Há 25 anos, um grupo de profissionais inquietos deu início a um movimento que transformaria a forma como a captação de recursos é entendida e praticada no Brasil. Assim nasceu a Associação Brasileira de Captadores de Recursos, com o propósito de fortalecer a atuação de quem mobiliza recursos para causas sociais, ampliar o reconhecimento da profissão e criar espaços permanentes de troca, formação e articulação política.
Hoje, a ABCR é referência nacional na defesa da captação ética e profissionalizada. Promove encontros, oferece conteúdo especializado, lidera pautas de advocacy e mantém uma comunidade ativa de profissionais em todo o país. Depois de ouvirmos ex-presidentes no especial de abertura das comemorações, agora é a vez de dar espaço a quem sustenta a ABCR no dia a dia: associados e associadas convidados a compartilhar suas histórias com a ABCR — suas entradas, viradas de chave, aprendizados e visões de futuro. As falas que reunimos aqui ajudam a contar, em primeira pessoa, o impacto e a relevância dessa rede.
Larisa Hemkemeier (ABCR 199)
Coordenadora estadual do núcleo da ABCR em Santa Catarina e uma das primeiras associadas, Larisa Hemkemeier Webber de Mello conheceu a ABCR por volta de 2008 “Desde então eu venho acompanhando as atividades e difundindo a captação de recursos para todos os cantos”. Participar da associação se tornou par ela uma estratégia de crescimento profissional. “É um grande diferencial hoje para quem participa ativamente da associação, acompanha os grupos de trabalho e, principalmente, participa do Festival da ABCR, que é um momento que traz muito conhecimento, muita interação e muito networking”.

Entre as muitas memórias construídas ao longo dessa trajetória, uma experiência marcou profundamente seu envolvimento com a ABCR. “Foi em um evento da ABCR em Guarapari (ES). Na época, o Festival da ABCR acontecia de forma itinerante e nós realizamos um prêmio de melhores práticas de captação de recursos. E ali eu pude conhecer tantas iniciativas, algo tão marcante. Acho que foi ali um momento de virada de chave para entender realmente como o meu papel como captadora de recursos poderia transformar muitas vidas e transformar muito as regiões onde a gente atua”.
Larisa destaca o papel da associação como articuladora de uma comunidade de apoio e referência para profissionais que, muitas vezes, se sentem isolados. Para o futuro da associação, ela deseja ainda mais crescimento, presença local fortalecida e mais organizações conectadas à missão da ABCR. “Que passem por algum tipo de qualificação, de treinamento, de orientação e que assim possam desenvolver realmente seu trabalho e captar muito recurso”.
Ulla Ribeiro (ABCR 328)
A sergipana Ulla Ribeiro conheceu a ABCR quando começou a fazer cursos na área e ter contato com pessoas envolvidas na associação, como Marcelo Estraviz e João Paulo Vergueiro. A partir dessa aproximação, sua atuação ganhou novos contornos. “O que mudou na minha trajetória foi justamente essa visão de profissionalização, de valorização (…) Fomento isso nas organizações onde oportunizo algo e também junto ao terceiro setor em Sergipe”.
Ulla conta que o reconhecimento da profissão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) foi um marco importante e que um momento especial para ela foi a oportunidade de palestrar no Festival ABCR e compartilhar sua experiência com os participantes. Ela acredita que a associação tem um papel fundamental na valorização profissional e na promoção de políticas que reconheçam sua importância e uma remuneração adequada. “Infelizmente ainda existe a ideia de que o profissional da captação não deve ser bem remunerado”, lamenta.

Ulla destaca ainda a importância do trabalho de base, que alcance os estados e municípios. “Acredito muito na regionalização da ABCR. (…) A informação precisa ser acessível e uma das formas que a ABCR faz isso é através dos grupos de trabalho”, avalia a captadora, que espera ver a associação oferecendo cada vez oportunidades de capacitação para profissionais que estão fora de São Paulo e não conseguem participar de encontros presenciais, assim como já está acontecendo com a iniciativa de edital de bolsas para o Festival ABCR.
Rosana Pereira (ABCR 383)
A trajetória de Rosana Pereira com a ABCR começou em 2009. Na época, já atuava como captadora de recursos e, ao descobrir a associação, sentiu-se imediatamente conectada à causa. “Em 2009 soube da existência da ABCR, foi puro encantamento (…) Desde então já fui por vários anos da Comissão Científica, Comissão Eleitoral, mentora, palestrante, além de ter participado de ações voluntárias que permitiram ser reconhecida no mundo da captação, mas o que mais levo desta história são os amigos que me acompanham desde então”.

Para ela, um momento marcante foi a ABCR se tornou membro da Rede de Parcerias de Contratualizações do Governo Federal. “Uma grande oportunidade de participar da gestão de recursos federais, com pauta nas políticas públicas”. Para os próximos anos, Rosana deseja que a ABCR continue cumprindo um papel estruturante para o setor. “Que continue moldando, modificando, valorizando e oportunizando o progresso da captação de recursos para as OSCs”.
Rafael Vargas Lara (ABCR 1332)
A trajetória de Rafael Vargas Lara com a ABCR começa em 2010, mas sua relação com a captação de recursos é ainda mais antiga. Em 2006, uma guinada profissional o levou a iniciar um caminho que, nas palavras dele, “se transformou em paixão e propósito”. Morando em Porto Velho (RO), encontrou na ABCR uma referência, mesmo à distância. “Comecei a fazer parte de movimentos, a construir pontes, a conhecer e aprender com uma das maiores referências do setor, o presidente da época, Marcelo Estraviz, um verdadeiro articulador da nossa profissão”.
Em 2015, Rafael viveu seu primeiro Festival ABCR presencial, experiência que descreve como transformadora. “Ali, senti que minha profissão ganhava corpo, cor, alma. E aquilo tudo, aquela conexão humana, mudou minha chave completamente”. A participação no Festival marcou o início de um envolvimento cada vez mais ativo: organizou caravanas, integrou chapas para o Conselho Deliberativo, apresentou o Festival ao lado de colegas e recebeu lideranças do setor em sua cidade. Em 2025, celebra dez anos de participação no evento e 19 anos de atuação na área. “Essa jornada com a ABCR é, sem dúvida, uma poesia de resistência, de afeto e de crescimento constante — um orgulho que ecoa em cada conquista e em cada novo horizonte que vislumbro com esperança”.

Rafael enxerga a ABCR como uma plataforma estratégica para o fortalecimento da profissão. “Ela atua como um espaço de aprendizado, promovendo a troca de boas práticas, experiências e tendências, fortalecendo a capacitação técnica e profissional dos captores de recursos”. Destaca também o acolhimento como marca da associação, especialmente para quem atua fora dos grandes centros. Ao projetar o futuro, deseja que a ABCR continue sendo uma ponte entre diferentes regiões, promovendo diversidade, inovação e diálogo com o poder público. “Que a ABCR seja sempre esta ferramenta para a construção de um Brasil, onde a captação de recursos seja uma ferramenta de transformação social efetiva e acessível a todos”.
Rachel Carneiro (ABCR 4805)
Rachel Carneiro trabalha na área social desde o início dos anos 2000. Sua entrada nesse universo se deu pela elaboração de um projeto voltado à inclusão de pessoas com deficiência na escola. Quando o financiamento público que sustentava a iniciativa chegou ao fim, Rachel compreendeu o quanto a captação de recursos era estratégica e pouco valorizada. Anos depois, ao assumir a área de desenvolvimento institucional de um grande instituto, decidiu aprofundar ainda mais seus conhecimentos e encontrou na ABCR uma possibilidade de conexão e profissionalização.
Ela reconhece que o maior valor da associação está na convivência entre pares. “Conhecer outras pessoas que já faziam isso, ou hoje que fazem isso, ter trocas, compreender as dores, entender as soluções que cada um encontrou… esse espaço de convivência e troca, para mim, de verdade, é o que mudou na minha carreira. (…) Isso me ajudou a amadurecer enquanto captadora de recursos, me ajudou a questionar qual é o papel da captação de recursos para as organizações, mas para a sociedade de uma forma geral, e hoje eu tenho isso muito bem resolvido”.

Quando perguntada sobre o momento mais marcante que viveu junto à ABCR, Rachel afirma ter sido o reconhecimento da profissão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Ela contribui com a ABCR há anos: já integrou o Comitê Científico do Festival ABCR por cinco edições e hoje lidera o Grupo Temático de Captação para Desenvolvimento Institucional. Acredita que a associação tem potencial para também liderar esse debate. “Gostaria de ver a captação para o desenvolvimento institucional cada vez mais representada na pauta da ABCR, porque é isso que traz, de fato, a sustentabilidade econômico-financeira das organizações sociais (…) Captar para projeto não resolve o nosso cenário”, conclui.
Mais de 700 associados
Os relatos reunidos aqui mostram que a história da ABCR é feita, todos os dias, por quem acredita no poder da mobilização para transformar realidades. Com mais de 700 associados e associadas em todo o país, a ABCR é sustentada por uma rede diversa e as histórias compartilhadas neste especial representam apenas uma pequena amostra desse coletivo — trajetórias que inspiram e reafirmam o valor de uma rede que segue crescendo com quem escolheu fazer da captação de recursos uma ferramenta de mudança social.