Dentre os candidatos para a categoria Fundraiser Global (Captador de Recursos Global), do Mobiliza – Prêmio Brasileiro de Captação, quem ficou em primeiro lugar foi Luis Fernando Donadio, Coordenador do Escritório de Captação da Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ. Donadio, como é carinhosamente conhecido, atua na área de 2006 e foi responsável por estruturar o setor de mobilização de recursos dentro da FIOCRUZ. Conheça a história dele.
Atuo como coordenador do escritório de captação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição que tem como objetivo promover a saúde e o desenvolvimento social, gerar e difundir conhecimento científico e tecnológico e ser um agente da cidadania. Estes são os conceitos que pautam a atuação da Fiocruz, vinculada ao Ministério da Saúde, a mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina.
Minha carreira de captador de recursos começou no ano de 2006, período em que terminava um MBA em Gestão Cultural e atuava como assistente de projetos no Museu da Vida, espaço de divulgação científica da Fiocruz. A tese do MBA dissertava sobre o potencial de captação para Museus de Ciências no Brasil e, ao terminá-la, tive o desejo de aplicar a conceituação acadêmica na prática de uma realidade vivenciada diariamente. Depois de muita solicitação, recebi de minha chefia à época autorização para ter como projeto piloto de captação uma iniciativa do Museu da Vida, chamada: Ciência Móvel.
Era uma grande carreta de divulgação científica que percorreria o interior do país, mas que estava subutilizada por falta de recursos. Abracei a oportunidade e, depois de um ano, chegamos ao nosso primeiro R$ 1 milhão captados para o projeto. A partir deste ponto, o processo não parou. A chefia de então me convidou para implantar um escritório de captação a fim de atender as demandas do Museu da Vida, e os resultados vieram. Fui então convidado para implantar o mesmo escritório para as demandas da Unidade (o Museu da Vida é um de cinco departamentos da Unidade), e os resultados vieram. Fui, então, convidado pela presidência para implantar o mesmo escritório para as demandas Fiocruz (a unidade na qual trabalhava é uma de 16 outras unidades da Fiocruz). E os resultados continuaram vindo.
Em minha opinião, a inovação foi convencer e comprovar o potencial de captação de alguns dos projetos desenvolvidos pela Fiocruz. A inovação foi conseguir quebrar com a lógica das captações apadrinhadas por agentes externos, que vinham e iam sem nenhum compromisso institucional, fazendo os projetos crerem que dependiam das relações desses contatos para acontecerem. Mas considero que a principal inovação tenha sido a experiência de implantar, em uma instituição centenária, um processo profissionalizado de captação, para projetos que antes não se viabilizavam pela falta de recursos e parcerias.
Neste tempo de atuação, tinha quatro objetivos: implantar e consolidar um escritório de captação que não dependesse de alguém, mas que se tornasse um processo estruturante e continuado, com a chegada e saída de pessoas; desenvolver uma metodologia operacional para o trabalho de captação; fomentar internamente a cultura pela busca de parcerias aos projetos desenvolvidos; dar visibilidade externa ao portfólio de projetos da instituição, abertos a parcerias.
No ano em que me propus a começar este projeto, tudo o que eu dispunha como apoio era o meu próprio ânimo. Não fui contrato como captador para iniciar uma experiência de captação; continuei a receber o mesmo salário, equivalente à época ao de um assistente administrativo, não tinha uma equipe, uma mesa, telefone ou mesmo um computador dedicado a este trabalho. O que recebi foi uma oportunidade para praticar meus conteúdos teóricos em um dos projetos do Museu da Vida. E assim o fiz por 12 meses, até que os resultados começaram aparecer e não mais pararam. Hoje, já contratado como coordenador de captação da Fiocruz, coordeno uma área diretamente ligada à presidência da Instituição, com oito profissionais, verbas necessárias, e em pleno processo de expansão.
O crescimento dos anos iniciais foi vertiginoso: da experiência de captação do primeiro projeto, passando pela fase inicial de implantação do escritório, até o desdobramento em diversas outras captações. Porém, mesmo com os bons resultados dos anos iniciais, média de R$ 2 milhões/ano, eu continuava trabalhando sozinho, não porque desejasse, mas por conta da grande resistência institucional para novas contratações. A alternativa que me surgiu foi a de receber servidores que estivessem “vagando”, à procura de algum setor para se alocarem. Dediquei-me então a desenvolver um plano de capacitação, com encontros semanais sobre captação. E eles aprenderam a captar. Em seguida, passei a fazer encontros mensais para o aprofundamento das questões pertinentes à nossa metodologia de trabalho ( Elaboração de Plano de Captação, Projeto de Venda, Analise prospectiva etc ).
O maior desafio, sem dúvida, foram os entraves políticos. Captação não era algo em nossa agenda institucional até então, logo, as doses de desânimo nos anos iniciais foram muitas. Falta de espaço, estrutura, verba, remuneração. Para o futuro me dedico a estruturar uma área de captação que funcione independentemente das pessoas que passem por ali. Dedico-me a consolidar um modelo estruturado, que siga processos de captação sistematizados, onde cada projeto cumpra um ciclo de vida, independente de que o esteja à frente do mesmo.