“Sociedade em Movimento: Captar para Transformar” mostrou-se um tema mais do que oportuno para a edição do Festival ABCR 2018, ano em que completa 10 anos de história. Em uma perspectiva histórica, que indicou uma jornada pelo desenvolvimento do captador e sustentabilidade de causas, as falas da abertura valorizaram a memória dessa década, olhando para o futuro, com as mudanças do presente.
Realizada na AMCHAM, em Säo Paulo, na noite do dia 06 de junho, o início oficial das atividades foi animado pela dupla Eduardo Filho e Rafael Vargas, em uma dinâmica que demonstrava que, no fim, todos são protagonistas na importäncia do evento.
“O Festival ABCR cresceu muito, em número e diversidade porque nosso desafio é grande e só pode ser feito por todos”, afirmou a presidente do Conselho Deliberativo da ABCR, Márcia Woods, em um momento que homenageou membros do conselho científico, que voluntariamente definem a programação do Festival, em especial o trabalho de Flávia Lang, pioneira nesse trabalho.
Rumo a 2050
A palestra do polivalente Marcelo Estraviz, fundador da ABCR e criador do Festival, hoje, radicado na Espanha, deu início a parte menos protocolar do evento. Avesso a formalidades, ele ainda brincou com a obrigatoriedade de falar do passado. Mas foi enfático:
“Essa é uma grande família, que começou pequenininha. Queríamos que pessoas se encontrassem e por isso preferimos Festival ao conceito de Congresso. Um coffee break contínuo e uma programação aberta a todos. Apesar da profissionalização durante todos esses anos, o festival se mantém fiel à sua ideia inicial, mas cada vez melhor.”
Provocador nato, atiçou a plateia sobre o trabalho do captador com a mudança de paradigma social, ambiental e político que se projeta ao futuro. Com foco em 2050, usou como exemplo a evolução médica para a cura do câncer, renda básica universal (eliminando a pobreza) e a democracia direta (em lugar à democracia representativa).
“Vocês concordam que nosso objetivo é a nossa extinção? O exercício de olhar para frente, para o futuro, pode ser fundamental para darmos essa reviravolta, essa mudança que a gente quer para o mundo”, refletiu.
Lembrando do tema da revolução francesa, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, Estraviz discorreu um pouco sobre a luta com o enfoque os dois primeiros conceitos, no cotidiano dos movimentos. E colocou como sua contribuição ao evento mostrar que é a fraternidade o elemento que soma e elimina as diferenças dos outros dois, tão diversos — a partir da fraternidade unir coisas que parecem impossíveis de unir.
Nosso tipo de trabalhamos a fraternidade de forma meio caótica. Mas o que seria de nós se trabalhássemos de forma organizada? Uma fraternidade estratégica, como um conjunto de ação que olha para o lado e considera o outro livre e igual?”, questionou.
Premiação
Um dos momentos altos e esperados da noite foi a entrega do Prêmio ABCR 2018 que celebrou os principais destaques do campo da captação. Consagrada como Organização do Ano, a Brazil Foundation levou o troféu pela campanha realizada em 2017, Abraço Brasil, que envolveu 4 mil doadores em 13 países, arrecadando mais de R$ 1 milhão
“Se esse prêmio é para a melhor organização, ela é formada por um grupo de pessoas”, bem lembrou Patrícia Lobaccaro, agradecendo a sua equipe e as organizações que fizeram parte da iniciativa vitoriosa.
Em seguida, foi entregue o prêmio de Captadora do Ano à italiana Giuseppina Maria Fulco, da Associação Casa Família Rosetta (Rondônia), organização que atende pessoas com deficiëncia neurológica e com dependência química. “Me encontrei na atividade de captação de recursos, que me realiza profissionalmente, pessoalmente, porque a gente assume isso como uma missão de vida”.
Já o prêmio de Captador Emérito foi entregue para Rene Steuer, um dos fundadores da ABCR. “Vivemos um momento difícil no nosso país. Mas não vamos nos abater. Ergamos nossas cabeça e vamos continuar a captar recursos para as causas que defendemos”, disse em uma mensagem inspiradora.
Quebrando o protocolo, a conselheira da ABCR, Ana Flávia Godoi, em nome da organização fez uma homenagem ao seu diretor executivo João Paulo Vergueiro, com um prêmio de reconhecimento ao trabalho, não apenas a ABCR, mas sua dedicação à causa. “A gente, de fato, não faz nada, não transforma a sociedade, não muda o mundo se a gente não atua como dedicação, com amor, na defesa do que a gente acredita, pelas causas”, celebrou Vergueiro.
A hora dos malucos
Para encerrar a noite, o Festival promoveu uma palestra com Bill Toliver, presidente do Conselho da Resource Alliance. Embora o tema fosse Abraçando um “Novo Ecossistema para o Impacto Social”, o americano mostrou-se disruptivo e disruptor. Provocou a audiëncia a repensar o seu próprio trabalho, implodindo zonas de conforto.
“O que temos que fazer para assegurar que a história siga na direção certa?”, foi uma das muitas questões que fez a plateia. Irônico, usou um tom mais jocoso para colocar em perspectiva a crença e a atitude do captador. “Vocës são sensatos ou inovadores? São gestores de audiência ou constróem confiança? Você está entre os líderes do setor ou dos revolucionários? ”
E é justamente entre o que chama de revolucionários está uma ideia importante da fala de Toliver. Transformações requer renascimento e para isso ocorrer é necessário uma ruptura de um cotidiano marcada por crenças do que se supõe certo. “O que se tornou tão habitual que começou a ser considerado sagrado, e como deixamos isso para trás?”
Oportunidades e soluções, segundo ele, não vem do mainstream. Vem da ousadia de poucos loucos, que têm coragem de pensar diferente. Se quiserem ser realmente agentes de mudança, e não vítimas nela, talvez os participantes tenham que pensar que a vez seja dos malucos, com pequenas, mas brilhantes ideias longe dos medos e receios de fazer errado.