O papel da liderança é decisivo na captação de recursos para Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e não termina no cumprimento de metas. A função demanda facilitação de processos, mentoria de equipe e um olhar atento para o bem-estar de todos. Para Thiago Massagardi, sócio-diretor da Everest Fundraising, liderança “é aquela figura que vai ter condições de fazer com que o seu time consiga desempenhar o papel da forma correta, da forma eficaz, eficiente e efetiva”. Essa definição, embora simples, carrega a complexidade de garantir que cada membro da equipe esteja alinhado com os processos e ferramentas que potencializam seu desempenho.
O ambiente de trabalho das OSCs, especialmente em áreas de captação, é muitas vezes marcado pela pressão por resultados. Nesse contexto, a saúde mental e a qualidade de vida dos profissionais ganham uma importância ainda maior. Thiago alerta para a necessidade de uma liderança que entenda as limitações e capacidades de cada integrante da equipe. “A liderança precisa primeiro ter uma compreensão clara das capacidades que cada um da equipe tem para entregar”, diz ele, ressaltando que metas irreais podem levar à ansiedade e, consequentemente, a uma queda no desempenho.
O perigo do “achismo” nas metas de captação foi outro ponto abordado. Thiago destacou casos em que diretorias estabelecem metas duplicadas sem qualquer planejamento concreto, gerando um ciclo de ansiedade e frustração dentro da equipe. “Parar com o achismo e estabelecer metas com base matemática e análise de dados é fundamental para evitar a sobrecarga e o colapso dos captadores”, alerta.
Ao ser questionado sobre as habilidades necessárias para liderar eficazmente na captação de recursos, Thiago destacou a importância de saber lidar com pessoas. Ele observa que, com o avanço das tecnologias e das ferramentas de inteligência artificial, as relações humanas estão se tornando cada vez mais robotizadas. “Acho que a primeira coisa é você ter essa capacidade de lidar com seres humanos, com pessoas. E acho que isso a gente está vendo cada vez menos”, afirma.
Além disso, ele enfatiza a importância da capacidade de comunicação. Para Thiago, um líder precisa saber escutar mais do que falar, compreendendo o que motiva e preocupa sua equipe. Essa habilidade de ouvir permite identificar problemas e buscar soluções mais eficientes. Outra competência destacada é o conhecimento técnico na área de captação, que, embora não seja uma exigência, pode ser um diferencial significativo, especialmente para aqueles líderes que se envolvem diretamente no campo, acompanhando o trabalho dos captadores e ajudando a melhorar sua performance.
Thiago também sugere que um bom líder deve incentivar o desenvolvimento intelectual de sua equipe. “O captador precisa desenvolver o lado intelectual também, não só o lado técnico. Um bom líder consegue desenvolver isso na equipe,” explica. Ele acredita que a captação de recursos não se resume a números e metas, mas também envolve a capacidade de argumentação e engajamento com os doadores. Discutir o impacto do trabalho da organização em políticas públicas, por exemplo, pode enriquecer o repertório dos captadores, tornando-os mais eficazes em suas abordagens.
A ascensão da tecnologia, especialmente da inteligência artificial, tem transformado a forma como as OSCs gerenciam a captação de recursos. No entanto, Thiago adverte contra a completa automação dos processos, que pode desumanizar as interações com doadores. Ele destaca que, apesar dos avanços tecnológicos permitirem automações e otimizações, o fator humano continua sendo essencial na captação de recursos. “No final das contas, o doador vai doar quando ele vê aquela criança e seus olhos brilham. Não há tecnologia que substitua essa conexão humana,” afirma.
O uso excessivo de ferramentas tecnológicas pode levar as organizações a perderem o contato com sua base, desumanizando o processo e, em última análise, afastando os doadores. Thiago acredita que a chave para o sucesso está em equilibrar o uso da tecnologia com interações humanas genuínas, garantindo que o doador sinta a autenticidade do trabalho da organização.
Thiago discutiu as diferenças geracionais dentro das equipes de captação de recursos e como essas diferenças afetam a dinâmica de trabalho. “Vejo muita liderança falando, ‘ah, porque essa juventude não quer trabalhar’, mas precisamos entender que as relações humanas mudam”. Ele argumenta que, embora as gerações tenham diferentes formas de se relacionar com o trabalho, é um erro atribuir a falta de comprometimento exclusivamente a uma questão geracional.
Thiago destacou a importância de respeitar a busca por qualidade de vida que muitos profissionais mais jovens trazem como prioridade. “Eu preciso compreender que há uma parcela da minha equipe que demanda tempo livre, que valoriza sua qualidade de vida, e não posso sobrecarregá-los”, diz. Ele sugere que a liderança encontre um equilíbrio entre as exigências do trabalho e as necessidades individuais dos membros da equipe, garantindo um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas