Todos os anos, milhões de pessoas participam de um movimento global de doação em todo o mundo. No Brasil, o Dia de Doar é promovido pelo Movimento por uma Cultura de Doação e realizado pela ABCR. A data reúne diversas campanhas espalhadas pelo país que convidam as pessoas a realizar um ato solidário. Nada disso seria possível sem um planejamento prévio e, para otimizar esse trabalho, o Dia de Doar lançou um Guia de Campanhas para elaborar ações mais eficazes e que impulsionem a generosidade.
Tom de voz
O guia contém um passo a passo para planejar uma campanha comunitária e recrutar colaboradores, contar histórias que motivem as pessoas a doar e criar um cronograma de atividades para o Dia de Doar. Após apresentar um contexto introdutório sobre o movimento, o material oferece dicas para adotar o tom de voz adequado e transformar o discurso da campanha em uma oportunidade de transformar o mundo.
“Temos que entender que no campo dos tons de voz tem vários ouvidos diferentes e as pessoas podem compreender de forma distinta aquela mesma informação. Em um consenso global do Dia de Doar, o tom de voz é sempre mais estimulante, mais positivo e inclusivo, evitando uma linguagem muito complicada. De uma forma bem prática, entender com quem você está falando é o passo um e aí você calibra um tom de voz acolhedor, receptivo e inclusivo”, afirma Marina Pechlivanis, líder do Educação para Gentileza e Generosidade, plataforma brasileira que oferece soluções sistêmicas para vários públicos.
Ela explica que uma campanha comunitária não deve fazer algo ameaçador ou julgar o público, pois o objetivo é acolher. Caso a campanha utilize uma linguagem muito pesada, agressiva, imponente e imperativa uma das prováveis consequências é a perda definitiva da audiência.
Cronograma
Planejar as atividades é fundamental para que a campanha seja bem-sucedida. O guia sugere algumas etapas para isso: convidar potenciais parceiros para apresentar o movimento, definir a meta da campanha, dividir o planejamento em grupos de trabalho e definir seus membros, escolher a narrativa da campanha, estudar os materiais de comunicação para redes sociais e o planejamento semanal de comunicação para fazer o cronograma de atividades.
Outros passos indicados são recrutar embaixadores, comerciantes e/ou pequenos negócios, buscar apoio de grandes empresas para incluir o Dia de Doar em ações internas com seus funcionários, entrar em contato com doadores pré-existentes para doações de matching (doações duplicadas para cada doação recebida) ou indicações de novos doadores, escolher histórias que serão contadas na campanha e no cronograma de divulgação, pensar em um evento ou atividade de mobilização, determinar como será a organização no Dia de Doar e planejar agradecimentos e abordagem aos apoiadores.
Parcerias
As campanhas podem ter vários parceiros que desejam embarcar nessa jornada: poder público, outras instituições, voluntários, embaixadores, empresas, igrejas, rádios e grupos de jovens são alguns deles.
Tânia Fraga, líder Dia de Doar Itu, conta que ter o poder público ao lado da campanha fez uma grande diferença: “Eu queria fazer um evento na praça da cidade e a estrutura física disso só foi possível porque o poder público nos abraçou. Junto com esse evento, trouxemos a gastronomia e o artesanato da cidade e uma porcentagem foi direcionada para o Dia de Doar”.
“Nosso pensamento precisa ser multi público mesmo que a gente esteja falando com um público só. Falar com os gestores das escolas é um excelente caminho, mas falar com as famílias também, assim como conversar com jovens e lideranças jovens nas comunidades. Nossa recomendação é sempre reunir todas essas frentes, a conversa do Dia de Doar Kids nas escolas é muito prática. Falar de um evento, data, celebração é muito bom para as escolas”, complementa Marina.
Meta
A meta da campanha comunitária deve ser o ponto principal para montar a estrutura de como será a mobilização e como a equipe pode e deve se envolver. É um ótimo momento para experimentar novas estratégias e motivar o grupo para atingir os objetivos. O Dia de Doar é muito mais do que um doações financeiras, por isso as metas podem ser desde aumentar a visibilidade de uma causa até conseguir novos voluntários.
“Já fui voluntária em várias organizações e o que me incomodava muito é que elas não conseguiam trabalhar em conjunto. Eu sentia vontade de conectar pelo menos as causas mais alinhadas ou, mesmo que não fossem, que elas trabalhassem em eventos em conjunto e não conseguia fazer isso. Uma das metas era desconstruir isso e conectá-las e que também houvesse parcerias entre elas após o Dia de Doar”, relata Tânia.
“Às vezes, o terceiro setor pode ser um campo muito isolado por mais que a gente esteja falando de um trabalho coletivo. Tem muita gente que tá ali sozinho enquanto liderança e que se sente sozinho dentro desse processo justamente pela dificuldade de alcançar outras pessoas. Cada ajuda, acolhimento, pessoa que faz parte e veste a camisa do Dia de Doar é essencial para que esses projetos continuem de pé e funcionando”, aponta Laís Santana, responsável pela campanha Doa Salvador.
Referências
Reunir as referências de campanhas inspiradoras pode auxiliar muito a criatividade no momento de desenvolver algo novo. É aconselhável concentrar tudo em um mesmo lugar: paletas de cores, imagens e vídeos que estão relacionados ao que o participante deseja construir. O guia possui sugestões de elementos para a elaboração da campanha e indica alguns caminhos possíveis. Isso ajuda a clarear as ideias, a economizar tempo e a comunicar o conceito da iniciativa.
Marca
Criar uma marca unifica a campanha comunitária e irá alavancar o marketing. Todas as organizações, empresas e pessoas envolvidas devem se sentir acolhidas pela mensagem definida. No guia, os participantes do Dia de Doar encontram elementos gráficos e de identidade visual para facilitar essa empreitada.
“A marca precisa marcar, as pessoas precisam se identificar, ela precisa falar muito com muito pouco. Uma grande vantagem desse modelo descentralizado da cultura do GIving Tuesday e do Dia de Doar é que é possível colocar a criatividade em prática. Também é possível usar o repertório já existente, tem muitas referências. A marca diz muito, precisa ser direta e quanto mais proximidade as pessoas sentirem com ela melhor”, ressalta Marina.
“O objetivo da marca do Dia de Doar é multiplicar, ser utilizada, acolhida, transformada em camiseta, em materiais, em stickers, posts. É para ser colocada em prática. Estudar o repertório da comunicação é muito importante porque ao estudar o que outros projetos já fizeram e implementaram, você pode aprimorar sua criação, o desenvolvimento da sua marca”, continua.
Narrativa
Contar histórias cria conexões com doadores e contá-las exige prestar atenção no entorno para identificar o que pode ser destacado pela campanha comunitária. Segundo Marina, a narrativa precisa ser clara, engajadora e facilmente compreensível pela maioria das pessoas, independentemente da faixa etária, do nível sócio-econômico, educacional, cultural ou regional.
Uma das narrativas possíveis é a das lacunas, ou seja, sobre o que falta em uma região ou instituição. O importante é elaborar algo que desperte o interesse das pessoas com agilidade e pensar em personagens reais para abrilhantar esse diálogo.
“Sempre faço uma analogia em todos os espaços que ocupo. Qual é o único lugar hoje em que a gente para tudo o que estamos fazendo e fica no escuro prestando 100% de atenção por duas horas? O único momento em que paramos para prestar atenção por um tempo ininterrupto é dentro do cinema, ouvindo uma história porque a história conecta, nos identificamos com os personagens e queremos fazer parte daquilo. Olha o poder que as histórias têm, estamos vendo isso o tempo todo. Como traduzir isso para nossa realidade e trazer para o terceiro setor? Esse é um ótimo caminho”, enfatiza Carol Farias, líder do Dia de Doar.
Comunicação
Os pedidos de contribuição com o Dia de Doar devem ser estimulantes e conter três elementos: afirmação de convicção, afirmação você, que envolve o público e afirmação de oportunidade de chamado à ação. A primeira diz respeito ao trabalho realizado pela organização, a segunda busca inserir potenciais doadores nesse contexto e a última os convida a contribuir com a ação.
Em uma campanha de mobilização que tenha a participação de todas as instituições de uma cidade para que a população os conheça e tornem-se doares recorrentes das ONGs locais, o pedido pode ser realizado da seguinte forma:
Afirmação de Convicção: Nós realizamos um trabalho de extrema importância para nossa cidade e vizinhança – as ONGs de XXXX (XX) são importantes!
Afirmação Você: Você conhece quais são as organizações sem fins lucrativos que atuam para diminuir a desigualdade e melhorar a qualidade de vida da nossa cidade?
Afirmação de Oportunidade: Você pode fazer parte do processo de transformação do mundo! Vem participar conosco da atividade XXXXXX no Dia de Doar, 28/11/23
Embaixadores
Os embaixadores ampliam a mensagem da campanha comunitária e trazem novas oportunidades de obter recursos. Existem várias opções de pessoas para isso: influenciadores digitais que atuam na cidade das entidades, artistas ou atletas que tenham crescido na região, empresários respeitados e/ou representantes do poder público, como prefeitos, vereadores e secretários.
Após a escolha dos porta-vozes, é necessário pensar nas ações que eles podem promover e quais são os materiais que a campanha pode distribuir para capacitá-los adequadamente e que eles possam compartilhar. O Doa Salvador possui uma experiência bem interessante com isso, pois conseguiu o apoio dos clubes de futebol da cidade. Os mascotes do Esporte Clube Bahia e do Vitória estiveram presentes no panfletaço de conscientização que a equipe do Doa Salvador realizou no Dia de Doar.
“Se tem algo que mobiliza a massa é futebol e a gente conseguiu os grandes clubes. Os times de futebol têm um setor social e exploramos isso fechando uma parceria, conseguimos uma divulgação nas redes sociais deles, no feed em colaboração com o Doa Salvador. Foi muito impactante porque os torcedores interagiram com a campanha. Conseguimos atrair público porque os mascotes dos times estavam lá conosco”, observa Laís.
Tecnologia
Existem muitas plataformas online automatizadas para receber doações. Para que os doadores tenham uma boa experiência, é preciso verificar se tudo está funcionando corretamente e se há alguma dificuldade de navegação ou de acesso a algum material. Uma dica é analisar tudo isso em computadores, tablets e celulares para checar se tudo está conforme foi programado.Caso haja alguma correção a ser feita, é importante anotar para que isso esteja pronto para o Dia de Doar.
Gamificação
Competições, desafios e outras formas de gamificação são divertidas, motivam e fazem uma grande diferença no Dia de Doar. É interessante pensar em gincanas ou outras atividades para colocar em prática. Uma alternativa é propor ações de matching para empresas, o que ajuda a alcançar as metas da campanha comunitária.
As dicas foram compartilhadas no Youtube do Dia de Doar. Confira o vídeo na integra:
A filantropia comunitária é uma grande aliada para fortalecer a cultura de doação. Clique aqui e leia nossa matéria sobre o tema
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas
