As organizações da sociedade civil (OSCs) que trabalham com educação passaram por períodos turbulentos e de incertezas desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, em março do ano passado.
Quando os olhos do mundo se voltaram para a área da saúde, por razões óbvias, a educação ficou em segundo plano. As escolas foram fechadas e o ensino remoto foi a alternativa encontrada não só por instituições de ensino como por organizações que atuam na área de educação.
Talvez o grande desafio das OSCs diante de tudo isso tenha sido lembrar a importância de não parar de investir em educação e manter a recorrência das doações. A causa em si precede qualquer explicação, mas quando falamos em captação de recursos, é preciso ter estratégia. Uma delas é diversificar as fontes para não depender exclusivamente de um financiamento único e correr risco de não seguir com os projetos da organização. Há diferentes opções e nós separamos algumas delas para a sua OSC no final deste texto.
Para a gerente de relacionamento do Insper, Carol Velasco, as OSCs também precisam estar atentas ao que o mercado pede, como os indicadores ESG (Environmental, Social and Governance, ambiental, social e governança, em português). “O ’S’ de social tem a ver com esse investimento na sociedade, na educação”, afirma.
O ESG tem motivado as empresas a melhorarem nesses três aspectos e isso passou a ser usado como critério para os investidores na hora de escolher onde colocar o dinheiro. As OSCs precisam começar a implementar os indicadores ESG para atrair recursos financeiros.
Passados quase dois anos da pandemia, o coordenador de projetos da Giral, Leonildo Moura, acredita que chegou o momento de pensar nos impactos que a pandemia causou ao setor e, principalmente, aos alunos. E olhar para o futuro. Afinal, a educação sempre esteve entre as causas que mais recebem investimento.
Segundo o estudo da Pesquisa Doação Brasil 2020, promovido pela IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), a pandemia mudou a prioridade dos brasileiros quando se trata das causas mais sensibilizadoras. A educação caiu consideravelmente no ranking.
Para efeito de comparação, em 2015, a educação ocupava o 7ª lugar com 11% entre as oito causas que mais receberam doações. Já em 2020, a pontuação despencou para 1%. O combate à fome e à pobreza é a prioridade dos brasileiros em 2020, seguido de causas envolvendo crianças e idosos.
“Precisamos elaborar um diagnóstico da educação, ter dados e informações reais, avaliações internas e externas para escrever e propor bons projetos”, avalia Moura, que atua na formação de crianças e adolescentes em Pernambuco.
E ele continua: “A educação é a base de tudo e a gente prioriza muito isso, principalmente crianças e adolescentes do campo. É usar a educação como um trampolim para a mudança. Não existe outro caminho”, reforça.
Fontes de captação de recursos para a educação
Agora, veja a lista de fontes de financiamento possíveis para a sua organização:
Parceria com órgãos do governo
Uma das estratégias para a captação de recursos na educação é fazer convênios com os governos locais através das secretarias de Educação ou de Assistência Social para executar projetos de formação de professores, crianças e adolescentes, e moradores da comunidade.
Comece com uma reunião para apresentar o trabalho da sua instituição e depois apresente um projeto. Nem sempre a resposta é imediata, e geralmente não é, mas começar a rede de relacionamento é muito importante.
Fundo de bolsas
Geralmente o fundo de bolsas é feito por meio de doações de pessoa física e pessoa jurídica, e da restituição das bolsas parciais ofertadas pela instituição de ensino. Além de formar novos talentos, muda a vida de muitas famílias. É uma modalidade de captação de recursos para a educação que precisa ser bem estruturada pela instituição de ensino.
Empresários locais
Busque por parcerias e patrocínios com empresários locais apresentando projetos que ajudem a comunidade e que visem a melhoria do bairro.
Trabalho voluntário
Os voluntários têm um papel de extrema importância nas organizações da sociedade civil que, muitas vezes, não têm verba para contratar mais funcionários ou mesmo manter a equipe.
O voluntariado é uma forma de manter os projetos e ajudar a fomentar recursos financeiros. Sem contar que costuma atrair pessoas que se identificam com a causa e valores da organização na qual pretendem atuar.
Editais
Fique atento aos editais de instituições públicas e privadas para participar do processo seletivo. No site da ABCR divulgamos oportunidades e editais abertos na área de educação.
Marketing e comunicação de causas
A comunicação é uma ferramenta que deve ser usada na captação de recursos tanto para conseguir investimento como para manter a relação com os doadores, sempre alinhada com as ferramentas de marketing.
Para a gerente de relacionamento do Insper, Carol Velasco, uma das estratégias que tem funcionado é contar as histórias de mudança de vida através da educação.
“Contar o desenvolvimento e a transformação que a educação faz a partir das histórias de vida . Não existe transformação maior que a educação”, afirma.
Carol ainda avalia como é importante segmentar o público com o qual pretende se comunicar e fazer campanhas de divulgação. Dessa forma, cada um deles será impactado de diferentes formas aumentando as chances de doação, mesmo que a longo prazo.
Crowdfunding
O crowdfunding, ou financiamento coletivo, pode ser usado como fonte para a obtenção de recursos para a educação em diferentes projetos.
Escolha uma plataforma de crowdfunding para criar a sua campanha. Seja transparente e fale detalhadamente como será o projeto, valor necessário e prazo para encerrar o financiamento. Não deixe de divulgar o projeto nas redes sociais para que atinja o maior número de doadores possíveis.
A ABCR tem um grupo temático de membros que atua exclusivamente com educação. É um espaço para compartilhar experiências e desenvolver ações coletivas de captação. Associe-se e faça parte do grupo.