Quando falamos em recursos, é natural que pensemos em recursos financeiros ou materiais, mas é preciso ampliar essa discussão e expandir o conceito. No Terceiro Setor, os recursos são tudo que está ao redor das instituições: podem ser materiais, financeiros ou humanos. Por isso, a captação de recursos não deve considerar apenas o alcance de novas metas financeiras, mas também a manutenção do que já existe e a otimização do que ocorre no dia a dia.
“A captação é uma ação dentro da organização. É algo vivo e dinâmico e chama a atenção para que a organização seja enxergada como algo em profunda transformação, mas, acima de tudo, como um conjunto de pessoas. Falamos de emoções, áreas, estruturas, processos. A área de captação, assim como de gestão e prestação de contas, compõe algo sistêmico dentro da organização”, analisa o contador e advogado Ricardo Monello, sócio-fundador do Grupo Audisa, parceiro da ABCR.
Ricardo explica que a comunicação dos recursos captados envolve permanentemente todas as pessoas das entidades filantrópicas e isso deve ser feito de maneira clara e prezando pela transparência e integridade, que não se referem apenas a atos criminosos, mas também a erros não intencionais que podem comprometer a captação e gerar mais esforços de comunicação e até uma gestão de crise. Quando as entidades filantrópicas comunicam os recursos captados, desejam compartilhar seu maior valor: a credibilidade. Para manter a boa reputação, é importante evitar fraudes e falhas técnicas nesse processo.
A transparência significa a disponibilização de informações compreensíveis, verdadeiras e completas para todas as partes interessadas, incluindo mantenedores, doadores, parceiros e comunidades apoiadas. É uma cultura que precisa ser estimulada internamente para que a instituição deseje disponibilizar as informações. Para manter a transparência, as organizações precisam pensar nos seus estatutos e questionar se eles são modernos, dinâmicos e contemplam as oportunidades e solucionam as dificuldades. Se isso não ocorrer, é preciso repensá-los.
Outro aspecto relevante é a integridade, que consiste em um conjunto de mecanismos e procedimentos internos éticos, na auditoria e no incentivo à denúncia de irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar desvios, fraudes, irregularidades, Além de expressar uma opinião sobre as demonstrações contábeis, a auditoria valoriza a imagem da entidade, a credibilidade e transparência da gestão, a marca que a entidade formou ao longo da sua história, o atendimento às normativas técnicas e legais internas e externas, a adequada utilização dos recursos em conformidade com seu estatuto social e com os projetos desenvolvidos.
“Uma entidade auditada passa uma imagem melhor de transparência e gestão porque se submeteu a uma análise externa. A organização está mais preocupada com a testagem de que cumpre normas técnicas e legais. Há uma confrontação da captação de recursos com o que está no projeto e no estatuto social. A organização permitirá ser confrontada em relação aos recursos com aquilo que foi prometido, desenvolvido e executado. Percebemos, de modo geral, que a auditoria foi extremamente contributiva para clientes com mais sucesso na execução dos projetos, melhor performance em gestão, de orçamento e na captação porque valida a aplicação adequada dos recursos e resultados fortalecendo a própria imagem”, ressalta Ricardo.
A divulgação sobre a instituição precisa considerar também a perspectiva dos doadores e não apenas o olhar dos responsáveis pelo trabalho. “Quando pensamos em transparência e integridade, devemos ter em mente aquilo que o outro lado espera receber da gente, sejam as informações mais simples ou de contabilidade”, afirma Ricardo. Os demonstrativos devem mostrar o que leva alguém a doar para a entidade, conter dados sobre os projetos, trazer métricas e indicadores, mostrar o impacto do trabalho executado e refletir o compliance, ou seja, a conformidade com a legislação, regulamentos e normas internas. Ao realizar esse processo e adotar discursos compatíveis com atitudes éticas, as organizações retroalimentam a captação de recursos.
Já as demonstrações financeiras precisam respeitar as normas técnicas e usar nomenclaturas que facilitem a compreensão e valorizem as ações desenvolvidas, trazendo um novo patamar de entendimento às demonstrações contábeis.
“No momento atual de pós-pandemia, o mundo trouxe novas oportunidades e mudanças que estão impactando as instituições, desde o ESG às novas demandas e modelos de captação. Isso influencia a captação de recursos, questões jurídicas, contábeis, societárias da organização. Se o cenário mudou, isso precisa ser refletido no panorama contábil, jurídico e institucional. A instituição precisa se adequar porque isso terá um impacto na comunicação e captação, os estatutos e documentos devem contemplar esse cenário”, acrescenta Ricardo.
Ele enfatiza que as organizações que adotam métricas, divulgações e procedimentos de compliance de sustentabilidade passam a ser olhadas de forma diferente e isso é um critério decisivo na escolha do doador para uma parceria, para a implementação de um projeto ou financiamento de algum recurso para a sua instituição.
O documento de comunicação mais completo de uma entidade é o relatório anual porque abrange todas as atividades básicas desenvolvidas. Ele deve ser conciso e ir além dos dados obrigatórios e incluir qualquer informação que desperte o interesse dos colaboradores. O ideal é usar ilustrações, gráficos e fotografias com inteligência, para trazer dinamismo à leitura e completar o texto. Outra recomendação é que a entidade tenha parcimônia com os auto elogios, pois podem ser considerados excessivos e percebidos com desconfiança.
As dicas de Ricardo foram compartilhadas durante o Encontro de Comunicação e Captação de Recursos 2022, realizado pela ABCR com a Escola Aberta do Terceiro Setor e a Rede Filantropia. Se você perdeu, mas quer ver o conteúdo desta e outras palestras na íntegra, ainda pode fazer VIP e ter acesso às gravações.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas