Não há como refutar: transparência é peça-chave para o terceiro setor. E uma das principais maneiras de garanti-la é recorrer a uma auditoria externa. Embora ajude a captar recursos e a promover governança, esse instrumento não existe na maioria das organizações da sociedade civil do país, segundo Gerson Pacheco, diretor nacional da ChildFund Brasil. Mas a situação tende a mudar.
Um dos motivos que costumavam a desencorajar as entidades era o alto valor do serviço, explica o auditor Ricardo Monello, sócio da Audisa, consultoria especializada em terceiro setor. “Há dez anos, fazer uma auditoria não era economicamente viável para todo mundo. Mas o cenário começou a mudar com a padronização de regras, já que se passou a adotar no Brasil as normas da International Financial Reporting Standards (IRSF). Além disso, a tecnologia barateou o processo.”
Monello destaca que os custos caíram entre 30% a 40% desde então, e há facilidades, como o parcelamento do pagamento no decorrer de um ano. “Uma entidade pequena consegue gastar hoje em torno de 1% a 2% de seu faturamento para fazer uma auditoria”, calcula.
Independentemente de o acesso ao serviço hoje estar mais facilitado, buscar uma auditoria significa investir na preservação de um dos patrimônios mais importantes de uma organização: sua credibilidade. “A pessoa continua com a entidade se tem certeza de que seu dinheiro foi aplicado bem e se a entidade apresenta práticas éticas”, afirma o representante da Audisa.
Mas o que exatamente seria uma auditoria externa? “Ela certifica que a contabilidade e as demonstrações contábeis representam a situação real da organização numa determinada data”, explica Monello.
Até por isso, representa um mergulho profundo na organização. “No processo, elencam-se todos os ativos, o fluxo de caixa, o balanço e a gestão orçamentária da instituição”, afirma o diretor nacional da ChildFund Brasil.
E não é apenas pelo relacionamento externo que a auditoria é importante. “Se houver problemas contábeis, os gestores podem ser responsabilizados. Por outro lado, no processo, sempre surgem recomendações para reforçar a governança interna”, diz Pacheco.
Já Monello ressalta o papel que a auditoria tem na sustentabilidade das organizações: “No processo, que costuma durar cerca de duas semanas, também conseguimos verificar se há riscos à continuidade operacional da instituição, como o fim de algum convênio público e ações trabalhistas ou tributárias”.
Para o diretor nacional da ChildFund Brasil, recorrer a uma auditoria, portanto, não é uma opção: “ou tem ou tem”. Por isso, recomenda: “Se você está começando, faça parcerias com o mundo acadêmico ou procure um grupo de auditores aposentados e peça que façam o serviço voluntariamente. É preciso ir criando a cultura”.