No momento, você está visualizando Gestão de dados nas OSCs: como proteger a privacidade dos doadores no ambiente digital

Gestão de dados nas OSCs: como proteger a privacidade dos doadores no ambiente digital

O crescimento das doações digitais no Brasil — impulsionado pelo uso do PIX, QR Codes e plataformas on-line — transformou a relação entre doadores e organizações da sociedade civil (OSCs). Se por um lado a tecnologia facilitou o repasse de recursos, por outro ela elevou a exigência por segurança, transparência e boas práticas na gestão de dados pessoais. Em 2025, a gestão ética dessas informações se tornou essencial para manter relações de confiança, prevenir riscos legais e fortalecer institucionalmente as organizações.

Mudanças na cultura de doação exigem mudanças na cultura organizacional

A consolidação do PIX como meio de doação é apenas um dos sinais da digitalização da generosidade no país. Plataformas on-line, sistemas de CRM (gestão de relacionamento com doadores), landing pages personalizadas e campanhas por WhatsApp ou redes sociais já fazem parte do cotidiano de muitas OSCs. Esses recursos ampliam o alcance das campanhas, mas também exigem uma gestão de dados responsável e segura.

“As organizações precisam encarar a proteção de dados não apenas como uma exigência legal, mas como uma dimensão da própria ética institucional”, afirma o guia A Lei Geral de Proteção de Dados e a Captação de Recursos – Perguntas e Respostas, publicado pela ABCR em parceria com o escritório KLA Advogados. O documento lembra que qualquer tratamento de dados — inclusive coleta, armazenamento e uso para envio de mensagens ou gestão de base de doadores — precisa estar sustentado por uma base legal adequada, como o consentimento ou o legítimo interesse.

Boas práticas exigem processos

A LGPD é clara ao estabelecer os direitos dos titulares (no caso, os doadores) e os deveres das organizações. Mas, passados quase cinco anos de sua entrada em vigor, ainda é preciso lembrar que práticas como coleta excessiva de dados nos formulários de doação, falta de política de privacidade no site, compartilhamento informal de listas de contatos ou disparo de e-mails não estão em conformidade. E não há sistema que corrija a falta de cultura organizacional voltada à privacidade.

Confira dez boas práticas para a gestão de dados:

  1. Política de privacidade clara e visível: publique um documento acessível em seu site e materiais de comunicação explicando que dados são coletados, com que finalidade, por quanto tempo serão armazenados e se serão compartilhados. Use uma linguagem simples.
  2. Consentimento informado: obtenha autorização explícita para uso de dados pessoais. Evite caixas pré-marcadas em formulários e explique de forma objetiva o que será feito com as informações.
  3. Segurança da informação:  implemente boas práticas de segurança digital, como criptografia, autenticação em dois fatores e controle de acesso. Manter os dados seguros é parte central da gestão de dados.
  4. Minimização de dados: colete apenas as informações realmente necessárias para a finalidade da campanha. Dados básicos geralmente são suficientes.
  5. Revisão e limpeza da base de dados: crie rotinas para revisar periodicamente cadastros, remover duplicidades, corrigir erros e excluir registros desnecessários.
  6. Respeito às preferências dos doadores: permita que o doador escolha com que frequência deseja receber comunicações e por quais canais. Sempre inclua uma opção de descadastramento.
  7. Treinamento da equipe: promova formações periódicas para que todos compreendam a importância da proteção de dados e saibam agir corretamente diante de dúvidas e incidentes.
  8. Regras de armazenamento e descarte: estabeleça prazos para guarda de dados e formas seguras de eliminação, como uso de ferramentas que garantam a destruição definitiva das informações.
  9. Auditorias e diagnósticos regulares: revise políticas internas, monitore vulnerabilidades e corrija falhas. Isso ajuda a prevenir riscos legais e fortalecer a governança.
  10. Transparência ativa: comunique abertamente aos doadores como seus dados estão sendo usados e o que está sendo feito para garantir a segurança dessas informações. Isso reforça a confiança e o engajamento.

Evoluir é mais do que cumprir a lei: é respeitar quem doa

O guia publicado pela ABCR lembra que a ética na gestão de dados não deve ser vista apenas como cumprimento da LGPD, mas como um valor institucional. Ao proteger dados pessoais, as OSCs demonstram respeito por quem apoia suas causas e se colocam em posição de destaque para firmar parcerias, acessar recursos internacionais e fortalecer sua sustentabilidade. Organizações que demonstram responsabilidade na gestão de dados estão mais preparadas para acessar recursos internacionais, firmar parcerias com empresas e atrair doadores recorrentes. 

“Um projeto de adequação é composto por etapas que visam não só entender e justificar o  tratamento de dados realizado, mas também em promover uma cultura de privacidade  dentro das organizações, o que é valorizado por pessoas cada vez mais conscientes acerca  da importância e valor de seus dados pessoais. A legitimação das bases de dados e a  harmonização das finalidades às bases legais adequadas, permite que as organizações  estejam preparadas para atender os direitos dos titulares bem como permite um maior  aproveitamento dos dados e, por consequência, um melhor resultado em seus objetivos”, indica o documento.

Leia também: Cultura de Dados beneficia tomada de decisão nas organizações

Deixe um comentário