A possibilidade de impulsionar organizações da sociedade civil em um curto espaço de tempo por meio de um programa de aceleração é sedutora, mas é preciso avaliar as condições das instituições de se dedicarem a ele. A ressalva é feita por Rodrigo Cavalcante, CEO da Phomenta, negócio de impacto social que certifica ONGs, acelera empreendedores do 3º setor e transforma voluntários em consultores de impacto. Neste post, trazemos os principais pontos a serem considerados sobre o que é e como funciona um programa de aceleração com foco em organizações da sociedade civil.
Os programas de aceleração
Consistem em uma série de capacitações desenvolvidas para que as instituições se aperfeiçoem em um assunto específico ou em vários temas. A duração pode variar de algumas semanas até um ano. Durante o período, são apresentadas técnicas e materiais que ajudam as organizações a otimizarem seus resultados e há o acompanhamento de profissionais qualificados.
Geralmente, várias instituições realizam o programa ao mesmo tempo e estabelecem conexões, além de ampliarem sua visão de mundo, já que conhecem outras realidades. Há também modelos de aceleração em que as instituições podem receber um aporte financeiro para tirar suas ideias do papel e viabilizar novos projetos.
“O conceito de aceleração é emprestado do ecossistema de empreendedorismo e a ideia é aumentar a velocidade com que uma ONG se desenvolve e ganha maturidade. Utilizamos esse conceito para acelerar o fortalecimento institucional dessas organizações por meio de áreas como captação de recursos, gestão de pessoas, monitoramento de indicadores de um jeito mais rápido do que se elas fizessem isso por conta própria”, esclarece.
As organizações aceleradas pelos programas da Phomenta em 2021, por exemplo, captaram mais de 4,4 milhões de reais e conseguiram mais de 320 parcerias. O negócio de impacto social possui mais de dez programas de aceleração com cinco módulos, sendo que cada módulo tem duração de um mês. Ele atende diferentes públicos e necessidades. Dessa maneira, é possível auxiliar tanto organizações mais novas como as mais experientes, dependendo da compatibilidade entre os objetivos das instituições e as propostas de cada aceleração.
Acelerações são vantajosas, mas exigem foco e dedicação
Como é possível garantir o impulsionamento no Terceiro Setor? De acordo com Rodrigo, os bons resultados são fruto de uma programação intensa de conteúdo, da dedicação das instituições em apreendê-los e colocá-los em prática e da utilização das ferramentas certas. Embora as acelerações possam atender uma variedade de instituições, é preciso ponderar o momento de cada uma, assim como sua capacidade de participação.
“Nem sempre é interessante procurar a aceleração. O programa é intenso e demanda dedicação. Se a OSC está passando por um momento de transição de liderança é bom avaliar se vai conseguir participar. Às vezes, a organização está participando de outro programa e é bom estabelecer prioridades para conseguir acompanhar o conteúdo. Não adianta ela ouvir o conteúdo e não aplicar.”, afirma.
Usando o exemplo da Phomenta, Rodrigo conta que as acelerações apresentam técnicas que podem ser utilizadas na mesma semana ou até no mesmo dia pelos participantes, que são incentivados a fazer pequenos experimentos para verificar o que funciona ou não. Essa adequação de recursos disponíveis aos propósitos das instituições faz toda a diferença e nem sempre acontece fora das capacitações. Após apresentar as ferramentas que podem auxiliar os participantes, a Phomenta propõe que cada organização execute uma missão para aplicá-las. A equipe do negócio social realiza assessorias para apoiar as instituições e, ao final, os participantes se reúnem para debater os resultados.
Desmistificação da captação de recursos
Uma das grandes dores do Terceiro Setor é a área de captação de recursos, que é vital para o funcionamento das instituições. Por isso, as instituições precisam profissionalizar o setor, investindo em capacitações e na diversificação de fontes financeiras com o intuito de assegurar não apenas sua sobrevivência, como também o sucesso. O
Programa de Aceleração de Impacto Social (PAIS), por exemplo, é focado em apresentar técnicas modernas de captação de recursos e gestão e, neste ano, inovou no formato do curso gratuito de Captação de Recursos ao realizá-lo por meio de um chatbot (robô que interage com usuários) no WhatsApp. Desde sua criação em 2018, o PAIS já auxiliou mais 84 organizações, localizadas em 18 estados do país, a conseguirem captar mais de R$ 3,8 milhões.
O CEO da Phomenta acredita que a captação de recursos precisa ser mais debatida para que as pessoas estejam mais bem preparadas para saber executá-la. “Tentamos desmistificar um pouco esse tema pois é uma atividade sempre vai existir, pois todas organizações precisam disso para manter sua operação. Depois, começamos a discutir opções para acessar recursos como as leis de incentivo, parcerias com poder público, captação com pessoas físicas e editais. Cada ONG escolhe o que faz mais sentido para ela e o que irá explorar. Todo nosso processo é baseado em testes, experimentos pequenos, rápidos e baratos para validar o que funciona e não gastar muito. Queremos mudar a mentalidade e fazer com que as ONGs façam experimentos e que o caminho surja também a partir de erros e de maneira mais orgânica”, enfatiza.
Uma história emblemática nesse setor é a do Laboratório da Cidade, organização sem fins lucrativos que atua em Belém (PA) cuja missão é repensar as cidades, suas dinâmicas e transformações, almejando cidades mais humanas, democráticas, resilientes e sustentáveis. A organização tinha muitas ideias sobre novas formas de captação de recursos, mas que não se concretizaram. Com a ferramenta Matriz de Priorização, o Laboratório da Cidade passou a utilizá-la em diferentes momentos e com diversos times.
A instituição criou uma ação interna chamada “Sexta da captação”, na qual cinco pessoas da equipe se concentram na estruturação da captação de recursos com o auxílio do conteúdo aprendido no Programa de Aceleração de ONGs oferecido pela Phomenta. A equipe já arrecadou 130 mil reais e possui outras ações em andamento.
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Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas