro passo é entender quem está do seu lado dentro do território para conseguir resolver esses problemas de forma mais integrada. Suponhamos que tenha uma ONG que trabalha com educação, outra com saúde e outra com idosos. Se as três se unirem, podem criar outros projetos que podem ser interessantes para realizar em conjunto e aí podem surgir muitas outras oportunidades que não existiriam caso elas estivessem sozinhas”.
“Tem um intercâmbio de conhecimento, alguém sabe mexer com edital, outra pessoa com projetos e as instituições podem compartilhar isso e oferecer soluções integradas para a sociedade. Dia de Doar traz justamente essa proposta de coletividade. Todo mundo trabalhando junto no mesmo período pode trazer essa visibilidade de que as instituições precisam e que é perdida quando elas ficam ocultas dentro dos seus próprios projetos e sem conseguir colocar aquilo que é feito para o mundo”, finaliza.
Em 2021, foram contabilizadas 118 iniciativas no site do Dia de Doar e conduzidas 30 campanhas comunitárias em diferentes localidades, registrando um aumento em 160% em relação à edição de 2020.
O Dia de Doar tem um site com materiais para ajudar as campanhas, com dicas de comunicação e vários guias de como implementar ações, incluindo um modelo de projeto de lei para implantar o Dia de Doar no calendário oficial dos municípios.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas.