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Ética na captação de recursos: não é detalhe, é DNA

Por Carla da Nóbrega

Há 25 anos, um grupo de captadores de recursos decidiu fazer história — e eu também estava lá. Inspirados pelo movimento de profissionalização do terceiro setor no Brasil e no mundo, entendemos que, se quiséssemos respeito, impacto e sustentabilidade, precisaríamos começar pela base: valores claros, conduta profissional e compromisso público.

Assim nasceu a ABCR e, junto com ela, o nosso Código de Ética. Não foi um gesto simbólico. Foi uma escolha estratégica, baseada em exemplos como o da Association of Fundraising Professionals (AFP), nos Estados Unidos. A ideia era simples (mas poderosa): quem capta recursos carrega o nome, a missão e a esperança de uma organização. E isso exige responsabilidade em cada passo.

Era mais do que um manual de conduta: era, e continua sendo, um compromisso com a missão social.

Ética na captação: uma construção coletiva

Muita gente ainda acha que a responsabilidade ética é só do captador. E não é. A ética na captação depende de todo o ecossistema: profissionais, organizações, voluntários, parceiros, financiadores e até do público que se beneficia dos projetos.

E onde a ética aparece no dia a dia?

  • No compromisso com a causa
    Identidade real com a missão e conhecimento profundo dos projetos.
  • Na conduta profissional
    Abordar, pedir, negociar, prestar contas — tudo com seriedade e respeito.
    Pontualidade é ética. Ouvir é ética. Palavra dada é palavra cumprida. Cada interação, do primeiro contato ao relatório final, constrói a nossa credibilidade.
  • Na escolha das parcerias
    Não basta captar: é preciso alinhar valores.
    Nem todo convite é uma boa ideia. Saber dizer “não” também é ético.
  • Nas relações humanas
    Ética também é sobre como nos relacionamos — com equipe, voluntários, parceiros e outras OSCs. Colaboração deve vir antes da competição.
  • No uso responsável dos recursos
    Captar é lindo. Aplicar corretamente é ainda mais bonito.
  • Na geração de renda com propósito
    Negócios sociais? Sim, desde que a missão venha primeiro.
  • No impacto social
    Mostrar resultados é obrigatório. Dinheiro de doação e dinheiro público exigem transparência, metas claras e impactos demonstráveis.

Celebrar os 25 anos da ABCR é lembrar que a ética nunca foi moda. Mas foi e sempre será a nossa bússola. Captação de recursos é, antes de tudo, um ato de fé: acreditamos que podemos mudar o mundo, uma doação de cada vez. E a ética é o que garante que essa mudança seja para melhor — para todos.

Para terminar, deixo Carlos Drummond de Andrade soprar um pouco de poesia nesta conversa: 

“O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.

Que a nossa liberdade de captar seja um compromisso coletivo de responsabilidade social. Vamos seguir em frente, caminhando juntos, com coragem, resiliência e determinação. E que venham muitos outros 25 anos — sempre com parceria, criatividade e ética no coração.

Carla da Nóbrega é consultora, fundadora da ABCR e membra do comitê gestor do Instituto Museu da Pessoa. E-mail para contato: carla@mobilizaconsultoria.com.br

Este post tem um comentário

  1. GLAUCO LIMA

    Excelente reflexão!
    Muito obrigado por dividir aqui Carla.
    Abraço,
    Glauco Lima

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