“Histórias mudam pessoas e pessoas mudam o mundo”. A afirmação de Marcelo Douek, CEO da Social Docs – pVisualizar (abrir em uma nova aba)rimeira empresa do país especializada em contar histórias de impacto social – transparece não apenas a essência da companhia, como também uma prática antiga da humanidade. Em inglês, o termo para isso é storytelling: uma junção de story (história) e telling (contar). Embora muitas pessoas façam isso de maneira intuitiva, esta arte de contar histórias utiliza alguns recursos para tornar a narrativa mais envolvente e cativante para a audiência. “Estamos o tempo inteiro contando histórias uns para os outros, no trabalho, no bar, no fim de semana. É da nossa natureza contar histórias, só que a grande maioria de nós nunca parou para estudar narrativas”, diz Marcelo.
Ele acredita que quanto mais histórias de impacto social forem contadas, mais pessoas serão sensibilizadas e se mobilizarão para construir uma sociedade melhor. O uso do storytelling possui uma estreita relação com a captação de recursos que dialoga com potenciais doadores recorrentemente para aumentar as doações para uma causa e/ou organização. Veja alguns elementos comuns às histórias.
Protagonista: O personagem principal é aquele que vive uma jornada e tem um objetivo, que é algo que ele quer ou de que precisa. Nem sempre o personagem sabe que objetivo é esse e pode descobri-lo posteriormente. A narrativa é o acompanhamento da jornada desse protagonista em busca do objetivo.
Conflito: Para o protagonista alcançar esse objetivo, sempre há obstáculos que vão transformando esse personagem. Ao longo da jornada, vemos o personagem superando essas barreiras.
Universo: A história ocorre dentro de um universo específico, que pode ser geográfico ou temporal, mas mostra o ambiente onde ocorre a narrativa. Na maioria das vezes, a história transmite uma mensagem. O personagem passa por várias barreiras dentro desse universo e, ao final, é transformado.
Segundo Marcelo, as organizações devem apresentar narrativas que sejam críveis e façam sentido para o público. O CEO da Social Docs compartilhou algumas dicas com a ABCR para auxiliar no desenvolvimento de campanhas de captação com storytelling em qualquer mídia.
Neste campo, há a definição da perspectiva da história: de um beneficiário, de um doador, de um colaborador, de um líder de campanha ou do líder da organização. Preencha com o nome, origem, local de residência, grau de escolaridade, profissão e acrescente um sonho e uma frustração deste protagonista. “É muito importante pensarmos na história que queremos contar e de que ponto de vista. A história de um beneficiário, por exemplo, é muito diferente de um líder de campanha’’, destaca Marcelo.
Dedicar tempo a essa seção é importante e, quanto mais detalhes forem inseridos, mais chances de aumentar a qualidade da narrativa. Nesta etapa, vale refletir sobre o que personagem quer ou de ele precisa, o que o impede de conquistar isso, quais são as ações do personagem para conquistar seus objetivos e como uma rede de pessoas pode ajudá-lo a superar as dificuldades. No caso da captação, algumas alternativas são a doação de tempo, de habilidades ou de recursos.
Nesta etapa, a ideia é estruturar uma história com começo, meio e fim de maneira didática com os elementos mencionados: protagonista, conflito e mensagem dentro de um universo específico. Para as organizações sociais, há a possibilidade de mencionar as dificuldades que um beneficiário enfrenta para acessar algum serviço. É essencial fazer uma priorização de elementos que serão escolhidos conforme o intuito da campanha.
“Existem muitas histórias potencialmente boas em cada ponto de vista. A escolha do personagem depende do objetivo da campanha, o que você quer fazer e para que irá construir essa peça. Para uma campanha de pedidos de doação, talvez seja mais relevante ouvir a voz de um beneficiário que tem a vida transformada pela ONG porque isso sensibiliza mais quem está vendo do outro lado do que a voz do presidente da organização fazendo pedidos por terceiros”, explica Marcelo.
“Por outro lado, quando contamos uma história de algo que aconteceu e do que mobilizou a liderança, talvez faça mais sentido colocar o líder da organização ou o líder de campanha. São pontos de vista diferenciados, não tem um melhor ou pior, mas o mais adequado à peça, pois objetivos distintos certamente levarão a escolhas diferentes de protagonistas das histórias. É muito importante escolher um recorte para falar da organização, pensar o que une todas essas histórias. Encontre um recorte específico para o que deseja comunicar porque a tendência é querermos falar de tudo e não darmos conta”, acrescenta.
De acordo com ele, dá para estruturar boas campanhas de captação com o celular. Basta refletir sobre esses elementos para criar um roteiro que sirva como um guia para a produção do conteúdo. Uma campanha criada em conjunto com a Social Docs foi a do Dia do Bem Fazer, realizada para o Instituto InterCement Brasil. O Dia do Bem Fazer foi criado pelo instituto em 2009 e é um convite à cidadania ativa que celebra o poder do trabalho voluntário coletivo. Para isso, o InterCement convida as pessoas a fazerem um trabalho voluntário – como a pintura de um espaço, participar de uma reforma ou arrecadar alimentos – em suas comunidades.
A partir de instruções sobre produção de conteúdo oferecidas pela Social Docs, a equipe do InterCement realizou filmagens com o celular dando depoimentos e mostrando mobilizações do Dia do Bem Fazer que, neste ano, reuniu mais de 3 mil voluntários em 18 cidades do país para impactar positivamente as comunidades. “Minha grande provocação é fazer as pessoas trazerem sua produção,de texto, vídeo ou o que for, para um processo de consciência. Falar do personagem, do problema, sobre onde o personagem precisa chegar, refletir se faltou algo. Dá para fazer isso em qualquer meio”, finaliza Marcelo.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas