Desde abril de 2017, o Instituto Socioambiental (ISA) levou mais de cinco mil pessoas ao Parque Indígena do Xingu. Nenhuma delas pisou na área de 27 mil km², situada no norte do Mato Grosso. Todas estiveram ali graças à experiência de imersão proporcionada por um vídeo de realidade virtual, recurso que oferece a organizações da sociedade civil a chance de apresentarem a potenciais doadores lugares onde eles dificilmente — ou nunca — chegariam.
“Graças a essa tecnologia, conseguimos superar um grande obstáculo para o engajamento, que é transportar as pessoas para alguma aldeia indígena”, diz o coordenador de comunicação do ISA, Bruno Weis.
Batizado de “Fogo na Floresta”, o curta-metragem lançado pelo ISA foi dirigido por Tadeu Jungle, que já havia usado a realidade virtual no curta “Rio de lama”, sobre o desastre ambiental de Mariana (MG).
Um dos desafios do instituto, segundo Weis, é falar com o público que não tem familiaridade com questões indígenas. “Trabalhamos com conteúdos mais técnicos, para pessoas que já conhecem o assunto. Decidimos fazer algo simples, introdutório, para quem nunca viu uma aldeia”, explica.
A curiosidade em torno da ferramenta já é em si uma deixa para iniciar uma conversa. “A realidade virtual permite unir forma e conteúdo de maneira muito potente”, ressalta.
Embora aparentemente simples, a tecnologia — que pode ser acessada por meio de óculos ou capacetes especiais — é, na avaliação do coordenador de comunicação, ainda pouco explorada. “Levamos a campanha para a Suécia, e ninguém por lá havia passado por uma imersão em 360º.”
Ações no “mundo real”
A campanha do ISA foi co-produzida pela Academia de Filmes e contou e com a participação da atriz Fernanda Torres, que aceitou fazer gratuitamente a narração do filme.
Em várias exibições do curta, foi distribuído aos expectadores material com explicações sobre a atuação do instituto. Na estreia do vídeo, durante a edição de 2017 do Festival Internacional de Documentários “É tudo verdade”, o ISA levou dois indígenas do Xingu para conversarem com o público.
E o trabalho de engajamento não se encerrou com a exibição do vídeo. “Pegamos os contatos das pessoas e colocamos em nossa base. Elas já estão mais interessadas em nosso trabalho”, afirma.
Dentro da prisão
Outra a apostar na realidade virtual foi a Rede Justiça Criminal, formada por oito organizações não governamentais que promovem ações de advocacy. No ano passado, ela usou o recurso para proporcionar um mergulho na realidade da superlotação prisional.