Era o inicio dos 2000 e fui chamado para fazer uma consultoria para uma organização que atuava no Campo Limpo mas que se financiava através de todo o Brasil. Durante décadas, a Ação Comunitária do Brasil era uma das duas opções para compras de cartões de Natal por parte das empresas. Ou escolhia-se a Unicef ou a Ação Comunitária. Nós, meros mortais, comprávamos em papelarias, mas os milhões de cartões vendidos todo ano tinham como clientes o mundo corporativo.
Tudo bem até aí. Mas você já deve ter imaginado que investir em cartão de Natal como fonte de financiamento não é uma boa nos dias atuais. Foi o que eles começaram a perceber e me chamaram, faz 17 anos. Com uma super estrutura gráfica e um monte de Kombis para distribuição, era hora de começar a se reinventar. Lembro que sugeri conversar com alguns conselheiros deles, e descobri que eram mais de 80! Agendei com vários, desde empresários aposentados até jovens herdeiros.
Essa organização mudou recentemente de nome, chama-se agora Vocação, e está fazendo 50 anos. Não só se reinventou e diversificou seu financiamento como também reorganizou sua ação social depois de vários erros e acertos. Hoje o foco é na capacitação profissional através do apoio a organizações menores na região que atuam. Um forte empenho na gestão fazem da Vocação uma organização muito melhor do que a de 2000.
Mas a característica de melhorar continuamente não é só da Vocação. A AHPAS é outra organização exemplar. Atua em algo específico, não foge desse foco: faz a locomoção de crianças em tratamento de câncer entre o lugar que estão hospedadas e a consulta no hospital. Essa clareza e foco fazem da organização um exemplo de eficiência.
Vocação, AHPAS e outras 98 organizações acabam de ser reconhecidas como as melhores ONGs do Brasil. Trata-se da primeira edição do #melhoresOngs e é uma iniciativa do Instituto Doar e a Revista Época. Teve um número surpreendente de inscrições. A premiação já nasce com êxito. Mais de 1500 inscrições. São mais de 300 mil ONGs no Brasil. Entre associações de caridade, organizações da sociedade civil, institutos e fundações filantrópicas, estar entre as 100 é sinal de competência.
As organizações filantrópicas nunca aparecem na mídia a não ser para dizer de suas dificuldades ou de casos isolados de desvios de recursos públicos. Acontece que a ampla maioria das organizações faz um trabalho sério e estava na hora de reconhecê-lo, premiando a gestão e transparência das melhores. É esse o objetivo do #melhoresOngs.
A publicação ocorrerá todo ano, portanto organizações terão sempre a oportunidade de se aperfeiçoar. Não se trata de uma foto para a eternidade. Cada ano podem e devem ocorrer mudanças interessantes entre as 100 selecionadas. Mas o que mais me atrai nesse programa é que há um ecossistema que se beneficia do processo todo. Dias após a divulgação das vencedoras, várias empresas e instituições fizeram questão de destacar informações interessantes. Frases como: 11 das Ongs são clientes nossas, 7 das melhores são nossas associadas, etc. É o ecossistema do setor se desenvolvendo junto. E é isso que acho bacana.
Em paralelo, e isso levará mais tempo até percebermos em números, teremos pessoas colocando em seus posts ou fotos no Instagram mensagens como: A ONG que doo é uma das 100 melhores, ou então: Escolhi tal ONG pois ela é uma das melhores esse ano. Esse é o objetivo maior da iniciativa do Instituto Doar com a Revista Época. Servir de bússola, de farol, de referência. E assim eliminar um dos entraves muito citados por não doadores, que tem (agora tinham) a desculpa de que não sabiam para quem doar. Pois agora podem optar entre as 100 de cada ano!
Mas você deve estar se perguntando: o que o prêmio tem a ver comigo, que estou estudando mecanismos de captar mais e melhor? Bem, além do óbvio, que seria dedicar-se a melhorar continuamente a gestão e transparência da sua organização, é importante que você saiba que prêmios como esse geram resultados bem concretos.
Um ator quando ganha um Oscar multiplica por várias vezes seu cachê para o próximo filme. E as ONGs? Será que receberiam mais dinheiro? Pois a resposta é sim. Antes do #melhoresOngs houve uma experiência chamada Prêmio Bem Eficente, organizada pelo Stephen Kannitz, o mesmo que criou a publicação Melhores Empresas, da Exame. Essa experiência foi descontinuada, segundo ele por falta de recursos. O fato é que em seu curto tempo de vida gerou resultados que ele e sua equipe esmiuçaram. Alguns dados: as 50 instituições mais bem administradas do ano dobraram a sua renda de donativos nos três anos seguintes. Em média receberam R$ 2.000.000,00 de donativos adicionais no triênio seguinte. E a maioria do dinheiro adicional veio de pessoas que nunca haviam doado antes.
Portanto sim. Esforçar-se para participar de prêmios e certificações gera resultados objetivos e quantificáveis. Gestão e transparência é um dado bem objetivo. E um prêmio e um certificado geram um resultado claramente quantificável. Na medida que os anos passarem, mais precisos serão esses resultados no ecossistema das ONGs. E estaremos acompanhando e medindo esses dados.
Por enquanto, sua organização pode se espelhar nessas vencedoras. Converse, visite-as, vá aprender com elas. Mas vá rápido. Elas estão se distanciando cada vez mais do que é a média. Elas continuam melhorando a cada dia. Faça o mesmo!