Aos 16 anos, quando muitos adolescentes voltam seus interesses para atividades típicas dessa fase da vida, Gabriela Shapazian estava na Grécia ajudando refugiados do conflito na Síria, classificado pela Organização das Nações Unidas como a “maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial”. Após o retorno para o Brasil, ela e sua mãe, a jornalista Kety, lançaram as sementes do negócio que daria suporte financeiro para a causa que a jovem voluntária havia decidido abraçar. O ano era 2016.
“A ideia de vender flores veio depois que voltamos de Lesbos [ilha grega onde chegaram milhares de refugiados] e conhecemos um casal sírio que estava no Brasil. Como a mulher estava grávida, criamos uma rede de ajuda para o enxoval, e fizemos um ‘chá de bebê’ na minha casa. Foi quando uma pessoa que eu não conhecia, mas que havia colaborado com a campanha, trouxe um arranjo”, lembra Kety.
Naquele mesmo ano, Gabriela tinha passagem para voltar à Grécia — dessa vez, sem a companhia da mãe — e continuar com o trabalho, mas precisava de recursos para arcar com os custos da estadia. Kety e filha fizeram um planejamento e viram que a jovem precisaria de 40 euros por dia. Com a meta orçamentária em mãos, a jornalista foi para a rua.
“Vendia flores num cruzamento durante determinado período da manhã. Foi uma experiência bem estressante, lidava com os olhares feios de muitos motoristas. Não conseguia também passar a mensagem do motivo de estar vendendo arranjos”, conta.
Mesmo com todas as dificuldades, a jornalista conseguiu recursos para bancar a nova viagem da adolescente. Percebeu, no entanto, que precisaria mudar seu negócio e torná-lo mais profissional. Kety começou a deixar os arranjos que produzia em restaurantes, lavanderias e outros estabelecimentos do bairro onde vivia. Nascia assim o “Flores para os Refugiados”.
“Fazemos arranjos sob encomenda e também vendemos flores por assinatura. A profissionalização me deu um CNPJ e permitiu que eu emitisse nota fiscal, dando mais transparência ao negócio”, explica.
Metade do valor arrecadado é destinada ao trabalho voluntário da filha com refugiados e o restante fica com a jornalista, agora empresária — e florista, como gosta de se definir. “É um negócio que visa o lucro, paga as minhas contas. Mas há vezes em que tenho de tirar da minha parte para financiar as viagens da Gabi. Ela é a prioridade”, destaca.
Apesar do apelo social do “Flores para os Refugiados”, há quem pechinche na hora de comprar. “Minha filha fica irritada, pois acha que quem faz isso não leva em consideração a causa.”
O regateio revela um detalhe já observado por Kety: alguns consumidores estão mais preocupados com a qualidade do produto do que com a ação voluntária por trás dele — o que sinaliza a necessidade de sensibilizar a população sobre a gravidade do problema envolvendo os refugiados.
“Fiz dois anúncios do meu negócio numa plataforma digital. Aquele no qual só falei das flores teve mais repercussão do que a propaganda em que destaquei o trabalho voluntário da minha filha”, lamenta.