Temos observado nos últimos anos, no Brasil, o crescimento de campanhas de doação para apoio a vítimas de desastres. Das enchentes no Sul e Nordeste do Brasil, aos deslizamentos de terra no Rio de Janeiro, está cada vez mais fácil para os brasileiros contribuírem em momentos de mais urgência humanitária das pessoas. No Brasil, cresce também o trabalho profissional realizado pelas organizações brasileiras em momentos de desastre, complementando o trabalho da Defesa Civil – e em alguns casos atuando onde ela não existe. O profissional de captação de recursos tem, nesses momentos, papel fundamental para garantir que as doações cheguem adequadamente. Neste contexto, apresentamos um texto com dicas importantes para doadores e que, conforme nosso entendimento na ABCR, contribui também para qualificar os captadores.
O texto abaixo foi originalmente publicado no blog da organização americana chamada GiveWell. Ele foi adaptado para a tradução e, no original, traz links para estudos e outros textos. A sua versão completa e original, em inglês, pode ser encontrada aqui.
Seis dicas para doação em momentos de desastres humanitários
Nossas dicas gerais para doação em momentos de desastres humanitários:
1. Doe dinheiro, e não roupas (ou outros produtos). Doar itens não desejados fazem os doadores se sentirem bem, e as organizações de apoio podem estar sob pressão considerável para aceitar doações em espécie. Mas separar e enviar essas doações pode ser trabalhoso e caro, sem contar que os produtos podem, literalmente, atrapalhar. Se você tem itens que não quer, considere vendê-los e doar o dinheiro obtido. Doações em espécie atrapalham as organizações de apoio que têm que pensar em como utilizá-las; dinheiro as permite rapidamente obter o que precisam.
2. Apoie uma organização que vai ajudar ou saia do caminho. Logística pode ser um dos principais desafios em momentos de desastres. Por exemplo, quando se fez o acompanhamento dos esforços de apoio ao Haiti, descobrimos que muito do dinheiro dado não tinha ainda sido gasto, e que cerca de 80% do entulho ainda não tinha sido limpo. Uma organização altamente profissional e experiente com presença pré-existente no país (ou local) afetado provavelmente poderá ajudar, e ficará distante de onde não puder ajudar. Mas uma organização menos profissional pode facilmente se distrair dos trabalhos de apoio humanitário.
3. Doe proativamente, não reativamente. Não doe para uma organização simplesmente por que ela te pediu primeiro ou você viu um anúncio. Isso recompensa as organizações mais agressivas ao invés das mais competentes e responsáveis. Ao invés disso, doe não somente seu dinheiro, mas consideração – leve o tempo necessário para encontrar as melhores opções de doação que conseguir.
4. Possibilite que seus recursos sejam utilizados onde é mais necessário – ainda que isso signifique que não sejam utilizados durante este desastre. Desastres humanitários atraem bastante mídia, atenção e dinheiro, e ainda assim em muitos casos o maior desafio é logístico. O resultado pode ser que o dinheiro não seja o fator limitante no apoio humanitário imediato. Encontramos evidências disso tanto no terremoto do Haiti em 2010 como no tsunami no Japão em 2011.
Isso não significa que o dinheiro não é necessário. O esforço de reconstrução pode ser caro. Além disso, há muitos desastres – e casos de sofrimento diário – que organizações de apoio lutam para combater sem que consigam arrecadar o suficiente para eles como conseguem quando é o caso de um desastre. É comum que organizações usem desastres como uma oportunidade para levantar dinheiro para suas outras atividades.
Recomendamos que se doe para uma organização que faça um trabalho excepcional pelo país ou no mundo (e não somente na área afetada), sem amarrações específicas.
5. Doe para organizações que sejam transparentes e responsivas (accountable). No geral, descobrimos que organizações de apoio humanitário informam muito pouco sobre as atividades que desenvolvem e como gastam os recursos de apoio. Pesquise sobre o histórico das organizações em desastres anteriores antes de fazer a doação.
6. Pense sobre o sofrimento que é menos conhecido. Todos os dias, pessoas morem de doenças que podem ser prevenidas e curadas, muitas vezes porque não têm acesso a itens que efetivamente salvam vidas, como mosquiteiros. O seu sofrimento diário não é feito para manchetes de jornais, e eles no geral não atraem a mesma atenção e dólares das vítimas de desastres – ainda assim, acreditamos que doações que foquem nessas pessoas trazem mais resultados que doações de apoio a desastres humanitários.
Se um desastre recente fortaleceu em você o desejo de reduzir o sofrimento e ajudar outros, considere se perguntando se você é capaz de ampliar esse desejo e fazê-lo parte da sua vida diária. Considere juntando-se a doadores que almejam fazer de seu tempo e de seus reais irem o mais longe possível para fazer o mundo um lugar melhor.