O Teleton, maratona televisiva que completa 20 anos em 2017, é responsável por mais de 50% dos recursos arrecadados, por ano, pela Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Mas a iniciativa não é apenas uma importante ferramenta de captação: ela se tornou um poderoso instrumento de combate à discriminação contra pessoas com deficiência física.
“Basta ver como o assunto era tratado há 20 anos e como é hoje para perceber uma enorme evolução. Agora, o preconceito é questionado”, afirma Ângelo Frazão, superintendente de captação de recursos e marketing da AACD.
A visibilidade que a causa atingiu não chega a surpreender, considerando que a maratona ocorre no SBT e conta com a participação de uma das figuras mais carismáticas da televisão nacional, o dono da rede, Sílvio Santos.
O Teleton consegue liderar a audiência durante alguns momentos do dia. Segundo Frazão, estudos mostram que uma edição chega a abarcar público superior a 70 milhões. Diante de tamanho alcance, é preciso aproveitar a oportunidade e trabalhar com artifícios que ajudem a desconstruir o preconceito. “No meio da maratona de 24 horas, sempre colocamos esquetes mostrando pessoas com deficiência”, destaca Frazão.
O começo
Originalmente criado em 1966, o projeto foi concebido com o propósito tanto de levantar recursos quanto de colocar em evidência a causa, que, até então, era ignorada pelo grande público.
“O Teleton foi criado pelo ator Jerry Lewis, que tinha um filho deficiente. Ele percebeu que havia mais pessoas com familiares na mesma situação, mas sem o dinheiro que ele tinha. Então, decidiu usar seu prestígio para ajudar”, conta Frazão.
Da mesma forma que a iniciativa surgiu a partir da solidariedade, foi também pela solidariedade que a iniciativa chegou ao Brasil, quando Clóvis Scripilliti, então presidente da AACD, comprou os direitos do Teleton e os doou para a associação.
Até por isso, o caso brasileiro é único entre os mais de 20 países em que o projeto é realizado — o Teleton acontece na Europa, América do Norte e América do Sul. “Nos outros lugares, os recursos captados vão para um fundo e são distribuídos para várias organizações. Só no Brasil é que uma única instituição recebe o dinheiro”, explica Frazão.
A área de captação da AACD tem a obrigação de conseguir 35% do orçamento de R$ 300 milhões da associação — o restante vem do que o poder público paga pelo atendimento médico. “O Teleton corresponde a mais da metade desse valor. A arrecadação, no entanto, varia com a economia. No ano passado, a meta era conseguir R$ 27 milhões com a maratona, e conseguimos R$ 32 milhões. Neste ano, a meta era a mesma, e empatamos”, diz Frazão.
As maratonas televisivas fizeram também com que a AACD ganhasse projeção internacional. “Hoje, nós recebemos pacientes de toda a América Latina e, sempre depois de um Teleton, observamos um pico de procura pelo nosso atendimento”, relata o representante da associação, que acrescenta: “Isso é de um valor incomensurável”.
Parcerias
A visibilidade também traz retornos em termos de parcerias com o setor privado. A edição do Teleton de 2016, por exemplo, teve dez patrocinadores oficiais, além de outras 40 marcas que, de diferentes maneiras, associaram-se à iniciativa. Há três anos, eram seis patrocinadores.
“O Teleton desperta interesse de toda a sociedade e destaca as marcas envolvidas no programa. Elas têm a oportunidade de aparecer de forma não comercial. Isso influencia nas escolhas do consumidor”, constata Frazão.