A associada da ABCR Karina Isoton, captadora da AACD no Rio Grande do Sul, participou, nos dias 11 e 12 deste mês, em Chicago, nos Estados Unidos, de um evento que debateu a ciência da doação: Conferência Anual de Iniciativa à Ciência da Filantropia. O tema do evento este ano foi “Explorando a Ciência e a Arte da Filantropia”. Confira abaixo as principais observações da Karina sobre o evento, escritas a convite da ABCR:
Nos dias 11 e 12 de setembro foi realizado, na universidade de Chicago, a 3º Conferência Anual de Iniciativa à Ciência da Filantropia, com o tema: “Explorando a Ciência e a Arte da Filantropia”.
Foram dois dias de imersão nas mais diferentes linhas de pesquisas apresentadas por acadêmicos de universidades norte-americanas, inglesas, alemãs, canadenses e de outros países. O intuito dos pesquisadores foi mostrar a importância da iniciação científica como pilar estratégico para o entendimento de muitas dúvidas ainda existentes em uma área tão vasta e ao mesmo tempo desconhecida – pelo menos para o Brasil – que é a da filantropia.
Dentre os vários assuntos abordados ficou explícita a importância em dar atenção especial ao indivíduo* que doa. Tal fato se deve por considerá-lo um ator que vem ascendendo e se tornando influente na manutenção de grande parte das ações filantrópicas espalhadas pelo mundo, mas que ainda é pouco explorado. Quanto mais interesse demonstra em doar, maior a tendência em se tornar um indivíduo exigente; independente da quantia ofertada. Por isso, o assunto vem sendo tratado de forma delicada e com respeito, levando em consideração um cenário que sofre constantes variações econômicas, colocando em alerta amarelo qualquer perspectiva de crescimento e possível perda desse doador.
A seguir, algumas colocações feitas ao longo da conferência, e que considerei relevantes para compartilhar:
– As pessoas se sentem bem quando realizam uma doação, e esse “brilho” do doar aumenta quando convidam outras pessoas para se juntar a uma boa causa;
– As pessoas não gostam de se sentir enganadas. Por isso, é importante deixar claro para os novos doadores que seus recursos serão utilizados no propósito apresentado, e não em qualquer outra atividade indiscriminada. Prestar contas é sempre muito importante porque demonstra clareza e credibilidade no trabalho realizado;
– Quem doa gosta de ser reconhecido por outras pessoas pelo ato de ter realizado e/ou realizar uma doação. Muitas vezes a doação de um indivíduo poderá influenciar a doação de outros;
– As pessoas gostam de ter opções, então é importante dar a elas no mínimo duas escolhas para doação. Esse item serve tanto para quantias valorativas quanto para as áreas de interesse (educação, saúde, alimentação, etc). Quem doa precisa saber onde o seu recurso será aplicado;
– Atentar para a forma como as campanhas influenciam o indivíduo. Um exemplo muito utilizado foi o do Balde de Gelo para arrecadar fundos para pessoas com Esclerose Múltipla Amiotrófica. Foi uma ação que “contaminou” o mundo, pois aconteceu sem grandes investimentos em campanhas publicitárias, mas que obteve um retorno financeiro estrondoso, além de espalhar informações acerca de uma doença degenerativa que merece atenção da comunidade como um todo;
– Porque o rico doa menos ou a mesma coisa que um não rico? Esse fato pode estar relacionado a questão do rico estar fazendo simplesmente uma doação e o não rico por se identificar com a causa;
– É preciso haver um trabalho forte dentro de casa. A educação filantrópica passa de pai para filho, sendo assim, se tornarão indivíduos que respeitarão as diferenças.
– Cada foco de atuação merece uma comunicação diferenciada. Misturar as áreas de atuação na mesma informação pode confundir o possível doador, que irá se distrair e perder o interesse em continuar a leitura e consequentemente doar.
Com base nas pesquisas realizadas pelos acadêmicos, os tópicos acima refletem alguns dos muitos resultados obtidos em varias regiões dos Estados Unidos, Europa e África. Dessas amostragens coletadas foram geradas fórmulas para melhorar a compreensão das respostas obtidas por meio de entrevistas feitas com indivíduos doadores e não doadores.
Em suma, os pesquisadores defendem a ideia de que podem contribuir – e muito – com o cenário filantrópico mundial por meio de análises cientificas. Dessa forma, pretendem ajudar as organizações não governamentais a encontrarem respostas para as várias ações que a princípio poderiam gerar retorno significativo, mas que se demonstrou um fracasso, ou mesmo resultados pouco palpáveis.
Imaginem se para o cenário norte-americano e mesmo europeu há dúvidas quanto a maneira como a filantropia é exposta em seus países, quem dirá em um país como o Brasil, que ainda engatinha na área da captação de recursos. Mas como todo conhecimento é válido, ficam aqui as minhas memórias do evento e espero que tenha auxiliado vocês de alguma forma. Vamos manter a esperança de que o Brasil caminhará rumo ao progresso educacional e cultural da filantropia. Dessa forma, todos só teremos a ganhar, ajudando a quem mais precisa.
*Por indivíduo entende-se, também, Fundações administradas e mantidas por grandes empresários como Bill & Melinda Gates, Warren Buffett, etc.
Karina Isoton
kisoton1@gmail.com
Link do evento: http://spihub.org/events/conferences.