A captação de recursos internacionais ainda é um assunto que gera muitas dúvidas nas organizações da sociedade civil (OSCs). Em um primeiro momento pode parecer um caminho difícil, mas já adiantamos que tem mais a ver com entender as “regras do jogo”, ser objetivo e construir uma rede de relacionamento – algo que não é diferente do que fazemos no Brasil.
Para descomplicar o assunto, trazemos algumas dicas dadas pelo diretor-presidente da Fundação Carmem Lucia, Daniel Weiss, durante o Festival ABCR 2021. Ele falou sobre as possibilidades da captação de recursos no exterior e instituições que estão dispostas a investir em OSCs.
O que não pode faltar na captação de recursos internacionais
Weiss destaca três pontos importantes para obter recursos estrangeiros. O primeiro deles é a importância de comprovar que a sua instituição é sem fins lucrativos, para dar segurança às empresas que pretendem investir. Para isso, a sua organização precisa ter CNPJ, registros na prefeitura,e em outros órgãos, conforme a legislação e regras exigidas no Brasil.
O segundo ponto é ter habilidade para conversar em outro idioma, principalmente o inglês. A organização que pretende inscrever seus projetos no exterior deve ter alguém em sua equipe que possa dominar outro idioma para conseguir passar por todas as etapas exigidas e fazer networking. Já o terceiro ponto é comprovar a situação financeira da organização, oque pode ser feito com dados de auditoria, prestação de contas, entre outros.
Apesar dos desafios para a captação de recursos internacionais, Weiss acredita que ter persistência é fundamental. Segundo ele, as instituições não devem ter medo de pedir, nem desanimar com os “nãos” a ponto de desistir. “Caso receba um não, peça para enviar uma carta de intenções ou fazer reunião. Você não vai ganhar se você não pedir. É preciso fazer conexões”, sugere.
Outra questão levantada por Weiss é a escolha de empresas e instituições que serão potenciais doadoras. Elas precisam ter credibilidade e estar alinhadas com a missão e os valores da OSC. Atente-se para os projetos apoiados e as áreas em que elas costumam investir. Há empresas e instituições que escolhem uma causa única para apoiar. Vale destacar que todo esse processo exige muita pesquisa, não deixe de levantar o maior número de informações possíveis sobre os parceiros.
Áreas que atraem investimento
Durante o Festival ABCR 2021, Weiss listou algumas áreas que mais costumam receber recursos internacionais com base em estudos e na sua experiência como captador de recursos. Confira:
-Organizações ambientais são muito procuradas pelos estrangeiros, especialmente na Amazônia e Pantanal;
-Grupos indígenas;
-Saúde ,nas áreas relacionadas às doenças tropicais e à AIDS.
-Educação, principalmente em universidades e pesquisas. O doador pode se interessar por um projeto específico e decidir apoiar, por exemplo; e conceder bolsas de estudo.
-Governança e jornalismo;
-Mulheres;
-Direitos LGBTQIA+;
-Organizações religiosas.
Criando outra organização e estabelecendo parcerias
Existe ainda a possibilidade de criar uma organização sem fins lucrativos em outro país. Pode ser uma alternativa caso a OSC não tenha conseguido financiamento. O processo de abertura de uma organização sem fins lucrativos é similar ao do Brasil, mas é necessário estar atento à legislação do país, ressalta o diretor-presidente da Fundação Carmem Lucia. Nesses casos é extremamente importante ter alguns contatos no país escolhido, ou ir construindo relacionamentos para isso.
Mais uma forma de conquistar apoiadores é se afiliar a grupos que são conhecidos por financiar e incentivar projetos: igrejas, rotarys, instituições de ensino superior, por exemplo.
Quem tem mais dinheiro no mundo?
Se você respondeu que são os grandes gurus da tecnologia, errou. Na verdade, quem detém grandes quantidades de dinheiro são os governos, incluindo o governo brasileiro.
Por isso, Weiss recomenda a busca por projetos e editais de agências governamentais, como USAID (Agência Internacional de Desenvolvimento dos EUA), CIDA (Agência Internacional de Desenvolvimento do Canadá) e Agência de Comércio Exterior e Desenvolvimento da Holanda, embaixadas e consulados.
As organizações multilaterais também são opções, como a Organização das Nações Unidas (ONU), União Europeia, Banco Mundial e OPAS (Organização Pan-americana de saúde).
Crowdfunding
Weiss aponta ainda para outras possibilidades de financiamento mais independentes, como o crowdfunding, em que o seu projeto é exposto em uma plataforma que pode receber dinheiro de diferentes doadores, geralmente de pessoas físicas.
Os links abaixo são de sites estrangeiros onde é possível captar recursos internacionais para os projetos sociais.
1- https://www.globalgiving.org/
2 – https://www.kickstarter.com
Orientações e inscrição em projetos
Existe uma série de sites que oferecem informações sobre editais e outras oportunidades para captação de recursos internacionais ou abertura de organizações no exterior. Listamos alguns links úteis com base nas dicas de Weiss:
Para obter consultoria e treinamento: www.nonprofitcenters.org (EUA).
Plataforma que conecta organizações sem fins lucrativos com empresas e instituições doadoras: https://candid.org (EUA).
Divulgação de editais internacionais: https://www2.fundsforngos.org (EUA).
Informações sobre instituições e oportunidades de financiamento: https://fconline.foundationcenter.org (EUA).
Já os sites a seguir são para a sua organização inscrever projetos em empresas e fundações internacionais:
Conservação de Recursos Naturais, Alimentação e Saúde
Para quem quiser aprender mais sobre o mundo da captação de recursos pode aproveitar que as inscrições para o Festival ABCR 2022 já estão abertas. Não fique de fora e garanta sua vaga com antecedência diretamente no link.