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Círculos de Doação: porque e como criar grupos para gerar impacto coletivo

Como a doação de recursos organizada em grupo é catalisadora de mudanças

Se uma pessoa é capaz de gerar impacto, imagine um grupo! Essa é uma forma bem simplificada de falar sobre os círculos de doação, mas ajuda a entender sua essência. Muito comum nos Estados Unidos, um círculo de doação (giving circle) nada mais é do que um grupo de pessoas que se reúnem com o propósito de colaborar para a mudança social: pessoas com os mesmos objetivos se juntam e reúnem seus recursos, conversam sobre assuntos que envolvem uma determinada causa decidem, de forma conjunta, para onde doar seu dinheiro, tempo e talento. 

Como resultado, o impacto das doações é multiplicado pelo poder do grupo e catalisa comunidades mais fortes e mudanças mais robustas. “Os círculos de doação têm um potencial fantástico para promover no país a solidariedade e o engajamento das pessoas”, afirma o diretor executivo da ABCR, João Paulo Vergueiro.

Exemplos de círculos de doação

Um círculo de doação pode nascer com um propósito definido e ser encerrado depois de um determinado tempo ou pode ser contínuo e flexível, atuando em diversas frentes dentro do escopo proposto, absorvendo ou não novos membros, mas sempre promovendo a discussão dos temas entre os participantes ativos e definindo o destino das doações. 

Um exemplo é Latinos in Tech Giving Circle, grupo que atua no estado da Califórnia (EUA) e tem o objetivo de construir um movimento de líderes filantrópicos que investem em organizações lideradas por latinos na tecnologia. Outro case interessante é a Sisterhood of Philanthropists Impacting Needs (SPIN), círculo de doações filantrópicas de mulheres negras na comunidade de Denver (EUA) que alavancam suas forças para impactar positivamente mulheres marginalizadas e meninas adolescentes. A SPIN reúne mulheres de diferentes perspectivas e habilidades que contribuem com pelo menos $400 por ano.

Como começar um círculo de doação

O primeiro passo é descobrir as motivações que guiam você e as pessoas que fazem parte do seu círculo de doação. Pergunte-se: o que te move na ideia de um círculo de doação? Que impacto e mudança você quer fazer na sua comunidade local? 

Depois, escolha o foco da sua doação (assunto, população atendida, escopo geográfico, tamanho do círculo ou ciclo de vida dele), quais os valores que guiam o seu círculo e qual a cultura organizacional dele (divertido, desafiador, amigável, recompensador, profissional, etc). “A gente tem que pensar como moldar essa cultura para que as pessoas entrem sentido-se parte dela”, explica Vergueiro.

Outros pontos a serem definidos, são a periodicidade dos encontros entre os membros, como serão feitas as contribuições, com qual valor cada membro vai contribuir e quem vai organizar os recebimentos. Vergueiro destaca que nos Estados Unidos já existe uma plataforma para gestão on-line de círculos de doação, a Grapevine. Ela faz a gestão financeira, da comunicação, das reuniões e até dos votos dos círculos.

No caso de grupos que não queiram ser anônimos, vale pensar em um nome para o círculo de doação, se haverá canais de comunicação, como descrever o círculo para os donatários e para a comunidade e se o círculo vai se juntar a uma rede ou usar modelos de outras redes.

Conhecimento de causa

Diferente das vaquinhas e financiamentos em grupo, os círculos de doação funcionam como um financiamento participativo. Os recursos não são pedidos, mas oferecidos espontaneamente pelos doadores, a partir de um processo decisório que é coletivo. Para chegar à escolha final, é fundamental aprender sobre o contexto mais amplo do foco do círculo de doação e da comunidade. Vale procurar um especialista no assunto para ajudar.

“A gente tem que estudar a causa para tomar uma boa decisão, coletivamente”, afirma Vergueiro. Ele lembra que os donatários podem ser indivíduos, projetos, associações, fundações e até grandes instituições. As doações podem ser anônimas, para responder a um período de emergências (como o caso da Covid-19), por indicações, a partir de visitas em campo ou recebimento de propostas. “Isso tudo é construído, não tem um formato fixo, depende do que é definido pelo grupo”.

Contribuição financeira e gestão do dinheiro

O tamanho, a frequência e a periodicidade das doações depende do número de membros engajados no círculo e o tempo que levam para acumular recursos suficientes. Vale lembrar que círculos de doação contribuem de todas as formas, inclusive não financeiras. Não há resposta certa ou errada sobre qual recurso é melhor, o ideal é que o grupo esteja alinhado e de acordo com o recurso proposto. 

No caso das contribuições financeiras, existem várias abordagens a serem consideradas:

  •       Valor fixo por período pré-determinado (doa-se X por mês, por exemplo)
  •       Valor relativo por pessoa (cada indivíduo doa X% de seus rendimentos, por exemplo)
  •       Valor pré-determinado por tempo (cada indivíduo doa x em um período determinado)

O grupo elege uma pessoa responsável para gerir a acumulação dos recursos e essa pessoa cumpre o papel atribuído de forma transparente, honesta e eficiente. Há, também, a possibilidade de passar essa função a uma organização parceira.

Impacto exponencial

Engajar-se em um círculo de doação é uma maneira de aprender e fazer filantropia de modo potencializado, encontrar pessoas com percepções semelhantes às suas, construir uma rede de impacto, aprender mais sobre causas e sobre a comunidade, conversar sobre crenças e valores e, juntos, apoiar projetos, organizações e pessoas que atuam para gerar transformação social. 

Que tal compartilhar essa ideia com amigos, familiares e vizinhança? No site www.philanthropytogether.org (em inglês) é possível encontrar materiais explicativos e outros exemplos inspiradores. A Philanthropy Together é uma organização sem fins lucrativos, co-criada por centenas de círculos de doações e líderes de redes para ajudar a iniciar novos círculos de doações.

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