Inovação é um tema que está sempre em pauta, mas o que isso realmente significa para a captação de recursos? Durante o 4º Encontro de Comunicação e Captação de Recursos, , evento realizado pela ABCR em parceria com Rede Filantropia e Escola Aberta do Terceiro Setor, João Paulo Vergueiro, diretor do Hub GivingTuesday América Latina e Caribe, trouxe reflexões e exemplos inspiradores sobre como as organizações podem reinventar suas estratégias de arrecadação.
Para Vergueiro, inovação não precisa ser sinônimo de tecnologias futuristas ou conceitos complexos. Pode significar aprimorar o que já existe, reinventar abordagens ou até mesmo usar ferramentas simples de maneira criativa. “Inovar é construir algo novo ou melhorar algo que já existe com o objetivo de oferecer soluções ou criar valor”, completou.
Exemplos clássicos e recentes de inovação
Vergueiro apresentou casos que mostram como ideias simples podem ganhar destaque quando aliadas à criatividade e autenticidade. Um dos exemplos foi o Fusca das Freiras, do Lar da Menina de Tubarão (SC). “Todo mundo vende rifa no Brasil, mas elas trouxeram humor e uma linguagem cativante. O vídeo viralizou, foi divulgado pelo Luciano Huck, e a campanha arrecadou mais de 17 mil reais. É um ótimo exemplo de como ações tradicionais podem ser reinventadas”.
Outro exemplo foi o Desafio do Balde de Gelo, uma campanha global que arrecadou 220 milhões de dólares para a ALS Association. “Essa campanha começou com três jovens nos Estados Unidos e viralizou, mobilizando o mundo inteiro. Ela é um exemplo claro de como a simplicidade, aliada ao engajamento emocional, pode alcançar resultados extraordinários”, disse Vergueiro.
Anistia Internacional e o universo dos jogos
Entre os cases mais recentes, Vergueiro destacou o jogo criado pela Anistia Internacional da Argentina na plataforma de jogos Roblox, uma das mais populares do mundo. O jogo, intitulado “Escape to Freedom” (Fuga para a Liberdade), simula a jornada de refugiados que tentam escapar de situações de opressão e buscar segurança. “A Anistia Internacional criou esse jogo para conscientizar sobre os desafios enfrentados pelos refugiados e, ao mesmo tempo, arrecadar recursos de maneira lúdica e inovadora”, explicou Vergueiro.
No jogo, os participantes experimentam as dificuldades enfrentadas por refugiados, sendo desafiados a superar obstáculos e tomar decisões que refletem escolhas reais enfrentadas por milhões de pessoas no mundo. A experiência engaja emocionalmente e ajuda a criar empatia pela causa.
A captação de recursos acontece dentro do jogo por meio da compra de itens virtuais, como roupas para avatares e acessórios que tornam a experiência mais personalizada. “Esses itens são pagos com a moeda virtual do Roblox, e a receita gerada é revertida para a causa dos refugiados. É uma maneira inovadora de mobilizar pessoas que já estão familiarizadas com a plataforma e gostam de jogar”, disse Vergueiro.
Hospital Amaral Carvalho e os cards colecionáveis
Vergueiro destacou a iniciativa do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú (SP), que adotou uma estratégia baseada em tecnologia digital para engajar seus doadores. A organização lançou cards colecionáveis digitais, inspirados no conceito de NFTs (Tokens Não Fungíveis).
“Os doadores podem adquirir cards digitais únicos, como o que traz o mascote do hospital, um urso. Esses cards são disponibilizados em edições limitadas e podem ser usados tanto para doações diretas quanto para engajar os doadores em campanhas especiais”, explicou. Em algumas campanhas, empresas parceiras do hospital oferecem benefícios aos doadores, como cupons para sorteios.
Vergueiro ressaltou que, embora os NFTs não sejam mais uma novidade tecnológica, essa adaptação feita pelo hospital é um exemplo interessante de como elementos digitais podem ser usados para engajar comunidades e arrecadar recursos de maneira criativa.
Campanha “Blood Good Period” no Reino Unido
Vergueiro trouxe ainda o exemplo de uma organização britânica que atua no combate à pobreza menstrual, a Blood Good Period. Durante o período natalino, a organização criou uma campanha que simulava a tradição de encher meias de Natal com presentes. No caso da campanha, cada doação ia “enchendo” meias virtuais com recursos financeiros, que eram destinados à compra de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade.
“O mais interessante dessa campanha foi o impacto indireto. Além de arrecadar fundos, ela ajudou a organização a aumentar sua base de doadores regulares, passando de 6 para 200 doadores mensais em apenas um mês”, revelou Vergueiro.
Convite à ação
Para encerrar, Vergueiro fez um convite prático aos participantes, destacando que a inovação é acessível a qualquer organização, independentemente de seu porte. Ele sugeriu que as organizações aproveitem as ideias apresentadas para repensar suas estratégias e testar abordagens criativas em 2025.
“Seja criando algo novo ou reinventando o que já fazemos, temos muito espaço para inovar na captação de recursos. E, mais importante, para conectar as pessoas às causas de forma genuína e transformadora.” Ele também recomendou a plataforma Sofii.org, que reúne casos inspiradores de captação de recursos de todo o mundo.
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Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas