A segunda edição do Censo ABCR, único mapeamento dos profissionais que atuam no terceiro setor brasileiro com captação, mobilização de recursos e desenvolvimento institucional, mostrou que eles continuam otimistas em relação ao futuro de seu ofício, tal como do setor.
Nos questionários coletados por meio de pesquisa online, os respondentes apontaram uma crescente apreciação de seu trabalho em organizações sociais, como indica o recorte especial desta edição.
Nesse sentido, embora ainda existam desafios para a captação de recursos, muitas vezes não reconhecida como área, os profissionais afirmaram que não são insulares. Recebem suporte das demais áreas-chave da organização (Diretoria, Comunicação, Financeiro etc.), tal como são convidados por estas a participarem dos planejamentos estratégicos das instituições.
Perfil
De acordo com o levantamento, os profissionais não são tão jovens, sendo a maioria (30%) acima de 50 anos, seguidos empatados (24%) pelo respondentes entre 31 e 40 anos, e 31 e 40 anos. Grande parte deles formada em áreas exatas, como Administração e Economia (38% e 11%, respectivamente), apesar de o número graduado em Serviço Social (9%) e Comunicação Social (7%) seja significativo.
No entanto, chama a atenção que, embora a faixa-etária pareça elevada, eles ainda são jovens captadores, em relação ao tempo de atuação no setor. Somados, cerca 72% dos respondentes não têm 10 anos de trabalho na área.
Isso pode ser explicado pelo contexto brasileiro e o boom de organizações sociais no final dos anos de 1990 até meados da década de 2000. Nesse período, o setor social brasileiro passou por um grande período de profissionalização, levando a uma especialização de seus colaboradores. Um processo que é relativamente novo no Brasil.
Ainda de acordo com os respondentes, a maioria trabalha no Sudeste, em especial São Paulo (22%), seguido por Nordeste e Sul do país.
Competitividade
Apesar do otimismo em relação ao cenário do captador, esses profissionais ainda apresentam certa dificuldade em se corresponder com seus pares. Mais da metade (53%) avalia de forma insatisfatória a troca de informação e experiência entre eles. Mais: cerca de 30% desse número acredita que existe uma alta concorrência profissional.
Recorte
O levantamento considerou quatro formas de prestação de trabalho dos profissionais. São elas:
1. É funcionário (CLT, RPA, PJ etc.) de uma organização da sociedade civil? – 47%
2. É consultor de captação de recursos, ou trabalha em uma empresa que presta serviços de captação? – 41%
3. Trabalha para um órgão público? – 5,45%
4. É produtor Cultural – 5,45%
Neste ponto, o Censo fez um recorte apenas sobre os profissionais que integram o organograma de organizações sociais.
Atuação – Eles trabalham majoritariamente em instituições com atuação em Assistência Social (39%), Cultura (33%), Saúde (27%) e Educação (15%), que acompanham temas tradicionais brasileiros, por seus problemas sociais, incentivos fiscais para essas áreas específicas e investimento social do setor privado.
Tempo – Sobre o trabalho nessas organizações, a carga-horária chama a atenção: cerca de 27% dizem trabalhar menos de 10 horas por semana. A pequena dedicação pode ser justificada pela alegada falta de institucionalização da área (de 30%), o que faz o profissional não ser exclusivo para captação.
Comparativamente, o número daqueles que trabalham entre 30 a 40 horas (24,4%) acompanha o percentual dos que afirmaram que organização da qual é funcionário possui uma área específica (26%).
De forma positiva, 23% dos respondentes afirmam que são profissionais que começaram recentemente a assumir uma função de captador, concomitante à criação da área na organização.
Remuneração – A maioria dos profissionais tem registro em carteira (72%), exclusivamente com remuneração fixa pré-combinada. Apenas dois respondentes indicaram receber alguma forma de remuneração variável, como bonificação por meio de resultados ou proporcional ao volume captado.
Rendimentos -De maneira geral, as diferenças sobre quanto um captador de recursos (Júnior, Pleno e Sênior) deve ganhar não sofreram mudanças significativas em relação ao Censo de 2013. O que não deixa de ser curioso, já que no ano passado a questão foi aberta e, em 2014, foi exclusiva para quem é funcionário de uma OSC.
Nos dois anos, a maioria dos respondentes acredita que profissionais em início de início de carreira (1 a 5 anos) deveriam receber entre R$2 mil a R$5 mil, o Pleno (5 a 10 anos), de R$4 mil a R$8 mil e o Sênior (acima de 10 anos), mais de R$10 mil, como remuneração líquida.
Envolvimento – A maioria dos respondentes se diz apoiados por áreas-chave da organização (Diretoria, Comunicação e Marketing, Projetos, Financeiro), tal como no planejamento da organização (Planejamento Estratégico, Gestão e Elaboração de Projetos, Planejamento e Acompanhamento Financeiro). Isso mostra que, pelo menos, o profissional não é satélite na organização,
Empecilhos – Em uma das poucas respostas discursivas do questionário, os associados ABCR expuseram uma série de motivos que dificultam a captação de recursos. Embora a falta de uma legislação que incentive a doação no país seja um tópico frequente, há também uma insatisfação dos respondentes com relação à:
– Informação sobre a captação/mobilização de recursos;
– Formação de profissionais na área;
– Falta de cultura de captação nas organizações;
– Falta de uma gestão institucional, em especial sobre transparência e planejamento.
Atualização – Sobre a formação contínua desse profissional, além de meios de comunicação e conhecimento mais autodidatas (sites, livros, revistas), a maioria tem interesse por eventos (75%) e cursos (63%), o que mostra que ele circula e investe em sua educação especializada.
Porém, chama a atenção também o baixo número que se envolve em grupos de interesse e afinidade (5%), sugerindo que trabalho em rede ainda não é uma realidade para a maioria. Dado que pode também ser creditado às questões sobre competitividade no setor, já mencionadas.
Otimismo
Apesar dos desafios impostos no contexto atual, há uma avaliação otimista sobre cenário brasileiro para a atuação do profissional e da captação de recursos no Brasil. Cerca de 77% deles acreditam que é positivo com boas a muitas oportunidades, contra 20% que considera estável, sem muitas mudanças.
Embora o número seja relativamente inferior ao Censo de 2013 (pouco mais de 80% de otimismo), naquele ano havia um número maior de respostas alertando para um cenário negativo (10%), muito acima dos 3% deste ano.
As tabelas com todos os resultados serão publicados no site e Boletim da ABCR nas próximas semanas.
Informações e entrevistas sobre o Censo ABCR podem ser solicitadas no e-mail abcr@captacao.org. O Censo contou com o apoio da SurveyMonkey no Brasil.