Cara leitora, caro leitor, gostaria de apresentar o capta.lab. É o mais novo laboratório de inovação criado no Brasil, e dos poucos com foco na área social. É um laboratório para pensar e testar inovações em gestão social e captação de recursos. Mais do que apenas um espaço com muitos post-its e móveis modernos e multiuso, é um conjunto de conceitos, práticas e parcerias para desenvolver oficinas, palestras, desafios abertos, design sprints, workshops de ideação e prototipação de soluções para a gestão das ONGs.
Em seu primeiro ano de funcionamento, o capta.lab serviu para ajudar dezenas de ONGs e gestores a inovarem em seus processos de gestão e captação de recursos. Foi, claro, um processo com muitos acertos e erros, como é de se esperar quando se fala de inovação. Dentre muitas possibilidades, quero destacar os 2 maiores acertos e o mais incrível fracasso da iniciativa.
Um Hackathon é uma “maratona hacker”: um desafio em que se juntam dezenas de pessoas para propor uma abordagem ou solução nova, em formato de protótipo, a um problema complexo. No capta +, 10 das maiores ONGs brasileiras se juntaram para compartilhar seus dados de captação online e pedir ideias de programadores, cientistas sociais, economistas e ativistas em geral. Em 4 dias desafio, depois de muita pizza, esfiha e energético, foram premiados 3 grupos.
Dois deles propuseram novas interfaces para um app de celular de doação. O grande vencedor testou um chat bot (um “robô”) de inteligência artificial que aprendeu a conversar com potenciais doadores para tirar as principais dúvidas e aconselhar como, quando e por quê doar. Como prêmio, essa equipe recebeu recursos para desenvolver o protótipo. No começo de 2018, o robô deve fazer sua estreia oficial como captador (será que a ABCR já tem categoria para associados virtuais? 😉
Laboratórios de inovação como o capta.lab têm entre seus princípios a aplicação de ferramentas do chamado Design Thinking, uma filosofia de design centrada no usuário e que busca novas soluções para problemas reais. Um ponto central dessa abordagem é a empatia pelos diversos públicos envolvidos.
Realizamos em setembro uma oficina de empatia para que os captadores de recursos experimentem o que é ser um potencial doador abordado na rua pelos promotores de captação face-to-face. Os participantes puderam sentir o que é ser incomodado constantemente, sofrer com abordagens agressivas ou confusas e ter baixa confiança para dar um número de telefone ou de cartão de crédito. Dessa experiência começaram a surgir várias ideias de como minimizar esses problemas, como um maior treinamento em story-telling, um folheto de comunicação simples e direto e um certificado de qualidade a ser apresentado pelo captador como forma de tranquilizar o potencial doador.
Mas nem tudo foi sucesso em 2017. Um dos programas mais ambiciosos do ano não teve o resultado esperado. Inspirado por iniciativas como as do BIT – Behavioural Insights Team, da Inglaterra, o capta.lab tentou aplicar técnicas das ciências comportamentais para ver como melhorar campanhas de captação de recursos via e-mail. Testamos versões diferentes de uma campanha de arrecadação de uma fundação paulistana. Por meio de um RCT – teste aleatório controlado – foram enviadas 3 tipos de mensagem a potenciais doadores: a mensagem tradicional e as 2 novas versões. Cada versão apresentava algumas diferenças na forma de fazer o pedido, sempre com base em hipóteses de teorias comportamentais:
– mensagem tradicional: doe por que é importante (apelo a valores morais)
– mensagem nova 1: doe por que muitos outros da sua profissão também doam (apelo a pressão social)
– mensagem nova 2: doe por que você vai ganhar um desconto na loja X (apelo a razões egoísticas)
Infelizmente, a análise estatística do resultado não confirmou as expectativas: nenhuma abordagem nova trouxe mais resultados do que o apelo tradicional. Agora a equipe do capta.lab está aprofundando seus estudos para entender o que aconteceu e gerar aprendizado sobre a experiência. Uma hipótese é que as teorias de ciências comportamentais são, em sua maioria, desenvolvidas no exterior. Talvez seja necessário adaptar essas pesquisas ao Brasil – e aos brasileiros – para saber como aplicar tais ideias.
Só tem um problema nesse mais novo reino da inovação e dos post-its: ELE NÃO EXISTE! Infelizmente, ideias como a do capta.lab e dos projetos descritos acima ainda não saíram do papel.
Não precisa ser assim. Existem inúmeros laboratórios e espaços de inovação no mundo empresarial. O setor público também vem se modernizando: nos últimos 15 anos apareceram dezenas de laboratórios de inovação em muitos países, incluindo o Brasil.
Sabemos que as ONGs são criativas por natureza. A complexidade dos problemas com que lidamos e a crônica falta de recursos exigem dos profissionais e voluntários do setor criatividade e soluções inovadoras. A existência de um laboratório como o capta.lab ajudaria, em essência, a dar mais método e efetividade a essa criatividade. Todas as técnicas e abordagens descritas nesse texto existem e já são aplicadas corriqueiramente em outros setores da sociedade. Que 2018 traga novos e diferentes ventos à gestão das ONGs brasileiras!