Os debates sobre o uso de inteligência artificial para otimizar processos dentro de organizações sem fins lucrativos do país têm se tornado cada vez mais populares. No entanto, o Terceiro Setor enfrenta desafios para colocar em prática aspectos básicos relacionados à conectividade.
Esta é uma das conclusões da Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas organizações sem fins lucrativos brasileiras, lançada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR.
Embora o uso da internet por organizações do setor tenha passado de 71% em 2016 para 82% em 2022, a exclusão digital está longe de ser superada por elas. As informações coletadas mostram que 18% das entidades não utilizaram a internet nos 12 meses anteriores à pesquisa. Entre as instituições que acessaram a internet, prevaleceu o uso de celulares (frequentemente pessoais) e a baixa presença online.
Se a pandemia da Covid-19 exigiu a paralisação de ações presenciais e uma migração para o ambiente virtual, poucas organizações usaram a internet para a captação de recursos: apenas 22% delas receberam doações por esse meio em 2022. Há uma baixa institucionalização da prática e pouco uso do website das próprias organizações para isso e poucas campanhas de financiamento coletivo (crowdfunding).
Um cenário semelhante ocorre em relação às redes sociais: 43% das organizações usam esses espaços para solicitar doações. A maioria posta fotos de atividades realizadas, notícias sobre temas relacionados à sua atuação, divulga vídeos ou áudios. realiza lives ou transmissões online em tempo real de eventos ou responde a dúvidas e comentários.
Enquanto as estratégias de comunicação migraram para o ambiente digital, o mesmo não ocorreu com a captação de recursos devido, sobretudo, a problemas infraestruturais e à baixa capacidade na área de tecnologia da informação. A maior parte das organizações relatou ter poucos recursos financeiros para investimento na área de tecnologia. Outras dificuldades foram a falta de dispositivos adequados ao acesso à Internet e a falta de habilidades digitais das equipes.
A pesquisa mostrou um predomínio no uso do telefone celular (89%), o que pode limitar a diversificação de atividades realizadas. Em seguida estão: notebook (74%), computador de mesa (70%) e tablet (23%). Grande parte dos dispositivos eram pessoais, e não de propriedade das organizações. Em relação ao celular, em 76% das instituições, os equipamentos pertenciam a membros da equipe, situação inversa quando se fala em computador de mesa (em que 60% eram de propriedade das organizações, contra 32% pessoais) e notebooks (51% contra 43%).
Os dados chamam a atenção, pois as redes sociais são estratégicas para a comunicação de causas e possuem um alto potencial para a captação de recursos. O Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais em todo o mundo, com 131,5 milhões de usuários, apontou um levantamento da Comscore. Entre elas, a mais utilizada é o Instagram: são 113 milhões de usuários. Mesmo que as organizações comuniquem suas ações pelas redes sociais, falta explorar todo o potencial do ambiente digital para pedir doações e alavancar campanhas de captação de recursos.
Em 2022, 67% das organizações receberam doações de pessoas físicas, 47% contaram com o pagamento de mensalidade e anuidades pelos associados. Em menores proporções, estão as seguintes fontes de recursos: igrejas ou organizações religiosas (27%), venda de produtos e serviços (24%), empresas privadas (22%), órgãos governamentais municipais (19%), outras organizações sem fins lucrativos (15%), órgãos governamentais estaduais (13%) e órgãos governamentais federais. Para acessar a pesquisa completa, acesse: cetic.br/pt/pesquisa/osfil
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas