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Causas não populares: veja como captar com sucesso

Captar recursos no Brasil não é tarefa fácil. E a dificuldade pode ser maior quando o tema encontra resistência em parte da sociedade. A solução: saber quem são as pessoas que simpatizam com sua causa e focar nelas.

Pesquisa Doação Brasil, do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), mostrou que saúde (40%), crianças (36%) e combate à fome e à pobreza (29%) são os assuntos que mais sensibilizam os entrevistados. Ao mesmo tempo, sabe-se que outras áreas têm menos adeptos e maior rejeição – como é o caso dos direitos dos presos.

“Não é porque sua organização não trabalha com causas populares que você não conseguirá ter sucesso na captação”, diz Flávia Lang, fundadora da consultoria Ader&Lang, especializada em terceiro setor. “Não existe causa que não capte. Há, sim, aquelas que atingem um público menor.” A receita, então, é foco.

Fundo Brasil de Direitos Humanos mobiliza recursos para direitos de povos indígenas e garantia de justiça criminal, entre outras áreas. Débora Borges, assessora de relacionamento com a sociedade da instituição, reconhece: “Há causas mais complexas mesmo, como cotas raciais. O importante é identificar, na gama de apoiadores, quem já está sensibilizado com um tema difícil.”

Flávia exemplifica: “Se você trabalha com aborto e está inserido em uma comunidade católica, pode haver problemas ao captar. Uma dica: ver o perfil de quem responde positivamente a suas postagens em redes sociais. Quem são essas pessoas?”

O que não funciona, segundo a consultora, é replicar o modelo de outras instituições. “Tem organização que trata de um assunto específico, mas quer captar como a Médicos sem Fronteiras. Não adianta ir atrás de recursos sem conhecer seu potencial doador.”

A busca não precisa se concentrar em pessoas físicas. Convém diversificar: “Você precisa encontrar a estrutura que melhor garanta sua sustentabilidade. Pode ser apenas com indivíduos, mas pode ter também pessoa jurídica, governo, organização internacional…”

Comunicação

Se o número de apoiadores dificilmente será grande, torna-se importante que sejam fiéis. “Para isso, o relacionamento é essencial: tem de mantê-los ativos”, destaca Flávia.

A comunicação assume, então, papel crucial. As vezes, para mostrar que a resistência do público está relacionada a desconhecimento. “Uma campanha apontou que certas pessoas apoiavam causas de direitos humanos, mas não quando essas causas estivessem explicitamente identificadas como tal. Precisa de um trabalho de desmistificação”, avalia Flávia.

Para Débora, um dos desafios é deixar claro que, mesmo sensível, o assunto está de algum modo ligado a todas as pessoas. “Há dificuldade de alguns setores em entender que defender certos direitos também implica melhorar sua vida. Questões sobre o sistema prisional, por exemplo, são urgentes, mas tem quem não veja que lá estão pessoas.”

De qualquer modo, prepare-se para críticas, sobretudo nas redes sociais. “Não é porque a organização recebeu 50 comentários negativos que tem de achar que está errada. A Anistia Internacional faz muito bem isto: lança campanhas polêmicas, mas tem braço para trabalhar com esses temas”, diz Flávia.

O momento político conturbado pode ser uma oportunidade, segundo Débora: “Estamos num cenário de ameaças de retrocessos em direitos humanos. As pessoas se sensibilizam diante desses recuos. Talvez seja hora de tentar engajar.”

Ela cita três grupos que se fortaleceram muito nos últimos tempos: feministas, juventude negra e LGBT. “Eles se tornaram mais visíveis para a sociedade em geral, mas há muitas décadas lutam por suas questões. Chegaram aonde estão em razão de alguns fatores, como anos de luta e a maior visibilidade proporcionada pela internet.”