Cerca de 50 profissionais da área de captação de recursos reuniram-se na segunda-feira (26/3), no “Encontro ABCR de Captadores – TED Captação de Recursos”, atividade paralela ao Congresso GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), realizado em São Paulo (SP) até 30 de março. Por mais de duas horas, os presentes debateram questões como desafios nacaptação com pessoas físicas e jurídicas.
Quatro expositores convidados, de quatro organizações da sociedade civil — SOS Mata Atlântica, Associação Viva e Deixe Viver, Greenpeace e Educadores Sem Fronteiras—,lançaram suas ideias obedecendo a uma dinâmica semelhante ao do TED (www.ted.com), que difunde grandes temas que merecem ser espalhados.
Eles falaram por no máximo 15 minutos cada um, acompanhados de apresentações visuais dinâmicas e objetivas. Em seguida, cada palestrante respondeu a curtas perguntas do ex-presidente da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) Marcelo Estraviz. Por fim, sentados à mesa, tiraram dúvidas dos participantes.Além de profissionais e interessados, compareceram ao encontro alguns dos fundadores da ABCR, como a consultora e professora Célia Cruz e o presidente do Conselho da associação, René Steuer.
Essa foi a terceira vez que a ABCRparticipou do Congresso GIFE, sendo as duas anteriores no Rio de Janeiro (2010) e em Salvador (2008). Criada em 1999, a entidadetem 1.500 profissionais registrados e está presente em 6 Estados brasileiros.
SOS Mata Atlântica
O primeiro a falar foi Thiago Massagardi, captador de recursos da ONG SOS Mata Atlântica. Há 11 anos nesta área da entidade, ele discorreu sobre a importância do planejamento para a captação de recursos (pensar antes quem abordar; como abordar; como contornar imprevistos; como abrir as portas certas; como contatar as pessoas etc.).
“Um plano estratégico ajuda a mapear as potenciais pessoas com um coração mais aberto a fazer doações. E o captador é quem abrirá esse coração usando sua chave”. Dentre os principais aprendizados em sua atuação, ele ressaltou que, na prática, “a fechadura pode estar posicionada não necessariamente no coração, mas sim na cabeça ou no bolso da pessoa alvo” e que tal aspecto deve ser levado em conta pelo captadorem cada caso.
Associação Viva e Deixe Viver
O publicitário Valdir Cimino, fundador e presidente da Associação Viva e Deixe Viver, falou sobre o cuidado com a prática de assistencialismo nas ações voluntárias, no lugar de atividades que,de fato,desenvolvam o voluntário e o beneficiado, e sobre a necessidade de as entidades sem fins lucrativos perseguiremsempre resultados palpáveis e transformadores.
“O fato de termos traçado um perfil detalhado do voluntário que nos procura na associação nos auxiliahoje a mostrar claramente aos investidores que essas 1.400 pessoas dão resultado. O trabalho deles nos hospitais ajuda a melhorar a saúde e age na prevenção de doenças. Agora,nós queremos expandir isso para escolas, para termos mais gente mais escolarizada e mais saudável no país”, afirmou.
Valmir também acrescentou que a entidade, que atua em 85 hospitais em 8 estados, recebe cerca de R$ 1,1 milhão de investimentos para realizar suas atividades, mas as horas doadas por meio do trabalho dos voluntários treinados representam algo em torno de R$ 7 milhões. “Esse trabalho voluntário tem, entre suas consequências, uma economia em investimentos futuros em saúde pela nação”.
Greenpeace
Samantha Federici Florence, coordenadora de captação de recursos da entidade ambiental Greenpeace, apresentou o programa de modelo Click andCall. Por meio dele, o potencial doador pode entrar no site para doações efazer uma destinação de recursos no ato ou então deixar seus dados pessoais, informar o período no qual deseja ser contatado e receber uma ligação da equipe do Greenpeace em até 24 horas. Vale acrescentar que esta organização capta recursos exclusivamente com pessoas físicas,em uma tradicional abordagem direta (“face to face”).
Lançado em julho de 2011, o programa conseguiu até agora 619 novos doadores efetivos, de longo prazo,e um total de mais de R$ 38 mil. Para divulgar a campanhade forma online, a entidade lançou mão de Ad Words pelo Google Grants (serviço de anúncio para entidades sem fins lucrativos) e de Ad Networks (redes de publicidade online, blogueiros, sites pequenos, entre outros).
“Este programa é pensado de maneira integrada (on-line e telefone), com retorno rápido ao doador e com treinamento para isso. Acredito que quanto mais direto, mais flexível e mais simples for um programa de captação, mais resultados poderá gerar. É o famoso ‘keep it simple’”, salientou.
Educadores Sem Fronteiras
O quarto convidado foi o engenheiro Paulo Rocha, um dos fundadores da instituição Educadores Sem Fronteiras. Ele se recordou das dificuldades iniciais para captar, à época do surgimento da entidade. “É preciso insistência. É ouvir vários ‘nãos’ e prosseguir. Hoje sabemos que o ‘não’ é simplesmente aquilo que vem antes do talvez. E o talvez éaquilo que vem antes do sim”, brincou.
Paulodisse ainda que, no contato, “reforçar o lado humano, é, muitas vezes, o que quebra o gelo na hora de captar recursos, pois em todos os casos em que deu supercerto foi porque alguma pessoa foi tocada num primeiro momento”. Sublinhou também que é fundamental usar a networking ao máximo, ter senso de oportunidade e ir aos locais certos nas horas certas, responder os potenciais doadores, nutrir confiança e se expor. “Parece até algo muito básico, mas temos de responder e-mails sempre. E as pessoas precisam saber que a entidade existe”.
As perguntas dos presentes giraram em torno das limitações da legislação brasileira atual para o surgimento de mais doadores pessoa física, das formas de captação junto às empresas (via edital, via customização de projetos etc.) e das ferramentas e equipes necessárias para a operacionalização de campanhas como as do Greenpeace.
O novo presidente da Diretoria Executiva da ABCR, João Paulo Vergueiro, esteve presente no evento e o encerrou agradecendo a presença de todos.Ele foi eleito para o mandato de 2012 a 2015 em Assembleia Geral Ordinária realizada pela manhã, antes do encontro. Na mesma ocasião houve ainda a eleição dos novos conselheiros fiscais edos coordenadores dos Grupos Temáticos de Cultura e Educação e foi a dada posse aos novos coordenadores dos Núcleos Regionais.
Fabiana Pereira – Solange A. Barreira
P&B Comunicação