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De centavo em centavo, movimento arrecada quase R$ 2 mi em doações

Muitos ditados resumiriam a ideia por trás do Movimento Arredondar. “De grão em grão, a galinha enche o papo” parece funcionar bem. Afinal, trata-se de uma iniciativa que convenceu, desde abril de 2014, mais de 7,2 milhões de pessoas a arredondarem valores de compra em grandes redes de varejo, oferecendo o troco à plataforma de microdoação. Juntos, esses punhados de centavos viraram quase R$ 2 milhões, destinados a 32 organizações da sociedade civil.

A ideia surgiu quando o empresário Ari Weinfeld leu “Financing Future”, de Maritta Koch- Weser e Tatiana van Lier, um livro sobre formas inovadoras de se financiar a transformação social.

“O Ari, que já era doador, foi para fora conhecer algumas iniciativas apresentadas no livro. Quando voltou, juntou um grupo de conselheiros e começou a desenvolver o conceito por aqui”, conta Nina Valentini, presidente do Movimento Arredondar.

Na hora da compra, o caixa sugere ao cliente que o valor seja arredondado para cima, explicando que o troco irá para uma ONG. Por exemplo: se o total for R$ 29,75, a pessoa paga R$ 30 — os R$ 0,25 a mais serão doados. Parece simples, mas tirar a ideia do papel deu trabalho.

“Precisávamos desenvolver um modelo para lidar com as questões tributárias. Tivemos auxílio de um escritório de advocacia. Também precisávamos criar a tecnologia que seria levada aos pontos de varejo e que permitiria computar as microdoações”, afirma. O movimento atua em parceria com grandes redes de varejo, que têm pontos em vários lugares do Brasil. São marcas como Grupo Pão de Açúcar (supermercado), GAP (roupa), Puket (artigos infantis), Spoletto (alimentação) e Track & Field (artigos esportivos).

“Operamos em quase mil lojas, concentradas principalmente na região sudeste e em Pernambuco”, diz Nina.

Às claras

A tecnologia desenvolvida, que liga cada ponto de doação a um sistema do Arredondar, permite também um nível detalhado de transparência. “Temos informações sobre a doação em cada loja. Em alguns casos, sabemos até quem são os operadores que convertem mais doadores.”

O principal investimento de tempo e de energia do movimento, segundo sua presidente, é voltado para o treinamento desses operadores. “Fazemos todo um trabalho para engajar equipes de loja, e não só o pessoal que está na porta, mas também a gerência e outros setores. Levamos funcionários para visitar as ONGs, e levamos as organizações para as lojas”, explica.

Próximos passos

Quatro anos depois de seu início, o Movimento Arredondar planeja algumas mudanças. A primeira delas é em relação ao método de escolha das organizações beneficiadas.

“Hoje, as redes varejistas indicam duas organizações para receberem os recursos coletados em suas lojas. Cada instituição fica com 45%, e o movimento, com 10%, para cobrir custos de operação. Vamos passar a escolher os beneficiados por meio de um edital”, revela Nina.

Um detalhe não será modificado: o financiamento continuará direcionado à organização, e não a projetos específicos. “As instituições escolhem como aplicar os recursos, mas continuaremos a monitorar de perto esses gastos.”

O Arredondar também pretende expandir sua atuação. “Estamos nos preparando para atuar no e-commerce. Esse é um setor que corresponde a apenas 4% do mercado de varejo brasileiro, mas que tem crescido muito nos últimos anos”, comenta.

Mais do que qualquer coisa, afirma Nina, a missão do movimento é “fortalecer as organizações da sociedade civil e transformar a doação em um hábito. A parte mais legal do nosso trabalho é conectar as pessoas com as causas”.

Milhões de doadores e de reais coletados depois, talvez seja outro, na verdade, o ditado que melhor descreve o Movimento Arredondar: “a união faz a força”.