Já faz algum tempo que uma festa nos Estados Unidos ganha anualmente destaque ao reunir personalidades brasileiras. Mais do que um simples encontro de ricos e famosos, trata-se de um jantar promovido por uma boa causa: a gala da BrazilFoundation, que capta em torno de U$ 500 mil, recurso aplicado em projetos no Brasil.
“As galas são uma tradição nos Estados Unidos. Todo mundo faz: museus, escolas públicas e privadas. Costumam ser o evento mais importante de uma organização. Não precisa ser um jantar: pode ser um almoço ou até um happy hour“, diz a presidente da BrazilFoundation, Patricia Lobaccaro.
A organização foi criada em 2000 por brasileiros que viviam em Nova York. O objetivo era captar recursos com pessoas que moravam nos Estados Unidos e canalizá-los para o Brasil. “A maior parte do que conseguimos é por donor advisor: quem doa escolhe para qual instituição ou projeto o dinheiro vai”, conta Patricia.
As galas começaram em 2002, trazendo recursos livres, que poderiam ser utilizados como a fundação quisesse. “Na primeira, reunimos cerca de 300 pessoas num happy hour, que teve boa repercussão e boa arrecadação”, lembra Patricia. Desde então, o dinheiro captado é depois distribuído, via edital, para organizações brasileiras.
No ano seguinte, o que antes era um encontro grande, mas descontraído, transformou-se num jantar capaz de arrecadar até U$ 500 mil.
O dinheiro vem de fontes diferentes. Primeiro, há a venda de mesas para quem quiser participar e levar conhecidos. No dia, entre U$ 100 mil e U$ 200 mil são captados com doação ou com leilões – por exemplo, de viagens e itens de famosos (uniformes de jogadores, raquetes de tenistas…). “Grande parte das pessoas está ali porque alguém ou alguma empresa comprou uma mesa e as convidou. Deixamos então cartões para doação”, diz a presidente da BrazilFoundation.
Uma quantia dessa ordem só poderia ser arrecadada com um evento grande, que reúne em torno de 250 pessoas. O segredo para botar de pé algo desse tamanho? Voluntariado. “Ele é a alma da BrazilFoundation”, diz Patrícia. Um comitê de voluntários, com umas dez pessoas, fica responsável por organizar o jantar e mobilizar sua rede de contatos. O conselho da fundação também se envolve.
Outro ponto importante é encarar a oportunidade como ferramenta de engajamento, uma maneira de atrair novos doadores. “O jantar é uma porta de entrada. Mas tem de cultivar o contato depois, manter a comunicação, convidar para eventos menores”, ressalta Patricia.
Luxo com causa
As fotos das personalidades presentes – artistas globais, frequentadores das páginas de celebridades – e das atrações musicais (Fernanda Lima, Elba Ramalho…) podem dar a ideia de que tudo não passa de diversão. Ainda que seja, sim, um momento para celebrar, Patricia ressalta que “é preciso integrar a missão: as pessoas precisam saber o que estão celebrando, quais são as conquistas festejadas”.
Isso não significa abrir espaço para discurseira. “Os participantes estão, de qualquer forma, numa festa, e não prestam atenção em discursos longos. Vídeos costumam funcionar melhor. Também homenageamos projetos parceiros.”
Fazer um evento desse tamanho, com tantas atrações, não é barato – embora Nova York, com um terceiro setor mais consolidado, tenha muitas empresas que cobram menos de entidades beneficentes. A recomendação de Patrícia é que o custo não ultrapasse 25% do que se pretende arrecadar. A BrazilFoundation costuma ficar abaixo dessa faixa, inclusive porque consegue patrocínio para a ocasião.
O tempo para organizar também é uma questão. “O ideal é começar nove meses antes. Dá para fazer em seis meses. Já fizemos em três meses, mas aí fica muito corrido.”
Com receitas como essa, os jantares da BrazilFoundation se consolidaram. O resultado pode ser medido pela arrecadação (a média é de U$ 500 mil) e pelos projetos atendidos via editais (mais de 500). Mas também pela disseminação por outros lugares.
“Desde 2012, a comunidade brasileira em Miami, que é grande, faz uma gala. Tivemos também em Cannes, no mesmo ano, em São Paulo, em 2014, em Minas Gerais, por causa da tragédia de Mariana, em 2016”, conta Patricia.