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Parcerias, pesquisas e captação de recursos

Recentemente, tive a oportunidade de ir a uma das conferências mais interessantes em que já participei: um encontro internacional de cerca de 100 ativistas e pesquisadores para discutir as parcerias de pesquisa entre ONGs e universidades. Compartilho a seguir alguns dos principais aprendizados colhidos nesta reunião e como podem ser aplicados aos captadores de recursos.

Academia e ONGs: vamos discutir a relação?

A relação entre o mundo acadêmico e a prática das ONGs no Brasil é tímida e incipiente. Uma leitura pessimista dessa relação revela ONGs que não entendem o que pesquisadores e suas teorias incompreensíveis falam. Já os pesquisadores se ressentem da falta de interesse e tempo das ONGs para ajudar na pesquisa e aplicar possíveis resultados. No mundo ideal, ativistas e acadêmicos desenvolvem juntos projetos de pesquisa e de construção de conhecimento que são ao mesmo tempo rigorosos e relevantes.

A boa notícia é que essa situação começa a mudar no Brasil, em especial pelo aumento na pesquisa na área social e por meio de iniciativas como a criação da Rede de Pesquisadores em Gestão Social, uma articulação nacional que combina professores, estudantes e pesquisadores de cursos de Administração, Gestão Pública, Gestão Social e outros cursos afins.

Quantidade e qualidade na pesquisa brasileira começam a crescer. Boa pesquisa pode ajudar a gestão das ONGs de três formas:

A primeira é desafiar e validar a atuação da organização em sua área-fim: será que esse tipo de intervenção é o mais efetivo? A segunda é mais voltada às áreas-meio: como tornar a gestão mais eficiente? Finalmente, e esse foi um dos principais pontos discutidos no evento, o próprio ato de criar um espaço de reflexão mais estruturado tem valor em si. A grande maioria das ONGs vive um dia a dia de correria sem fim. Parece sempre faltar tempo, dinheiro e pessoas para descer do carrossel enlouquecido e respirar, conversar, perguntar, questionar. Boas experiências de pesquisa acadêmica ajudam a criar esse ambiente mágico em que se deixa por um tempo de focar só no urgente e passamos a refletir sobre o que é importante para a organização e para sua causa.

Além das vantagens acima, ficou claro que uma pesquisa acadêmica bem-sucedida pode ajudar diretamente na captação de recursos. A primeira forma, semelhante ao que se falou acima, é testar métodos de mobilização. Um exemplo interessante é a parceria que aconteceu recentemente entre Instituto Arredondar e pesquisadores da FGV para entender o perfil de doação de consumidores no varejo e qual o melhor método de incentivar esse comportamento. Mais do que apenas entrevistas com especialistas, a pesquisa contou com rigorosos procedimentos e análises estatísticas para chegar a seus resultados.

A segunda forma é descobrir evidências sólidas da atuação da ONG e que podem ser usadas no discurso de captação de recursos da organização. Uma coisa é dizer “doe, nós somos sérios e efetivos”. Outra, bem diferente, é apresentar dados e estatísticas que mostram a diferença da sua atuação. Os Doutores da Alegria são uma referência, no Brasil, desse tipo de relação frutífera: já há diversas pesquisas mostrando a diferença que palhaços profissionais fazem na melhoria do tratamento de crianças doentes ao tornar o hospital um ambiente mais leve e humano.

O desafio de construir boas parcerias: é tudo gente!

Como recado final, deixo uma reflexão simples, mas que precisa ser relembrada constantemente. Bons projetos de pesquisa dependem de boas relações de parceria. E boas relações dependem de pessoas, mais do que organizações. O mesmo vale para a captação: mais relevantes do que os sistemas, as estruturas, as tecnologias, os vídeos, os links, os panfletos, as bases de dados, são as pessoas. É um ser humano atuando como captador se relacionando com um ser humano que pode vir a ser um doador.

As parcerias formais e canais institucionais são importantes, mas a relação pessoal e informal é fundamental. Sem esse laço mais humano, solidário, as relações não se mantêm.

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