Já imaginou se uma única iniciativa fosse capaz de incentivar a cultura de doação — ainda pouco fortalecida no Brasil — e, ao mesmo tempo, ajudar sua organização a captar recursos? Não precisa imaginar, ela existe. E é bem simples.
A AACD conseguiu, numa tacada só, abrir uma nova frente de mobilização de recursos e estimular a doação por meio de pequenos cofres espalhados em supermercados, farmácias, restaurantes. O projeto foi batizado de “Corrente do Bem”. “Temos cerca de 3.500 cofrinhos em pontos de comércio de todo o país, 2.500 deles apenas em São Paulo. Um cheio rende em torno de R$ 200, valor que demora cerca de dois meses para ser atingido”, explica Adriana Magalhães, gerente de relações institucionais da organização.
A própria presença do cofrinho nos estabelecimentos faz com que as pessoas reflitam sobre o ato de doar, mas a AACD vai ainda mais longe no trabalho de conscientização. “Atuamos em várias escolas com base nessa ferramenta. Apresentamos palestras e sugerimos atividades, como deixar um cofre por sala ou até mesmo um por aluno. O resultado é apresentado durante o Teleton [campanha televisiva da associação]”, afirma Adriana, que revela: “Há escolas que participam ano após ano”.
De centavo em centavo
Essa é uma ferramenta que se encaixa no conceito de microdoação, ou seja, cada pessoa doa um pequeno punhado de recursos, quase sempre o troco do pagamento que está sendo feito no ponto de venda.
“A ideia surgiu há 20 anos, quando, durante um Teleton, um menino apareceu com um punhado de moedas em um cofrinho para doar. No ano seguinte, ele juntou dinheiro com vizinhos e trouxe mais recursos”, conta Adriana sobre como veio a inspiração para o projeto.
A unidade de São Paulo da AACD conta com uma ajuda crucial para a campanha. “Temos uma parceria com o supermercado Extra para colocar cofrinhos em toda a rede paulista”, diz.
Ela ressalta, no entanto, que não é necessário contar com um grande parceiro para fazer a ideia dar certo. “Espalhamos cofrinhos em diversos outros pontos. Cada unidade é independente para buscar colaborações nas suas regiões. Os estabelecimentos também podem procurar a AACD para pedir um cofre.”
A questão do entorno, no entanto, é muito importante nessa ferramenta. “A logística para recolher os cofres é complicada. Tem de ter alguém para passar, contar os recursos. Por isso, procuramos estabelecimentos que sejam perto das unidades da associação, pois o custo da operação pode ficar caro, ainda mais que um cofrinho cheio tem no máximo R$ 200”, alerta.
Por questão de segurança, a AACD decidiu não terceirizar a coleta dos cofres. “Lacrados, eles são abertos no próprio estabelecimento e o dinheiro é contado ali. As moedas são trocadas por notas, até para facilitar a obtenção de troco nos pontos de venda.”
A relação próxima com os estabelecimentos não se dá só na coleta dos recursos. “Sabemos quanto cada cofrinho rendeu e prestamos contas individualmente a cada ponto comercial”, diz Adriana.