A crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos tem impactado diversos segmentos, e com o terceiro setor não é diferente. Para que a sustentabilidade da sua ONG não seja seriamente ameaçada por esse cenário de recessão, é preciso traçar estratégias.
Foi o que fez a Associação Viva e Deixe Viver, que há 20 anos forma e leva contadores de histórias voluntários para hospitais, onde o foco são crianças e adolescentes internados. Na tentativa de amenizar os efeitos do tranco, a instituição apostou em novos indicadores para mostrar o bom trabalho por ela desenvolvido e manter parcerias — mais da metade dos recursos que capta vem de pessoas jurídicas.
“Quando a crise chega, projetos sociais são os primeiros a sofrer corte por parte das empresas”, comenta Valdir Cimino, fundador e presidente entidade.
O balanço social da organização mostra um ligeiro recuo na arrecadação entre 2015 e 2016 (de R$ 1.465 milhão para R$ 1.419 milhão). Já na transição para 2017, a perda foi mais crítica: a captação caiu para R$ 1.047 milhão. E isso com uma retração de 12 pontos percentuais no apoio empresarial, que era de 72% do total e foi para 60%.
Se a queda parece grande, poderia ter sido pior, não fosse uma aposta da Viva e Deixe Viver: adotar novos indicadores de impacto além de dados tradicionais, como número de pessoas atendidas e de voluntários.
“Começamos a avaliar diferentemente os projetos. A criança aceitou melhor a comida? Aprendeu mais? Com isso, conseguimos medir com mais precisão o impacto das nossas ações. Existe uma coisa ‘mágica’ nesses indicadores”, ressalta Cimino.
A instituição conseguiu até mesmo superar suas projeções negativas para 2018. “Até outubro de 2017, prevíamos reduzir em 30%, 40% a receita, mas os indicadores nos ajudaram a segurar recursos”, revela.
O diálogo franco com parceiros mais antigos também ajudou. “Trabalhamos formando voluntários em sete plantas da Mahle, que é da indústria automobilística, uma das mais afetadas pela crise.
Fizemos uma queda planejada, diminuindo o tamanho dos projetos em que estavam sendo mais efetivos.”
Valdir Cimino já consegue até ver com algum otimismo o cenário futuro. Novas parcerias, mesmo na situação atual, justificam sua análise. “Fechamos, no ano passado, um projeto com a Volvo, financiado pela Lei Rouanet. Em 2018, sinto um ambiente melhor, com interesses de novas marcas por nós.”