Não é de hoje que as corridas de rua estão em alta. Associada à vida saudável e ao bem-estar, a modalidade caiu no gosto do brasileiro e tem conquistado cada vez mais praticantes. Tanto potencial pode — e deve — ser usado a favor do terceiro setor. Convidar as pessoas a correrem pela causa da sua organização não é somente uma forma de arrecadação de recursos imediata. É ainda uma eficiente maneira de dar visibilidade ao trabalho que você desenvolve. Mas se engana quem pensa que o percurso é fácil. Para ter sucesso na linha de chegada, é preciso investimento, planejamento e muito suor.
O Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer (Graacc) que o diga. Neste ano, a 17ª edição da sua corrida e da caminhada envolveu cerca de nove mil participantes. O porte do evento, no entanto, não dá pistas do início modesto que teve. “Começamos com uma caminha na Ibirapuera, em 2001, com a finalidade de chamar atenção para a causa. Já vendíamos kit e tínhamos foco também em captação, mas o principal era tornar a organização conhecida”, afirma Tammy Allersdorfer, superintendente de desenvolvimento institucional do Graacc.
Colocar algumas centenas de pessoas para andar no maior parque da cidade já era um grande feito, mas o Graacc percebeu que poderia chegar mais longe. Percebendo que as corridas de ruas começavam a se popularizar, decidiu também investir nelas. “Fomos conversar com empresas que organizavam esses eventos para ver a possibilidade de sair do Ibirapuera e ir para a rua”, conta Tammy.
Resultado: em 2004, em torno de 2 mil pessoas correram “pelas crianças do GRAACC e pela cura do câncer infantil”. Foi nessa ocasião que a instituição teve a dimensão do desafio logístico que era organizar uma iniciativa como essa. “O público corredor é muito exigente, e corridas demandam um investimento grande em estrutura. Em 2017, o custo foi de R$ 400 mil. Descontando esse valor, captamos cerca de R$ 800 mil com inscrições e patrocinadores.”
Hoje, o evento do Graacc faz parte do disputado calendário da cidade de São Paulo e se firmou como “a corrida que acontece no dia das mães”. “Nós fechamos o calendário do ano seguinte no anterior, para garantir a data e o local e começar as buscas por patrocínios”, diz.
Recuar para avançar
O Instituto Cooperforte, que incentiva o empreendedorismo como ferramenta para o desenvolvimento humano, foi outra organização a apostar na corrida. Realizou a primeira há dois anos, em Brasília. “Pesquisamos como era esse mercado na cidade e conversamos com outras organizações que também faziam”, conta Adriana Trancoso, coordenadora de projetos e relacionamento da instituição.
A edição inaugural contou com 534 inscritos e receita de R$ 89 mil. “No ano seguinte, conseguimos mais patrocínios e apoios, e aportamos menos recursos para colocar a corrida de pé.” O saldo foi de 1.231 inscritos e R$ 120 mil arrecadados.
Mas mesmo com a trilha já aberta, foi preciso recuar para tentar avançar. Neste ano, o mercado competitivo e a crise que atrapalha a busca por patrocínios levaram o instituto a não realizar a edição de 2017. Mas isso não significou o fim da linha. A estratégia foi transformar a iniciativa em um evento bianual, diz Adriana, que ressalta os bons resultados tanto do ponto de vista financeiro quanto de imagem que a corrida trouxe para o Cooperforte.