O mercado de captação de recursos está bastante aquecido, mas falta sofisticação na elaboração das oportunidades de trabalho por parte dos contratantes. A avaliação é de Rodrigo Alvarez, sócio-diretor da Mobiliza Consultoria, especializada no desenho de estratégias de mobilização de recursos e de filantropia colaborativa para investidores sociais e organizações da sociedade civil.
“Existe muita demanda para contratar profissionais de captação de recursos, mas, por outro lado, há uma necessidade de sofisticar a contratação. As vagas são muito genéricas, as organizações precisam de recursos e têm a expectativa de que uma pessoa vai resolver todos os problemas. Falta clareza, por exemplo, uma organização de Direitos Humanos geralmente tem mais possibilidade de adquirir recursos com financiadores internacionais. O profissional contratado precisa falar e escrever em inglês e ter outras habilidades”, afirma.
A ABCR estima que existam 50 mil captadores de recursos no Brasil, considerando contratados e voluntários, e que atuam pelas 815 mil organizações da sociedade civil brasileiras (IBGE, 2021). Entre fevereiro de 2019 e junho de 2022, 412 vagas foram publicadas no site da associação, o equivalente a uma vaga a cada três dias, revela um levantamento realizado pela Mobiliza Consultoria. Em relação à distribuição de funções, 46% eram para analistas, 24% para coordenação, 12% para assistentes e 5% para gerência ou direção. Somente 14% dos empregadores mostravam o salário, que registrou uma média de R$ 4.380, variando entre R$ 1.258 a R$ 15.000.
De acordo com a análise da Mobiliza, 65% dos candidatos eram mulheres e 75% das vagas eram dirigidas à gerência e à coordenação. Houve uma média de 39 candidatos por vaga em processos seletivos com posições superiores à coordenação. Já nas vagas para analista, a média era de 12 candidatos por vaga. A consultoria constatou também que vagas com maior tempo de experiência podem atrair o triplo ou mais de candidatos e que as posições em São Paulo e no Rio de Janeiro conquistam aproximadamente o dobro de pessoas. Algumas estratégias para despertar a atenção dos candidatos são a publicação de vagas, headhunting e indicações de pessoas-chave do setor.
Embora exista um amplo leque de funções dentro da captação de recursos, Rodrigo ressalta que há características importantes para o perfil desses profissionais: “Em primeiro lugar, deve existir o compromisso com a transformação social. Isso é essencial para qualquer captador: acreditar naquilo que está fazendo porque não dá para vender o que não compramos. Em segundo lugar, o captador precisa ter a capacidade de fazer pontes entre a realidade da organização e a do mercado, aptidão para a escuta da realidade institucional e para traduzir isso na conexão com os interesses dos doadores. Esse é um perfil transversal para qualquer profissional da área”.
Do ponto de vista técnico, segundo ele, as vagas demandam profissionais com conhecimentos de gestão, planejamento, indicadores e controle financeiro. Normalmente, são pessoas com formação nas áreas de Administração, Comunicação, Relações Públicas e Relações Internacionais. Ele acrescenta que existe uma carência de profissionais com uma trajetória consistente na captação com pessoas físicas: “Percebemos que existem muitas pessoas interessadas na captação, mas aquela com indivíduos precisa de uma qualificação mais elaborada. É preciso entender de Marketing Direto, Marketing Digital, público-alvo, persona e são poucas pessoas com experiência robusta nisso. É desejável também que os captadores sejam filiados à ABCR”.
As denominadas soft skills (competências comportamentais) são cada vez mais valorizadas e são especialmente relevantes para profissionais que desejam se destacar no mercado. Entre elas, estão a capacidade de comunicação, autonomia, criatividade, habilidade para resolução de problemas, autoconhecimento e bom relacionamento interpessoal. O aperfeiçoamento dessas competências se reflete nos resultados do profissional, aprimorando o impacto causado pela organização onde ele está inserido.
Outros aspectos inestimáveis são a formação continuada, networking e a atualização constante. Segundo Rodrigo, existem inúmeros cursos nacionais e internacionais para aprofundar os conhecimentos dos captadores. Os captadores também precisam se manter atualizados sobre o mercado de trabalho, novas ferramentas, tecnologias e participar de eventos, como congressos e festivais. “É preciso participar sempre de redes, ficar atento aos eventos públicos que acontecem, participar da ABCR, do Movimento pela Cultura de Doação, acompanhar movimentos e discussões sobre captação de recursos, filantropia e investimento social privado, fazer networking. É necessário conhecer pessoas e ser conhecido, além de se atualizar constantemente, seja participando de eventos e cursos nacionais ou internacionais’, diz.
Rodrigo recomenda também que os profissionais sejam pacientes e diminuam a rotatividade entre as instituições, com a finalidade de construir uma trajetória dentro de cada organização. “O melhor termômetro da empregabilidade de um profissional é o resultado e não ficar pulando de galho em galho. Vemos muito isso na geração Z, é uma geração sem paciência para ficar um ou dois anos no mesmo lugar. A pessoa que sempre busca uma nova vaga não constrói um histórico dentro de uma organização”, finaliza.
Em 2021, a profissão de captador/mobilizador de recursos foi incluída na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Conheça a história de quem já tem a profissão registrada na carteira de trabalho.
Texto publicado pela Captamos, editoria da ABCR de conteúdos aprofundados sobre mobilização de recursos para causas.