Em 2016, a atriz Cléo Pires foi até Jundiaí, interior de São Paulo, para uma gravação. Ela não estava ali por causa de alguma novela ou minissérie, mas para fazer o vídeo de lançamento de uma campanha em prol de um refúgio para onças.
Não era a primeira e nem a última vez em que a organização AMPARA Animal se apoiava em celebridades para captar recursos. “Funciona muito bem para conseguir mídia e conversar com empresas”, ressalta Juliana Camargo, fundadora e presidente da associação.
Naquele momento, a AMPARA (acrônimo para Associação das Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados) já contava com seis anos de experiência na estratégia usar personalidades do meio artístico para ajuda a promover campanhas. A primeira iniciativa nesse sentido, inclusive, aconteceu antes mesmo de a organização ser formalmente fundada, em 2010.
“Fui modelo e sou apresentadora, então, já conhecia muita gente do meio artístico. Via os calendários da PETA (conhecida organização internacional de proteção aos animais) com aquelas mulheres maravilhosas, e decidi fazer algo igual por aqui. O primeiro foi apenas com modelos que tivessem algo a ver com causas animais, como terem adotado algum bicho e serem vegetarianas”, lembra Juliana.
Depois, a AMPARA diversificou e também passou a trabalhar com atores. E as celebridades têm cumprido um papel fundamental para que a organização tenha nas empresas sua principal fonte de captação —90% dos recursos arrecadados pela organização vêm de pessoas jurídicas.
“Celebridades dão confiabilidade para as organizações. Como elas prezam muito por sua imagem, tomam cuidado para não se envolver com instituições que possam estar ligadas a escândalos. Algumas pessoas chegam a pedir para olhar nossas contas para se certificar de que está tudo correto”, diz.
Outro lado da moeda
Paradoxalmente, celebridades têm um efeito diverso com o público em geral. “Elas dão visibilidade à organização, mas também glamourizam demais a instituição, dando a impressão, para as pessoas, de que não precisamos das doações delas, pois somos bem relacionados”, pondera.
Há outro aspecto que deve ser considerado: quanto maior a visibilidade, maior a cobrança. “Na campanha da onça, por exemplo, em dado momento, Cléo Pires apareceu na mídia em um evento da Seara. A indústria da carne mata onças para preservar seus animais de corte. Houve muita repercussão e a campanha fracassou”, conta Juliana, que alerta: “O público cobra coerência.”
Até por isso, a AMPARA mudou o foco inicial do perfil das celebridades buscadas. “Antes, exigíamos que fossem vegetarianas. Mas esse não é a nossa causa. Hoje, o principal é serem militantes da adoção de animais, são pessoas que já adotaram. Muitas fizeram isso com a gente”, afirma.
Suor e paciência
Apesar dos irrefutáveis ganhos, trabalhar com personalidades do meio artístico não uma tarefa propriamente simples. “Não é fácil ajustar a agenda de 12 celebridades para fazer um calendário. Além disso, há dificuldades de contato, principalmente quando ele é feito via empresários. Nesses casos, pode ficar ligando sem parar para ele não esquecer de você. Mas se tiver contato direto do artista, convém não ser tão insistente para não ficar como o chato”, recomenda.
A AMPARA também tenta garantir ao menos um porta-voz para cada campanha. “É importante ter um embaixador e fazer com ele um planejamento de envolvimento, combinando presença em eventos e posts em redes sociais.” E se trazem visibilidade e credibilidade, artistas realmente engajados com a causa podem oferecer ainda mais. Você se lembra da ação em prol do santuário das onças? Aquela que deu errado? Pois bem, o casal de atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank doou um recinto para o projeto.