Dando continuidade à série de entrevistas com ex-presidentes da ABCR, em celebração aos 25 anos da instituição, conversamos com João Paulo Vergueiro, mais conhecido como JP, o quarto presidente da associação, que esteve à frente da entidade entre 2012 e 2015 e depois voltou como diretor executivo. Durante sua gestão, Vergueiro liderou iniciativas importantes que consolidaram a ABCR como uma referência no setor e lançou o movimento Dia de Doar no Brasil, que se tornou um marco na filantropia nacional.
Vergueiro assumiu a presidência da ABCR em um momento de crescimento e transição, sucedendo uma gestão de seis anos liderada por Marcelo Estraviz. “Eu assumi a liderança após seis anos de gestão do Marcelo e equipe, que tinham feito um grande trabalho alavancando a instituição com o lançamento de iniciativas como o Festival ABCR, os Núcleos Regionais e o boletim semanal de notícias”, relembra João Paulo. Ele destaca que, quando assumiu, a ABCR já estava estruturada em termos de governança e organização. “Nosso papel foi dar continuidade ao trabalho que estava sendo bem feito e preparar a próxima fase de crescimento da ABCR”.
Durante os três anos de sua presidência, Vergueiro foi responsável por expandir e consolidar diversas iniciativas. Uma das principais foi o fortalecimento do Festival ABCR, que inicialmente era itinerante, com edições realizadas em São Paulo, Salvador e no Espírito Santo. “Nós consolidamos e fizemos crescer o Festival ABCR. Entregamos a primeira edição da nova série com o evento sendo realizado em São Paulo”, conta.
Além disso, João Paulo liderou a entrada da ABCR em um movimento global de grande relevância: o GivingTuesday, que no Brasil passou a ser conhecido como Dia de Doar. “Passamos a representar o Brasil no movimento GivingTuesday, e fizemos o Dia de Doar se desenvolver e ampliar o seu alcance por todo o país”, destaca ele. Essa iniciativa ajudou a disseminar a cultura de doação no Brasil, impactando milhares de organizações e doadores ao longo dos anos.
No entanto, a mudança mais significativa durante sua gestão foi a reforma na governança da ABCR. João Paulo liderou o processo de transformação da diretoria executiva voluntária em um Conselho Deliberativo, permitindo que a ABCR contratasse seu primeiro diretor executivo profissional. “Nós atualizamos a governança e o Estatuto da ABCR, e isso permitiu que a associação seguisse crescendo e se profissionalizando como instituição de representação e fortalecimento do setor”.
Quinta edição do Festival, realizada na Bahia em 2013
Sexta edição do Festival, realizada no Espírito Santo em 2014
Sétima edição do Festival, realizada em São Paulo em 2015
Apesar das conquistas, a gestão de Vergueiro também enfrentou desafios, principalmente relacionados à estrutura financeira da ABCR. “Naquela época, a ABCR não tinha ainda uma estrutura financeira sólida. Não tínhamos orçamento e plano de trabalho anuais, nossa receita recorrente era muito baixa e o Festival não dava lucro para financiar a instituição”.
Outro desafio foi a própria composição da diretoria, que era formada por representantes de várias regiões do Brasil. “Tivemos um desafio interessante, que foi ter representantes de outros lugares do país, não apenas de São Paulo. Isso fez com que precisássemos trabalhar mais virtualmente”, relembra.
Um dos momentos mais memoráveis para João Paulo Vergueiro foi a liderança do Dia de Doar no Brasil. “Pela ABCR, divulgamos a primeira edição do GivingTuesday, realizada nos Estados Unidos em 2012. Em 2013, pedimos para trazê-la para o Brasil e, em 2014, fomos reconhecidos como representantes e passamos a fazer parte da rede internacional”.
Outro momento marcante foi sua participação no Festival ABCR de 2014, em Guarapari, no Espírito Santo, que coincidiu com a assinatura da lei do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC). “Foi uma loucura! Precisei sair no meio do Festival, ir para Brasília para prestigiar a cerimônia e depois voltar ao Espírito Santo para encontrar colegas e minha família”, conta.
Ao olhar para trás, João Paulo reflete sobre a transformação da ABCR desde seu mandato até os dias atuais. “Mudou completamente. Hoje, a ABCR é uma organização estabelecida, estruturada financeiramente e na sua governança, reconhecida pelos pares e pelos próprios profissionais de captação de recursos”, afirma. Ele também destaca o reconhecimento da captação como uma profissão oficial na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), uma antiga demanda do setor que foi alcançada nos anos seguintes à sua gestão.
Além disso, Vergueiro ressalta o impacto crescente do Festival ABCR e do Dia de Doar no setor. “O Festival ABCR está na agenda de todo o setor sem fins lucrativos e o Dia de Doar faz parte do cronograma anual de captação de milhares de instituições pelo país”, comemora.
Quanto ao futuro da ABCR, JP é otimista. Ele acredita que a associação continuará a crescer e a consolidar sua importância como representante dos profissionais de captação de recursos no Brasil. “Espero que a ABCR cresça e se consolide cada vez mais como uma instituição que fala em nome das milhões de pessoas que atuam todos os dias por um mundo melhor, trabalhando dentro das instituições sem fins lucrativos”.
Para as futuras lideranças da ABCR, JP dá um conselho claro: nunca perder o foco na característica associativa da organização. “Sigam trabalhando pelo crescimento da base de membros, que gera receita recorrente livre, e não percam de vista as ações de incidência política que fazemos em nome do setor, pois elas contribuem não somente para o fortalecimento da filantropia, mas também para o trabalho individual de cada captador e captadora”.
Ao final da entrevista, João Paulo deixa uma mensagem inspiradora aos atuais membros da ABCR: “Doem! A ABCR não é apenas sobre captação de recursos, é também sobre construir uma sociedade em que as pessoas reconhecem a importância das organizações sem fins lucrativos e buscam um mundo melhor junto com elas. Por isso nós doamos – e quem capta tem que doar!”.
Veja também as outras entrevistas da série: Custódio Pereira e Marcelo Estraviz