A venda de serviços é uma ótima estratégia para diversificar a captação de recursos. Além de ampliar o leque de métodos utilizados para manter a sustentabilidade das organizações, esse tipo de geração de receita gera recursos irrestritos, ou seja, aqueles que não estão atrelados a projetos específicos. Isso permite que a organização tenha mais autonomia e consiga manter sua estrutura e investir no seu desenvolvimento interno. Muitas vezes, as organizações não pensam na prestação de serviços como um método de arrecadação ou não possuem conhecimento de como incluí-la na estratégia de captação.
O Instituto Capim Santo (ICS), que utiliza a gastronomia como ferramenta para aumentar a inclusão social, é um bom exemplo disso. Com 11 anos de funcionamento, o ICS gerencia cinco escolas-cozinha e oferece cursos de gastronomia a pessoas em situação de vulnerabilidade com o intuito de possibilitar seu ingresso nesse mercado. O instituto decidiu criar o Buffet Social dentro do Museu das Favelas, uma nova opção de espaço para o mercado de eventos em São Paulo (SP).
Gastronomia para transformação social
O Buffet Social atende pequenos jantares e eventos e seus recursos são revertidos para o funcionamento do ICS. O serviço utiliza ingredientes da gastronomia brasileira e toda a equipe é composta por ex-alunos formados no projeto Cozinha do Amanhã, curso gratuito de quatro meses que capacita jovens para atuarem com gastronomia. Ao longo de 13 anos, o ICS formou 2000 alunos. Durante a pandemia, a entidade também começou a produzir quentinhas para combater a fome.
Atualmente, produz 800 quentinhas por dia em São Paulo (SP), que são distribuídas para organizações parceiras que atendem crianças. Neste ano,conseguiram oferecer 600 mil refeições. O ICS decidiu criar o Buffet Social após perceber que o Buffet Capim Santo, um dos mais reconhecidos do país, não conseguia atender a maioria das demandas de eventos porque possuía um ticket médio muito alto. A meta é que o Buffet Social custeie 100% das operações do ICS sem depender de financiamento externo.
“É muito difícil para nós, que somos de um projeto social, conseguir recursos financeiros livres para custear nossas operações. É um projeto muito efetivo no que se propõe: geração de renda e empregabilidade. Usamos parte do nosso conhecimento – gastronomia e eventos – para gerar essa renda que faz tanta diferença para a gente. No Buffet Social, os alunos se envolvem na produção e geram renda extra para o instituto. É um ganha ganha”, relata Luccio Oliveira, presidente do Instituto Capim Santo.
Know how transformado em geração de renda
Segundo ele, a pandemia possibilitou que o instituto realizasse uma análise interna para aprimorar seus processos de gestão e arrecadação de recursos. Dessa forma, o ICS aproveitou sua habilidade no ensino de gastronomia para pessoas em situação de vulnerabilidade e na produção de alimentos acessíveis, saudáveis, sustentáveis, nutritivos e saborosos para criar o serviço. O ICS também oferece consultorias para organizações que desejam produzir marmitas com essas características, o que é uma maneira de compartilhar conhecimento e gerar mais renda para o instituto.
“O ESG cada vez mais demanda produtos e serviços que sejam socialmente e sustentavelmente comprometidos e com uma governança muito clara. É isso que a gente traz para o mercado: um produto que tem os recursos revertidos para o instituto para gerar novas ações como formação de mão de obra e produção de quentinhas”, completa Luccio.
O Buffet Social já trabalhou com pessoas com deficiência, refugiados, mulheres vítimas de violência doméstica, pessoas trans, entre outros grupos vulnerabilizados. Um dos alunos da primeira turma, Isaías, destacou-se tanto que foi convidado para ser professor de novos alunos em São Paulo, ministrou aula na Nicarágua e chegou a cozinhar para o presidente Lula e outros presidentes da América Latina.
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Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas.
