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Doações individuais para organizações e projetos em 2022 ultrapassam os 12 bilhões de reais

O Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) apresentou os resultados da Pesquisa Doação Brasil 2022, que oferece insights esclarecedores sobre a cultura de doação, destacando avanços notáveis e desafios críticos que moldam o cenário do terceiro setor no país. O estudo apontou o aumento nas doações individuais em dinheiro em 2022, atingindo um total de 12,8 bilhões de reais, o que representa 0,13% do Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano. 

De acordo com os resultados, 84% dos brasileiros acima de 18 anos e com rendimento familiar superior a um salário mínimo participaram ativamente da prática de doação. Comparativamente, em 2020, esse número era de 66%. “Esses 84% da população engajada é algo que o Brasil deve comemorar, porque a gente vem passando por várias crises e várias emoções e a gente ver o crescimento da prática de doação é algo que nos enche de alegria e esperança”, comentou a CEO do IDIS, Paula Fabiani. 

Paula também destacou o fato de que 93% dos não doadores dizem que podem mudar de lado. “Acho que isso mostra como a doação se tornou uma coisa positiva na sociedade, algo que as pessoas percebem como uma prática que todos os brasileiros deveriam aderir”.

Modo de pagamento

Outra tendência confirmada é a adesão dos doadores ao PIX. O instrumento de pagamento surgido em 2020 já conquistou a preferência de 39% dos doadores, enquanto a doação em dinheiro vivo vem sendo cada vez menos adotada. Em 2021, um estudo feito pela ABCR já havia mostrado que as organizações já estavam se adaptando a esse novo cenário: 80% delas já usavam chave PIX para receber doações.

Também chamou atenção na Pesquisa Doação Brasil 2022 o aumento no percentual dos que declararam ter feito doação na forma de arredondamento, isto é, abrindo mão do troco de centavos para que o estabelecimento comercial encaminhe o valor para alguma organização. 

Critérios  e estímulos para fazer doação

Os resultados da Pesquisa Doação Brasil 2022 mais uma vez destacaram a abordagem criteriosa dos brasileiros ao escolherem fazer doações. Indivíduos estão adotando medidas cautelosas e procurando informações prévias antes de determinar os beneficiários de suas doações. Além disso, é observado o padrão de direcionar doações consistentemente para as mesmas instituições. Comportamentos impulsivos e guiados por emoções estão progressivamente perdendo espaço.

Na pesquisa, os participantes foram convidados a identificar os estímulos que mais os motivaram a doar em 2022, escolhendo os três mais relevantes. Os resultados revelaram que as interações sociais em ambientes religiosos e comunidades desempenham um papel significativo na influência das decisões de doação. 

Além disso, o apoio da família, vizinhos e amigos, juntamente com os apelos diretos feitos em locais públicos, por telefone ou e-mail, também emergiram como fatores importantes. É interessante notar que as redes sociais e os influenciadores digitais ocuparam a quarta posição na lista de estímulos.

Causas que mais recebem doações

Assim como ocorreu nas edições anteriores da Pesquisa Doação Brasil, a questão relacionada à infância mantém sua posição de destaque como a preferência principal dos brasileiros. No ano de 2022, observou-se que quase metade dos doadores (46%) indicou ter direcionado suas doações para essa causa específica.

Vale ressaltar a notável retomada do interesse pela causa da saúde, a qual havia sido obscurecida em 2020 por outras temáticas como a luta contra a fome e o apoio aos idosos. Além disso, é significativo o aumento substancial verificado na atenção destinada às pessoas em situação de rua. Este índice passou de 1% em 2020 para 10% em 2022.

Geração Z – o que pensam e como doam os jovens de 18 a 27 anos

A grande novidade desta edição é que trouxe um retrato da Geração Z, composta pelos jovens nascidos entre 1996 e 2004. Apesar de representar a menor parcela de doadores, essa geração detém um grande potencial para influenciar a consolidação da cultura de doação no país. A compreensão desses dados oferece a oportunidade de desenvolver ações específicas e contribuir para mudanças de atitude.

Fica evidente que a Geração Z está demonstrando uma maior tendência para a doação, sobretudo quando comparada a anos anteriores. Além disso, ela se envolve mais ativamente em atividades relacionadas a causas sociais e filantropia. Os resultados da pesquisa sugerem que a Geração Z tem uma inclinação maior para se engajar em questões sociais, demonstra confiança nas organizações não governamentais (ONGs) e parece estar mais propensa a utilizar as redes sociais como ferramentas para se envolver e disseminar informações sobre causas sociais.

Confiança nas organizações

Um time de especialistas foi convidado para escrever uma série de artigos que trazem reflexões sobre os resultados da Pesquisa Doação Brasil 2022. Entre eles está o diretor executivo da ABCR, Fernando Nogueira, que assina o artigo “Os resultados da pesquisa sob a ótica da cultura de doação” ao lado de Pamela Ribeiro, coordenadora de programas do GIFE. 

O texto discute a queda na confiança nas organizações. Apenas 31% dos entrevistados concordam que as organizações deixam claro como aplicam seus recursos, em comparação com 45% em 2020. O mesmo percentual (31%) acredita que a “maior parte das ONGs é confiável”, em comparação com 41% na pesquisa anterior.

Outras questões que avaliam aspectos como competência, efetividade e clareza na comunicação também apresentaram piora nos resultados. A falta de dados suficientes é mencionada como uma limitação para explicar essa queda na confiança. Essa tendência é consistente com outras pesquisas que indicam uma deterioração na imagem das organizações e do setor como um todo.

O texto enfatiza a importância da transparência e proximidade com o público para cada organização enfrentar esse desafio. A transparência é promovida por meio de boas práticas de prestação de contas, auditorias e demonstrações de resultados. Já a proximidade com doadores e potenciais doadores é alcançada por meio de recomendações de amigos, familiares, colegas e influenciadores, bem como através de um maior conhecimento sobre a organização.

Além disso, o texto ressalta a dimensão coletiva da confiança, que depende dos esforços de profissionais, voluntários e organizações. Isso inclui relacionamentos com imprensa, influenciadores, formadores de opinião e o governo, tanto em parcerias para políticas públicas quanto em diálogo constante com órgãos de controle. Também é mencionado o papel de iniciativas como a Sociedade Viva, que busca divulgar e valorizar organizações sociais no Brasil.

Os autores indicam que os esforços mencionados contribuem para aumentar a confiança nas organizações, o que consequentemente ajudaria a atrair mais doadores institucionais para o país, fortalecendo a cultura de doação.

Sobre a Pesquisa

A Pesquisa Doação Brasil 2022 foi realizada entre 03 de maio a 13 de junho de 2023 a partir de uma abordagem quantitativa, com a realização de 1.508 entrevistas telefônicas. A amostra é representativa do cenário nacional e a margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Foram entrevistados homens e mulheres das classes A, B e C maiores de 18 anos e com renda familiar superior a 1 salário mínimo. 

O estudo é uma iniciativa do IDIS e da CAF – Charities Aid Foundation. A realização é da Ipsos e conta com o apoio do Instituto Beja, Movimento Bem Maior, Raízen, Instituto ACP, Instituto Galo da Manhã, Instituto MOL, Doare e Instituto Phi. Contribuíram também os filantropos Luis Stuhlberger e Teresa Bracher.

Para conhecer o estudo completo, acesse https://pesquisadoacaobrasil.org.br/

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