A Associação Paulista de Fundações realizou, na sexta (22), a quinta edição de seu evento anual, debatendo temas como o papel da filantropia no século 21 e o avanço das fundações comunitárias. Entre os palestrantes convidados estavam o CEO e presidente do Council on Foundations (COF), Steven Craig Gunderson, e Marcos Kisil, diretor presidente do IDIS e diretor superintendente da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
Emmett D. Carson, CEO e presidente da Silicon Valley Community Foundation, Rahul K. Bhardwaj, CEO e presidente da Toronto Community Foundation, e Lúcia Gomes Vieira Dellagnelo, coordenadora geral do Instituto Comunitário Grande Florianópolis, foram os outros palestrantes convidados. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, prestigiou o evento, no qual foi lançado o prêmio que homenageia seu pai, o médico e educador Pedro Kassab, falecido em 2009.
Na abertura, o presidente da Comissão Organizadora, Eduardo Sancho – da Fundação Jean-Yves Neveux –, lembrou que a APF foi aceita recentemente como membro do COF, tornando-se a única instituição sul-americana a integrar este conselho. O Council on Foundations é a maior organização mundial do gênero, reunindo cerca de 2 mil fundações americanas e 65 instituições de outros países.
Em sua palestra, Steven Gunderson abordou o tema Filantropia no Século 21 – Temos um Mundo Inteiramente Novo!. O presidente do COF falou sobre as mudanças na atuação das organizações. “No passado, os setores público, privado e filantrópico trabalhavam separadamente em suas respectivas listas de prioridades. Nesta nova era de parcerias, estamos trabalhando não apenas lado a lado, mas juntos”, disse. “Durante a crise americana, a filantropia foi desafiada por Barack Obama a trazer inovações para dar solução a antigos problemas sociais. Hoje, somos reconhecidos pelo presidente como fonte de soluções novas e criativas para o setor social.”
Já Rahul Bhardwaj, da Toronto Community Foundation, falou sobre o tema Fundações Comunitárias – Fazendo o Bem em nome do Bem. E comparou as tendências de parcerias nas cidades de Toronto e São Paulo. “Em ambas, essas parcerias estão sendo construídas sobre três pilares: segurança social (setor público), dinheiro e lucro (setor privado) e qualidade de vida (filantropia). As fundações têm de ser administradas como negócios. E os negócios funcionarão melhor se pensarem na filantropia. Sem competição. Sendo competente e recebendo colaboração. Concorrer é fácil. Colaborar é o desafio”, afirmou.
Emmett Carson, da Silicon Valley Community Foundation, abordou o tema Filantropia de Alto Impacto – Medindo e Estimando a Criação de Valor Social. A Silicon Valley é uma das 20 maiores fundações comunitárias dos Estados Unidos. Segundo ele, essas organizações são formadas por indivíduos, famílias e empresas que, juntos, investem recursos em ações sociais com o objetivo de resolver problemas comunitários. “As fundações comunitárias são veículos incríveis para angariar recursos com vistas a fazer o bem. Todos podem fazer parte dela e fazer filantropia. O futuro dessas organizações está nas alianças e na capacidade de agregar colaboradores e parceiros. O Brasil tem excelentes oportunidades de fazer filantropia”, disse.
Lúcia Dellagnelo, do Instituto Comunitário Grande Florianópolis, disse que as fundações devem refletir as pessoas que vivem em um determinado território. “Hoje está muito presente a ideia de que as pessoas que compartilham uma mesma cidade, um mesmo território, têm de somar esforços para promover o desenvolvimento local. As fundações são os veículos que devem permitir essa articulação. Elas devem ser instituições que servem de plataforma para todos esses atores que vivem em uma determinada comunidade para promover o desenvolvimento local.”
Em sua palestra, Marcos Kisil, diretor presidente do IDIS e diretor superintendente da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, falou sobre Governança e Filantropia – Da Paixão à Ação. De acordo com ele, não é possível transportar o conceito de governança do setor privado para a área social. “Os princípios de governança do segundo setor buscam uma relação de rentabilidade nos investimentos realizados pelos acionistas. Já no terceiro setor, a governança diz respeito a todos que de alguma forma são responsáveis pela organização social. Por isso, não acredito que eles possam ser 100% aplicados na filantropia.”
Kisil abordou também a situação do investimento social privado no Brasil. Segundo ele, um dos desafios a serem enfrentados é passar do assistencialismo ao investimento social com foco em resultados. “O assistencialismo é paternalista, reage ao presente, é centrado apenas no interesse da empresa, preocupado com o problema visível e, apesar de bem intencionado, não muda a realidade. Já o investimento social está ligado ao desenvolvimento, projetos de futuro, alinhamento estratégico e foco no receptor final da ação e nos resultados. Para passar de um ao outro é preciso abandonar a posição reativa e assumir uma postura proativa, adotar planejamentos, investir em capacitação e ir além do cumprimento legal.”