Muitas organizações da sociedade civil têm conselhos apenas no papel. Outras até mantêm alguns que funcionam de fato, mas de maneira afastada do cotidiano da instituição, quase como uma autoridade superior. E foi justamente para se aproximar de seus conselheiros — e contar com a ajuda deles durante um período de crise — que o Centro de Liderança Pública (CLP) lançou mão de uma tática: dar a eles metas de captação.
“As organizações consideram que não se pode exigir nada dos conselhos por eles serem compostos por voluntários. Isso não existe. É muito importante cobrá-los, até para calibrar expectativas”, diz Thais Bernardini, consultora de comunicação e relações institucionais da CLP.
Em fevereiro de 2017, a organização tomou a decisão inédita de chamar também seus conselheiros para participarem do planejamento estratégico para os próximos dois anos de atividade. “Levamos, na ocasião, termos de engajamento para que cada um deles assinasse, comprometendo-se com ações de captação de recursos”, explica.
Os termos respeitaram, no entanto, as individualidades de cada conselheiro. “Eles tinham habilidade diferentes. Alguns preferiram se engajar diretamente com questões do dia a dia da captação. Outros tornaram-se doadores. Houve quem se comprometesse em fazer ponte com um número determinado de pessoas que também poderiam doar”, conta Thais.
O que houve em comum para todos foi a cobrança em relação às metas. “Depois de uma semana da assinatura, já começamos a falar com eles para ver como estavam no que diz respeito aos objetivos.”
Mudança de visão
A disponibilidade dos conselheiros em participar do planejamento e da captação só veio após uma aguda crise. “Até agosto de 2016, tínhamos mobilizado apenas 30% dos recursos necessários para o ano. Decidimos envolvê-los na realização de um jantar de captação”, lembra a consultora de comunicação e relações institucionais.
Alguns compraram cadeiras; outros, mesas inteiras — sempre respeitando a capacidade econômica de cada um. No final, o evento foi um sucesso e o CLP conseguiu equilibrar as contas. Tão importante quanto a iniciativa em si foi o novo tipo de envolvimento que se estabeleceu a partir de então.
“Antes, os conselheiros tinham uma posição top down: tomavam uma decisão e ela descia para quem tocava o dia a dia da organização. Hoje, discutem as estratégias e os problemas da instituição. Um gerente de setor agora tem total liberdade para conversar diretamente com os membros do órgão”, ressalta Thais.
Outra mudança importante foi na maneira como captação passou a ser encarada. “Os conselheiros perceberam que não era uma atividade fácil. Anteriormente, eles no máximo indicavam pessoas para que nós conversarmos com elas. Agora, estão de fato engajados, e até criamos um setor para cuidar da mobilização de recursos, que antes era uma atribuição da direção executiva da organização”, finaliza.