Em um universo repleto de milhares de organizações de impacto social, como é possível escolher aquelas que serão beneficiadas por uma doação? Há muitos fatores que devem ser considerados pelos doadores, principalmente a confiabilidade e a transparência das instituições. O acompanhamento da comunicação e das prestações de contas fazem parte desse processo, mas um assunto que merece mais destaque é a certificação.
As certificações podem ser pagas ou gratuitas e são concedidas pelo governo ou por instituições do Terceiro Setor às organizações que cumprem uma série de critérios relacionados a áreas como gestão, marketing, planejamento, entre outras. Elas funcionam como atestados de excelência de um trabalho e, justamente por isso, aumentam a visibilidade e a credibilidade das entidades, que podem atrair cada vez mais apoiadores.
Pesquisadores do WZB Berlin Social Science Center, instituto de pesquisa alemão sobre Ciências Sociais, fizeram um experimento para investigar até que ponto as certificações de organizações sociais são percebidas como um sinal de qualidade e como isso impacta as doações e a confiança dos doadores. Quando os doadores souberam sobre a existência da certificação, houve um aumento de 10% na doação e ficou explícito que o nível de confiança dos doadores na instituição certificada era maior.
“A certificação representa um diferencial, todas as organizações que recebem o Selo Doar nos dizem com clareza sobre o aumento e a confiança de financiadores”, corrobora Marcelo Estraviz, presidente do Instituto Doar, certificadora que concede o Selo Doar.
O Selo Doar avalia a qualidade e transparência das OSCs e foi criado em 2013, a partir de uma extensa pesquisa dos conceitos e critérios adotados por diferentes organizações nacionais e internacionais. Seus objetivos são incentivar, legitimar e destacar o profissionalismo e a transparência nas organizações não-governamentais brasileiras, na forma de um atestado independente de sua adequação aos Padrões de Gestão, Transparência e Doação (PGTD).
O custo do processo de certificação é de R$ 990,00. Para conquistar o selo, a organização precisa preencher pelo menos 43 dos 52 critérios organizados em oito eixos: governança, causa e estratégia, contabilidade e finanças, gestão, recursos humanos, estratégia de financiamento, comunicação e prestação de contas e transparência.
A avaliação é baseada em respostas dos formulários e na documentação fornecida pelas instituições. A cada três anos, os critérios da certificação são reavaliados pelo Instituto Doar. Segundo Marcelo, nos últimos 10 anos, o Selo Doar avaliou quase 5 mil ONGs e certificou aproximadamente 250 delas. O prestígio da certificação tem crescido cada vez mais e o Instituto Doar iniciou um movimento de exportação do seu formato para outros países da América Latina.
“O objetivo do Instituto Doar era ampliar a cultura de doação antes do selo, tudo tinha a ver com a ampliação dessa cultura e percebemos que uma forma de fazer isso era valorizar, reconhecer e facilitar para o potencial doador quais são as organizações que valem a pena ser apoiadas. acreditamos que isso facilita. Organizações financiadoras já nos falam isso”, aponta Marcelo.
Outra forma de certificação ocorre com a participação de uma empresa patrocinadora. Em parceria com a AMBEV VOA, programa da AMBEV que oferece capacitação para lideranças de organizações e negócios sociais, o Instituto Doar desenvolveu o selo Gestão e Confiança AMBEV VOA & Doar, com o intuito de certificar instituições participantes do Programa VOA que têm bons resultados em gestão organizacional.
“Quando as organizações vão atrás da certificação, elas já chegam muito mais preparadas e estudam os critérios. Eu diria que 99% passam pelo processo com certa tranquilidade. Nesse modelo, com patrocínio de empresas, essas organizações chegam mais cruas, estão descobrindo o que ganharam, como funciona a capacitação para depois se certificar”, observa Marcelo.
Ele destaca que as organizações certificadas pelo Selo Doar recebem um manual de identidade corporativa do uso do selo, que impulsiona o fortalecimento da imagem de cada instituição e a captação de recursos. “Isso é muito bom, elas percebem que dá para colocar o selo na assinatura do email, nos banners, em folhetos e outros materiais. Percebemos que a maioria usa e diz que, a partir desse uso, acaba tendo um retorno. Existe muito feedback por parte das organizações que ficam muito contentes com esse processo”.
Os processos de certificação também são oportunidades para as entidades conhecerem melhor suas falhas e potencialidades, desenvolvendo suas capacidades técnicas e comportamentais e aumentarem sua profissionalização, o que tem sido cada vez mais exigido atualmente.
Mesmo que a entidade não seja certificada, pode aproveitar para aumentar o autoconhecimento e investir no que é necessário para aperfeiçoar sua atuação junto aos beneficiários, aumentar seu impacto e atrair mais a atenção do público e de financiadores.
A ABCR oferece desconto na inscrição da certificação internacional Certified Fund Raising Executive (CFRE), que reconhece profissionais experientes na captação de recursos que aspiram aos mais altos padrões de ética, competência e serviço ao setor filantrópico.
Mais de 7.700 profissionais de captação de mais de 25 países já receberam a certificação. Estudos realizados nos Estados Unidos constataram que captadores com certificação CFRE recebem melhores salários e oportunidades profissionais, além de se destacarem dentre seus pares. O Festival ABCR desempenha um papel crucial na obtenção e renovação da certificação CFRE, uma vez que os profissionais devem demonstrar um mínimo de pontos a cada ano para manter sua certificação.